Às vezes, enquanto estou scrollando até os calabouços do tédio no Instagram, aparece no meu feed uma postagem sobre o baixo número de assistências de Rodrigo Garro no Corinthians. Aí, quando se clica no vídeo, vem a resposta pretendida pelo post: uma série de finalizações erradas de Yuri Alberto após assistências do camisa 10 argentino. Trata-se de uma piada, de uma sacanagem com o atacante, que faz lá seus gols (são 17 na temporada), mas também desperdiça um bocado. Só que há um fundo de verdade no chiste: se dependesse de Garro, a situação do Corinthians seria outra.
Neste sábado, na vitória por 3 a 0 sobre o Atlético-GO, estávamos todos atentos à estreia de Memphis Depay, maior contratação do Timão nos últimos anos. Quem roubou a cena foi Ángel Romero, com dois gols. E Rodrigo Garro? Deu a assistência, em cobrança de escanteio, para o paraguaio abrir o placar, quando o jogo começava a se desenhar dramático para o Corinthians. E fechou o marcador, após linda jogada de Igor Coronado. Garro tem cinco gols e cinco assistências no Campeonato Brasileiro.
São números importantes: significam que ele participou diretamente de dez dos 26 gols do Corinthians na competição – 38,5% do total. Mas também são números que dizem pouco sobre o desempenho do argentino. Acontece que a maior importância de Garro está em seu comportamento em campo. O Corinthians é um gigante se debatendo contra o rebaixamento em idos do segundo turno. E o argentino consegue driblar isso. Enquanto boa parte do time fica cega pela pressão do momento, Garro mantém a clarividência que se espera de um camisa 10; enquanto o time acelera o jogo em busca de alguma solução urgente, Garro respira, pensa.
Sem ser um supercraque, sem ser genial, é ele que mantém a sanidade do time. A empolgação com a chegada de Memphis (e de Carrillo) tem a ver também com Garro. O meia passa a ter novas opções de qualidade para distribuir suas assistências e seguir ajudando o Corinthians a evitar o rebaixamento. Se o Timão não cair, e acredito que não cairá, terá sido, em boa medida, por causa de Rodrigo Garro, um dos melhores meias do Campeonato Brasileiro.