Não está nem aí para o debate sobre fair play financeiro aquele torcedor do Corinthians que volta do trabalho, se equilibrando dentro do ônibus, e dá um jeito de procurar gols de Memphis Depay no YouTube - visto que nada mais importa. Pouco liga para planilhas, balancetes ou superávits aquele torcedor do Corinthians que abre o Google e exige respostas: quando Depay vai estrear, quantos gols tem Depay, quantos títulos Depay conquistou. É uma loucura o Corinthians contratar Depay. Mas lá tem um bando de louco. E nesta sexta-feira, no dia da contratação mais bombástica do ano no futebol brasileiro, o corintiano tem o direito de ser feliz. Este é um embate entre a razão e a emoção. Qualquer faísca de bom senso traz consigo a lembrança de que não se compra um carro de luxo quando não se consegue pagar a conta de luz. O que o Corinthians, um clube altamente endividado, está fazendo é uma irresponsabilidade - mesmo que parte dos R$ 70 milhões envolvidos na transação seja bancada pela patrocinadora do clube. Esse é o argumento da razão, que também nos lembra que algumas das contratações mais importantes do futebol brasileiro nos últimos anos foram grandes fracassos - vide Daniel Alves e James Rodríguez no São Paulo. Mas o Grêmio teve Luís Suárez. E, antes disso, o próprio Corinthians teve Ronaldo - ou, ainda antes, Tévez. Não é uma fórmula matemática. Memphis Depay é muito bom jogador. Tende a sobrar no futebol brasileiro. Vai ser bom deixar a razão de lado em alguns momentos e vê-lo jogar no Brasil. Vai ser divertido. A questão é o custo disso (não só para o Corinthians, mas para esse momento de transformação por aqui). No fim das contas, a contratação é a cara do futebol brasileiro. Depay não está sendo contratado porque o treinador viu encaixe no modelo de jogo, o departamento de análise avalizou e os departamentos de marketing e de finanças viram potencial de retorno econômico. Depay está sendo contratado para evitar um rebaixamento e um impeachment. É uma medida populista da diretoria de um clube em crise. E isso deve ser lembrado por nós, os chatos da ponderação, enquanto tentamos evitar o pensamento de como seria ter Depay jogando em nossos times.