O ex-atacante Guilherme, que fez sucesso em Atlético-MG e Corinthians no início dos anos 2000, assumiu o Água Santa como técnico na reta final da fase de grupos da Série D. Ele tem como objetivo principal subir para terceira divisão do futebol nacional com o clube de Diadema e se firmar de vez como "Rei do Acesso" – há poucos meses, levou o modesto Velo Clube, de Rio Claro, à elite do Campeonato Paulista. Em entrevista exclusiva ao ge , Guilherme contou que sua maior inspiração como treinador é Telê Santana, por quem foi comandado quando jogou pelo São Paulo no início da sua carreira. – Foi um cara que marcou muito. Eu aprendi muito com ele, principalmente fora de campo, me ajudou muito nessa questão. Ele dava muitos conselhos, principalmente aos mais jovens. – Ele era um cara extremamente exigente, um cara que cobrava muito nos treinamentos, principalmente na parte técnica. A parte técnica do atleta era uma coisa que ele não abria mão. Guilherme surgiu para o futebol em 1992 atuando pelo Marília, clube da cidade em que nasceu no interior paulista. No ano seguinte, o atacante chamou a atenção de Telê Santana e foi contratado pelo São Paulo. Ele integrou o elenco que foi campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes em 1993. Mesmo tão jovem, Guilherme pôde conviver com Telê na fase mais vitoriosa do técnico. Hoje, treinador, ele diz que ainda carrega características que aprendeu no dia a dia com o ídolo do São Paulo, como a dedicação à parte técnica e as correções durante os treinamentos. Nos treinos, Guilherme gosta de calçar as chuteiras e ter momentos para orientar individualmente seus atletas. Depois de defender o clube paulista, Guilherme foi contratado pelo Rayo Vallecano em 1994. Ele considera que a ida à Europa foi importante para sua formação como treinador, sobretudo pelo desenvolvimento tático. – É uma mudança muito grande em relação a treinamentos, saio daqui muito jovem, mas acostumado aos trabalhos de coletivos. Eu tinha 19 anos e aí há uma mudança de cultura, principalmente em termos de treinamentos, muito grande. Essa situação de campos reduzidos eu peguei em 1994, quando eu chego na Espanha. – A gente já via coisas ali que chegaram no Brasil depois de muitos anos. De 94 a 97 joguei o Campeonato Espanhol com alguns treinadores. Eu tive um que me marcou muito, que foi o Marcos Alonso, foram bons tempos no Rayo Vallecano.
Fase iluminada Para Guilherme, seus melhores momentos como jogador foram pelo Rayo, na Europa, e pelo Atlético-MG, no Brasil. O ex-atacante vestiu a camisa do Galo de 1999 a 2003, clube pelo qual foi artilheiro do Brasileirão e chegou à Seleção. O camisa 7 do Galo marcou 28 gols em 27 jogos no Campeonato Brasileiro de 1999. O time foi finalista, mas nem mesmo os três gols do artilheiro no primeiro jogo da final contra o Corinthians foram suficientes para o título do Galo, que perdeu o segundo jogo e empatou o terceiro, decretando o título corintiano. Guilherme jogou seis jogos pela Seleção Brasileira. Foram dois jogos em 2000, válidos pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, e quatro na Copa América de 2001, competição em que ele marcou seu único gol com a canarinho – o primeiro da vitória do Brasil por 2 a 0 sobre o Peru. Depois desses jogos, Guilherme não teve mais chances na Seleção. O ex-atacante atribui o fato à concorrência pesada: – Ser convocado naquela época, principalmente atacante, era Romário, Edmundo, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, fora os que ficaram fora, né? Jardel, Elber, Sony Anderson. Aquela época era bastante complicada. Eu só cheguei na Seleção porque realmente meu momento no Atlético Mineiro era absurdo. Guilherme confessou que "até torcia para os caras", porque sabia que atletas como Romário e Ronaldo estavam em outra prateleira do futebol mundial. Ele afirmou que desde que os nomes da sua geração se aposentaram não há mais ninguém parecido no Brasil. E declarou que jogaria "com certeza absoluta" na Seleção atual. Como jogador, o ex-atacante passou por clubes de destaque como São Paulo, Rayo Vallecano, Grêmio, Vasco, Corinthians, Cruzeiro e Botafogo e se aposentou de forma precoce aos 31 anos em 2005. – Eu parei de jogar porque as lesões começaram a aparecer e porque eu não levava uma vida que um atleta deveria levar. Na verdade, eu nunca tive uma lesão séria, não tenho nenhuma cirurgia, nunca tive problema de joelho, mas em 2004 no Cruzeiro uma lesão muscular que era para recuperar em três semanas a minha demorava quatro, cinco. Conforto em meio ao caos Não demorou muito para Guilherme voltar ao futebol.
Depois de passar um tempo dedicado à família, ele começou um estágio na comissão técnica do Marília em 2007, mesmo clube que o lançou como jogador. Guilherme chegou a ser auxiliar do MAC, mas ainda rodou por estágios em Atlético-MG, Cruzeiro e São Paulo antes de decidir seguir a carreira de treinador. Ele treinou clubes de divisões inferiores do futebol nacional, como Ipatinga-MG, Vila Nova-GO, Linense-SP, Portuguesa-SP e Paysandu-PA. Seus principais trabalhos foram as passagens pelo Marília, a sequência no Grêmio Novorizontino e o comando do Velo Clube. Pelo Marília, Guilherme foi vice-campeão da Copa Paulista em duas oportunidades: 2020 e 2022. No Novorizontino, ele foi campeão da Série A3 do Paulistão em 2014 e no ano seguinte conseguiu o acesso à elite do futebol paulista, quando foi vice-campeão da A2. Em 2024, o técnico assumiu o Velo Clube no meio do Campeonato Paulista da Série A2 e venceu o título do campeonato. A conquista improvável do time de Rio Claro garantiu a equipe na primeira divisão do futebol paulista em 2025. O Velo se classificou em 7º para o mata-mata e bateu equipes com mais investimento no mata-mata: São José, Juventus e Noroeste. – Era azarão. Não tenho problema de falar – conta o treinador. O técnico acertou com o Velo Clube para a disputa na elite do Paulistão em 2025, mas foi contratado pelo Água Santa depois da saída do técnico Bruno Pivetti no meio da Série D de 2024.
Ele chega ao time de Diadema com a bagagem de ser um treinador com experiência em acessos e jogos eliminatórios. Apesar disso, o Água Santa ainda não está garantido na fase eliminatória da Série D. No momento, o time ocupa a 5ª colocação do Grupo 7, com 19 pontos, e precisa vencer na última rodada da fase de grupos, além de torcer por tropeços dos adversários para avançar ao mata-mata. – É um time altamente técnico, experiente, que é candidato à classificação e, classificando, o Água Santa é um candidato ao acesso. A missão do Guilherme é subir o Netuno de divisão e, se a classificação para as fases finais se concretizar, ele sabe o que pode enfrentar. – No mata-mata você tem que entender o adversário, entender onde você vai jogar, você tem que ver tudo, porque jogar aqui no Inamar [Estádio do Água Santa], nós vamos de uma maneira muito parecida contra qualquer equipe. Nós temos um campo muito bom e o nosso time é um time técnico, então nós vamos propor o jogo independentemente contra quem seja. Apesar da confiança no time que assumiu, o treinador entende que é necessário se adaptar às condições que a competição entrega. – De repente, você vai pegar um time no mata-mata que o jogo fora te incapacita de ter o controle técnico da partida o tempo todo, porque o campo é ruim, então você tem que ter outras outras saídas.
Abel também é inspiração Guilherme afirma que valoriza a competitividade e o poder mental de uma equipe. O treinador tem o trabalho de Abel Ferreira, multicampeão pelo Palmeiras, como referência no Brasil. – A mentalidade de resiliência que ele conseguiu implementar no Palmeiras é um absurdo. Poder mental é uma coisa absurda do Abel Ferreira. Tem muita gente que fala que o time do Palmeiras não joga bonito. Agora você quer mais bonito que um time competitivo igual esse, que não desiste nunca? Isso pra mim é bonito. Em um cenário ideal, Guilherme se define como um treinador que gosta de propor o jogo. – Não gosto de jogar de forma reativa, não gosto de trazer o adversário para dentro do meu campo [...] Só que uma coisa é quando você forma seu elenco e outra coisa é quando você pega um elenco já formado. Guilherme desembarcou ao clube de Diadema com o elenco já formado e o campeonato em disputa, mas a oportunidade de dirigir um clube com a estrutura do Água Santa pesou para a decisão do treinador.
Ele falei não para dois times da Série C e fechei com um time de Série D, mas não tem comparação a projeção da Água Santa com as equipes que fizeram proposta. O treinador declarou que deve permanecer até o fim da Série D e garantiu que irá retornar ao Velo Clube, clube em que conquistou o principal título da sua carreira, para disputar a Série A1 do Paulistão em 2025. Para ele, seus dois compromissos ativos não tiram o foco do seu trabalho. – Deus não dá nada para gente carregar que a gente não aguente. E eu penso muito nisso e estou muito focado aqui. Esse acesso para nós é muito importante, para mim é muito importante, para o pessoal que trabalha aqui e para o clube é muito importante. Segundo Guilherme, o Água Santa chegou a oferecer um contrato até dezembro de 2025 no dia da assinatura, mas o treinador preferiu não abrir mão das suas convicções. – Qualquer um pegaria um ano e meio de contrato com o Água Santa. 99% assinariam o contrato naquela hora [...] Essa questão é simples, eu tenho um contrato que tem multa rescisória, ponto. E não dá nem para pensar nisso agora. Guilherme relatou que não tem grandes planos para o futuro da sua carreira. Ele prefere seguir as oportunidades profissionais que lhe agradam no mundo dinâmico do futebol. – Eu não sou um cara de fazer tudo por emprego, eu não me seguro no emprego fazendo o que as pessoas querem que eu faça. Quando eu erro, pode ter certeza que é com as minhas opções. Eu estou onde eu quero estar. E a escolha do treinador foi assumir o Água Santa, com o objetivo de conquistar o acesso à Série C com o clube de Diadema. Depois de pendurar as chuteiras, Guilherme até fez participações e trabalhou em programas esportivos como comentarista, mas a rotina como treinador tem uma particularidade fundamental para ele. – Eu me sinto muito bem no caos, é uma coisa absurda. Eu volto para a confusão de ter que ganhar jogo a cada sete dias ou três dias. E é em meio ao caos que o Água Santa encara o Patrocinense na última partida da fase de grupos da Série D. O Netuno tem 19 pontos, um a menos que os concorrentes diretos Santo André e Costa Rica -MS – os dois têm 20. O time de Diadema tem que vencer o último colocado do grupo e torcer por tropeços dos adversários. O Costa Rica-MS enfrenta o São José, que já está eliminado, e o Santo André pega o Maringá, líder disparado do grupo. O Água Santa passa se vencer e um dos dois times vacilarem. Neste cenário, o Costa Rica-MS deve perder, ou o Santo André deve empatar ou perder. *Colaborou sob supervisão de Diego Ribeiro