Quando a fase é ruim, nem a sorte ajuda. A frase anterior pode resumir a noite de segunda-feira do Corinthians no Allianz Parque. O time de António Oliveira competia contra uma equipe melhor e até incomodava, mas um lance de azar mudou todo panorama a favor do Palmeiras, que venceu por 2 a 0 e afundou o Timão na zona de rebaixamento do Brasileirão. O lance citado ocorreu aos 7 minutos da segunda etapa. Raphael Veiga cobrou falta rasteira, e a bola desviou na cabeça de Fabinho, que se abaixou para escapar da trajetória. A cabeçada quase tocando na grama tirou qualquer ação de Matheus Donelli e desequilibrou as ações. Nova falha em uma bola parada no Dérbi, com cruzamento forte na primeira trave, gerou a desvantagem final que desmobilizou todo o planejamento para a etapa complementar. Nem a expulsão de Raphael Veiga, na metade do segundo tempo, fez a diferença para o Corinthians voltar ao jogo.
O fator sorte citado neste texto serve para mostrar que até neste ponto há uma diferença grande entre Corinthians e Palmeiras. Porém, atribuir a derrota somente ao azar do lance do primeiro gol seria raso demais. O Corinthians perdeu pela sétima vez para o Palmeiras de Abel Ferreira por possuir limitações que nem os desfalques do arquirrival compensam. O alviverde tinha uma dupla de zaga formada pelos jovens Naves (22) e Vitor Reis (18), que, em uma equipe organizada e formada há tempos, nem sentiram o peso da partida.
O Timão fez um primeiro tempo competitivo e dentro do próprio alcance. Desde os primeiros minutos, a equipe esfriava o jogo e tentava evitar a conhecida pressão do Palmeiras no Allianz Parque. Deu certo: a marcação evitava que a bola chegasse com real perigo ao gol de Matheus Donelli. Do outro lado do campo, o escape com Wesley reaparecia depois de algumas rodadas. O jovem atacante terminou como o principal destaque do Dérbi no primeiro tempo e ocasionou o lance de principal perigo, com uma jogada individual que parou nas mãos de Weverton.
Porém, apenas competir não basta. O Palmeiras desde o princípio tinha mais volume e presença ofensiva, mesmo com ausências fundamentais de Endrick, Rony e Lázaro. No lado alviverde, saem peças, mas a organização fica: fruto de um trabalho longevo, algo que há tempos não existe no Corinthians. Esta diferença fez o Palmeiras, que voltou mais agressivo dos vestiários, aproveitar a sorte para assegurar o resultado.
Em um espaço de quatro minutos, Fabinho, com um desvio incomum de cabeça quase no nível da grama, e Vitor Reis, aproveitando bola parada, anotaram os gols da vitória. Ali, o clássico se definiu. O Corinthians chegou a criar chances, como em lance perdido por Hugo entre os gols do Palmeiras e em outro de Yuri Alberto, quando já estava 2 a 0. Era pouco, reflexo de um elenco curto, limitado e em um momento de questionamentos de todo um trabalho de comissão técnica, que ainda não tem nem seis meses. Do outro lado, um trabalho de anos permite-se a um time, mesmo com um jogador a menos, ter o controle do jogo.
O Corinthians aumentou a presença no campo de ataque com a expulsão de Raphael Veiga, mas sem a riqueza de movimentos para realmente incomodar, ameaçar uma vitória construída naturalmente. Nestas horas, até a sorte serve para exemplificar a diferença entre um Palmeiras organizado, dentro e fora de campo, contra um Corinthians bagunçado fora do campo e frágil dentro das quatro linhas. É raro ver uma diferença tão grande entre os dois grandes rivais paulistanos.