Capinhas de celular não têm a proteção como única finalidade para o volante Luiz Gustavo Bahia, do Corinthians. Elas também foram responsáveis pela chegada do jogador à capital paulista, em 2017, quando fez testes na base do clube e foi aprovado. A relação com aparelhos eletrônicos se deve à profissão de Wilker Carvalho, pai do atleta, que trabalha como comerciante em Vitória da Conquista, na Bahia. Wilker viajava com frequência para negociar com fornecedores e nem sempre tinha disponibilidade para acompanhar o filho nos testes.
Então, ele fez uma promessa que mudaria a vida da família. – Meu pai disse que faria uma turnê comigo pelo Brasil. Ia me levar em vários clubes para eu fazer peneira, teste, essas coisas. Ele já tinha vindo pra São Paulo a trabalho com a minha mãe, foram no Corinthians e, sem que eu soubesse, me inscreveram na peneira – afirmou Bahia. Quando voltou da capital paulista, Wilker fez uma surpresa ao filho: deu a ele um envelope com a inscrição nos testes do clube. Porém, Wilker deixou claro que não poderia ir, já que as datas não coincidiam com as demandas de trabalho.
Bahia abriu um sorriso proporcional ao próprio talento. Ele foi a São Paulo com a mãe, Nadiely, e o avô, seu Carlos “Pepê”. Mesmo com pouca idade, já demonstrava sinais de confiança típicos de um capitão: – Cuidem da mudança que do resto cuido eu – afirmou o garoto de apenas dez anos à época. O time do Parque São Jorge foi o primeiro da turnê que teve apenas um show. Corintiano desde pequeno, Bahia passou dez dias sob avaliação com outros 42 atletas, e foi aprovado.
A notícia foi recebida em uma sexta-feira, já com a integração ao clube na segunda-feira seguinte. O detalhe é que as passagens de retorno a Vitória da Conquista foram compradas para sábado. Seu Carlos “Pepê” abriu a situação ao avaliador na época, e tomou um choque de realidade. – Você tá pensando que isso é o quê? Isso é Corinthians. Só passei três atletas, seu neto está no meio e você me diz que tem voo de volta? Wilker cancelou as passagens, e a família ficou mais tempo em São Paulo.
O pai ainda trabalha como comerciante de eletrônicos na cidade natal, com destaque às vendas de capinhas de celular. Foi o início de uma trajetória que promete bons frutos ao clube. Bahia se consolidou nas categorias de base e ganhou a braçadeira de capitão.
Ano passado, foi campeão sul-americano sub-17 e também assinou o primeiro contrato profissional com o Corinthians, válido até junho de 2025. A multa rescisória é estimada em R$269 milhões. Ainda no fim de 2023, ele foi cortado do Mundial Sub-17 devido a uma lesão no reto femoral, mas se recuperou a tempo de disputar e vencer a primeira Copinha na carreira.
Aos 18 anos, Bahia mostra maturidade de gente grande. Pai da Maria Alice, de quatro meses, ele também é exemplo ao irmão Otávio, de 11 anos, que joga na base do Corinthians e tem a figura do irmão mais velho como referência. Mesmo com a saída precoce das terras baianas, as origens são lembradas com carinho. Seja nos familiares, no próprio apelido que recebeu quando chegou a São Paulo e até no trabalho do pai com capinhas de celular. Elementos que fazem de Bahia uma das grandes promessas do futebol brasileiro. – Acho que o mais importante para isso tudo foi a minha postura. Dentro de campo eu mostro ser um líder. Fora, sou aquele cara resenha. De mim, podem esperar raça, vontade e qualidade. São coisas que nunca vou deixar de fazer pelo clube.