António Oliveira não esconde mais a discordância com as promessas públicas feitas pelo presidente Augusto Melo para torcedores na última semana. O compromisso feito pelo dirigente sobre a chegada de quatro reforços de peso não caiu bem entre jogadores e comissão técnica. Soma-se a isso as seguidas notícias do clube que não possuem ligação com o futebol, como a investigação do caso do pagamento de comissão no contrato da ex-patrocinadora. O extracampo começa a refletir diretamente no desempenho dos atletas nos treinos e jogos. Na quinta-feira, torcedores invadiram o CT Joaquim Grava, mas jogadores e comissão técnica estavam de folga, e também a sede do Parque São Jorge, conseguindo pressionar o presidente Augusto Melo. Na coletiva após o empate contra o Cuiabá, pelo Brasileirão, António diversas vezes deixou claro o incômodo com as situações extracampo e com as funções que tem exercido no clube além de treinar e pensar na evolução da equipe dentro de campo. – Realmente tem sido um trabalho árduo, que tem sido apaixonante, mas não pensava que tinha que fazer tanta coisa que fosse para além daquilo que fosse a minha competência técnica – disse António. O recado é claro e evidencia uma desorganização que tem deixado o treinador cada vez mais insatisfeito. Neste momento, o departamento de futebol do Corinthians se resume apenas a Fabinho Soldado, executivo que concentra todos os assuntos do departamento. As saídas de Rubens Gomes e Fernando Alba enfraqueceram o contato diário entre António e Augusto Melo, já que o presidente tem ficado mais no Parque São Jorge na tentativa de organizar o clube administrativamente depois de inúmeras mudanças. Pessoas próximas a Augusto Melo, contudo, defendem a postura do presidente, especialmente em relação ao mercado: os jogadores pedidos por António estão na pauta da direção para a janela de julho. Ainda essas fontes asseguram que o distanciamento é curto entre dirigente e treinador diante das visitas quase diárias ao CT. E é justamente o alinhamento do discurso entre os departamentos outro ponto que incomoda António Oliveira. Apesar do respaldo da direção em torno do seu trabalho - o clube não vence há oito jogos e está na zona de rebaixamento do Brasileirão -, o técnico deu declaração que expõe a insatisfação pela promessa da chegada de reforços que poderiam mudar o patamar da equipe na sequência do ano. Com problemas financeiros, o Corinthians deve buscar nomes no mercado para reforçar o time, mas não com o status de solução como prometido pelo presidente Augusto Melo. Isso, na visão do treinador, gera expectativa e pressão desnecessárias neste momento. – Nós é que temos que conseguir moldar as expectativas de um clube desta dimensão, com uma torcida desta, para aquilo que o clube hoje pode nos oferecer. Porque as pessoas que eventualmente estejam à espera da janela, o clube nesta altura não nos vai proporcionar aquilo que eventualmente prometeu que vai dar. – Não vai chegar aqui o Neymar, não vai chegar aqui o Marquinhos, não vai chegar aqui o Paquetá. Portanto, se calhar nós não vamos ter aquilo que eventualmente me prometeram e a janela já vai ser uma situação completamente diferente. Vamos ver aquilo que o mercado e as oportunidades que nos dão para podermos tornar uma equipe mais competitiva e mais forte – disse António. Com nove pontos em 12 rodadas, o Corinthians continua na zona de rebaixamento e com apenas uma vitória no Brasileirão. São oito jogos seguidos sem vencer e o desafio de enfrentar o Palmeiras, na segunda-feira, às 20h (de Brasília), no Allianz Parque, em busca da reabilitação. – Todos os clássicos são importantes e têm uma carga emocional histórica que nós respeitamos muito. Sabemos o momento das duas equipes, a estabilidade que um clube tem e o outro que ainda procura e com certeza ainda vai demorar muito para que essa estabilidade venha. – É importante a nós percebermos e quando entendermos daquilo que vejo, é importante cada vez mais as pessoas servirem mais o Corinthians do que servirem dele. Quando as pessoas entenderem isso, o Corinthians talvez vá entrar no caminho certo – desabafou António. Clima leve no dia a dia António não tem demonstrado abatimento no dia a dia com funcionários e jogadores no CT. A boa relação e o bom humor têm sido usados pelo técnico como uma maneira de amenizar os problemas e a falta de confiança do elenco. Mesmo após o empate contra o Cuiabá e a entrevista coletiva acima do tom normal, António brincou com funcionários do ex-clube dele e até com jornalistas presentes na área de zona mista da Neo Química Arena. A família de António desembarcou em São Paulo na quinta-feira, deixando o treinador ainda mais leve pelo apoio que irá receber da esposa e filhos. Os familiares seguem morando em Portugal mesmo com ele trabalhando no Brasil há anos. A avaliação pessoal é de que trabalho não tem surtido resultados não por incapacidade profissional, mas pelo cenário conturbado vivido pelo Corinthians dentro e fora de campo desde o início do ano.