Exatos 237 dias depois de tomar posse como presidente do Corinthians, Augusto Melo foi alvo de um pedido de impeachment por conselheiros do clube. O requerimento vinha sendo gestado nos bastidores do Parque São Jorge há semanas e agita ainda mais o já conturbado ambiente alvinegro. Embora se baseie em argumentos jurídicos, o processo de impeachment é essencialmente político. Para que o presidente deixe o cargo é preciso aprovação de maioria não apenas dos conselheiros do Corinthians, mas também dos sócios do clube. Aliados e opositores de Augusto Melo concordam que ele perdeu força nestes quase oito meses de gestão.
Xadrez político O pedido de impeachment, com mais de 90 assinaturas, é uma demonstração de força da oposição, mas não significa que este grupo tenha maioria no Conselho do clube atualmente. O requerimento apresentado na última segunda-feira conta com assinatura de membros de quatro das oito chapas eleitas para o Conselho. Todas elas apoiaram André Luis Oliveira, o André Negão, na última eleição. Ou seja: até o momento, não houve traições ou debandada da base aliada de Augusto Melo. Os adversários são os mesmos de outrora. É sabido que o presidente perdeu o apoio de grupos que estiveram com ele na eleição, como o Movimento Corinthians Grande, formado por ex-diretores que entregaram os cargos nos últimos meses.
Poder de barganha Embora enfraquecido, Augusto Melo ainda tem cartas na marga. O poder presidencial pode ser utilizado para atrair novos aliados políticos e até mesmo acalmar membros da oposição. O último processo de impeachment no Corinthians ajuda a exemplificar isso. Em 2017, Roberto de Andrade conseguiu se livrar do pedido de destituição e seguir no cargo após atender interesses políticos, nomeando diretores e assessores. O departamento de base e a secretaria geral fizeram parte da articulação. Augusto Melo tem cargos a oferecer, entre eles a "joia da coroa", a diretoria de futebol , vaga desde maio, quando Rubens Gomes, o Rubão, foi tirado do posto.
Futebol é decisivo Embora o desempenho do time de futebol masculino não seja um dos argumentos para o pedido de impeachment de Augusto Melo, quem conhece os bastidores do clube minimamente sabe: o que acontece em campo tem relação direta com os desdobramentos políticos. A tentativa de tirar o presidente do cargo ocorre em um momento crucial da temporada.
Polícia Os desdobramentos do inquérito sobre a intermediação do contrato de patrocínio da VaideBet também exercerão papel crucial no processo de impeachment de Augusto Melo. Até mesmo apoiadores do presidente admitem que a permanência dele ficará insustentável caso apareçam provas cabais de que ele participou ou tinha conhecimento de ilegalidades na negociação. O contrato também é tema de investigação na Comissão de Ética do clube, que entende ser necessário aguardar os desdobramentos da investigação policial antes de adotar medidas internas contra os envolvidos.
Próximos passos Apresentado na secretaria do Conselho Deliberativo na última segunda, o pedido de impeachment ainda não foi acatado pelo presidente do órgão, Romeu Tuma Júnior. A tendência é que ele aceite a solicitação e encaminhe o caso para a Comissão de Ética, mas anexe este processo à investigação sobre o contrato da VaideBet. Com isso, a tramitação do caso pode levar mais tempo. Romeu Tuma Júnior deve decidir sobre o assunto ainda nesta semana. Só então será possível saber o rito que será seguido. Independentemente do caminho a ser seguido, uma coisa é certa: Augusto Melo está pressionado e não terá vida fácil para seguir no comando do Corinthians até 31 de dezembro de 2026.