30/11/2023 11:15

Arena, contratações, dívida e auditoria: novo diretor financeiro do Corinthians abre o jogo

Arena, contratações, dívida e auditoria: novo diretor financeiro do Corinthians abre o jogo

Em um clube com faturamento e dívida bilionários, o diretor financeiro tem papel importante. No Corinthians, a partir de 2024 esta função será de Rozallah Santoro, engenheiro e economista, que foi escolhido pelo presidente eleito Augusto Melo para ficar com a chave do cofre.

Embora só tome posse daqui a um mês, Rozallah Santoro já se debruça sobre as contas do Corinthians. Na segunda-feira, ele se reuniu com o atual diretor, Wesley Melo, por mais de quatro horas. Já na quarta-feira, foi ao Parque São Jorge validar o orçamento para o ano que vem.

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Em meio aos trabalhos para a transição de gestão, Santoro atendeu a reportagem do ge para falar sobre seus diagnósticos e projetos para o Corinthians. Arena, folha salarial, contratações e a auditoria prometida por Augusto Melo foram alguns dos temas em pauta.

Principais pontos da entrevista:

  • Rozallah considera a dívida do Corinthians na casa de R$ 1,7 bilhão. Para ele, não se pode ignorar o financiamento da Arena;
  • Foco da gestão dele será equacionar a dívida de curto prazo;
  • Folha salarial do futebol não será alterada. Objetivo é gastar melhor o dinheiro;
  • Novo diretor detalha estratégia financeira para contratações e explica auditoria;
  • Ele é favorável à venda de cotas da Arena, mas não para pagar o financiamento com a Caixa e sim para quitar dívidas de curto prazo.
  • Corinthians renegocia com a Caixa o pagamento da Arena — Foto: Marcos Ribolli

    Corinthians renegocia com a Caixa o pagamento da Arena — Foto: Marcos Ribolli

    Como está sendo a transição de gestão no Corinthians no departamento financeiro? – Da mesma forma que o pessoal do futebol começou a interagir com os pares já na segunda-feira, comigo foi igual. Conversei com o Wesley (Melo, atual diretor financeiro) pela manhã, a gente se encontrou na segunda à tarde, para uma conversa extremamente cordial e profissional. Faço o agradecimento público pela disponibilidade e profissionalismo do Wesley. Falamos por quatro horas mais conceitualmente, entendo o que é mais urgente em termos de caixa, Arena, dia a dia. Separamos uma pauta bastante objetiva. Estou no clube agora (quarta-feira à tarde), passei a manhã inteira com o (gerente Roberto) Gavioli e com a Falconi (empresa de consultoria contratada pelo Corinthians), revisando a última versão do orçamento que será apresentado para este Conselho que está aí, do qual eu faço parte.

    – A gente teve discussões em cima do orçamento, fiz minhas ressalvas, de forma profissional eles não queriam fechar o orçamento antes de alinhar com a gente. Mas numa reunião de metade de um dia, hoje não teve nenhuma informação nova, é aquela orçamento mesmo, com quase R$ 1 bilhão de receita , com R$ 892 milhões de dívida do clube. E a questão da quitação da Arena está em aberto, isso impacta nos planos para frente.

    A gestão que se encerra agora, do presidente Duilio Monteiro Alves, se orgulha muito de ter conseguido superávit nos três anos de mandato e também de ter um resultado operacional bastante expressivo. Isso será mantido em 2024? – O EBITDA (resultado operacional, antes do pagamento de juros, amortizações e impostos) vai ficar na casa de R$ 180 milhões, R$ 200 milhões. Mas antes de falar em relação ao futuro, eu gostaria de falar do passado. Eu fui um crítico fervoroso durante meu mandato no Conselho desse superávit apresentado. É muito fácil apresentar superávit sem pagar custo de capital. Se no balanço do clube eu me aproprio da receita de bilheteria, da despesa em dias de jogos e isso é uma fatia relevante da operação total da Arena... Eventualmente, isso é até mais do que 100% da operação da Arena, porque o resto da operação da Arena não necessariamente é superavitário. Estou levando o grosso da receita e da despesa para o balanço do clube, mas não carrego os juros do financiamento que fez essa Arena existir. Quando você vê um superávit de R$ 10 milhões, ou ele está com R$ 70 milhões a mais quando você faz receita menos despesa ou ele está com R$ 88 milhões a menos, como foi no ano passado, porque foram juros que não foram provisionados para o pagamento da Arena.

    Novo diretor financeiro diz que Corinthians deve cerca de R$ 1,7 bilhão

    Seria uma forma de maquiar as contas? – Eu gosto do assunto dívida da Arena vir à tona. Toda matéria que sai fala que a dívida do clube é R$ 900 milhões ou R$ 1 bilhão. Mas a dívida do clube tem mais R$ 700 milhões de Arena. Essa dívida, na realidade, é na casa de R$ 1,7 bilhão. Um outro ponto que sempre discordei: “a gestão Duilio manteve a dívida estável.” Não manteve. Quando ele assumiu, a dívida da Arena era de R$ 550 milhões e veio para R$ 700 milhões. Essa dívida aumentou porque no primeiro ano (do mandato) não pagou, no segundo era carência e, no terceiro, pagou só juros. Quando a gente olha as renegociações de impostos que foram feitas, elas vieram junto com perdão de multa e juros. Isso é da casa de R$ 40 milhões, R$ 50 milhões. Para a dívida ficar constante, ela deveria cair R$ 200 milhões, por conta do efeito de multa e juros dos impostos e por conta dos juros não pagos ou provisionados da Arena.

    Você vai mudar essa forma de contabilizar a dívida? – Eles são CNPJs apartados, o clube é um CNPJ, o fundo é um CNPJ, e a arena é propriedade desse fundo, do qual o Corinthians é cotista. Independente de eu ser cotista, se sou eu que tenho que pagar as parcelas de financiamento, não tem como eu não reportar isso para o meu Conselho totalizado. Quem é que paga? Eu não mando esse boleto para os meus rivais pagarem, ele sai do mesmo cofre. Se não pode estar contabilmente registrado no balanço, ele tem que estar em um relatório geral para contar a todos os envolvidos no processo que nosso resultado gerencial, consolidando a operação do clube e dos ativos gerenciados pelo clube, entre eles a arena, ele tem uma cara completamente diferente de um superávit de R$ 10 milhões.

    A realidade encontrada na transição é melhor ou pior do que você imaginava? – Por enquanto, é igual. Mesmo a gente não tendo as informações publicadas, eu sempre me preocupei em ir atrás dos balancetes da Arena no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Arena é parte de um fundo imobiliário. Quando a gente fala do que está equacionado do problema, mal ou bem a arena é uma coisa equacionada. Ainda que ela não seja quitada agora, tem um fluxo de pagamento futuro de 20 anos, uma taxa que se eu for buscar dinheiro hoje no mercado não consigo a CDI + 2%, como é no financiamento da Caixa. A parte de impostos, que são R$ 500 milhões, está parcelada em 15 anos. Se colocar Profut e essa última renegociação de impostos fruto da pandemia, para recuperação do setor de entretenimento, os dois juntos devem estar em pouco mais de R$ 530 milhões, mas isso está para 15 anos na taxa Selic. Eu jamais conseguiria captar dinheiro com essa taxa no mercado.

    – O maior problema do financeiro do Corinthians é a dívida que está perto de vencer, o que tenho que pagar até o meio do ano. Na casa de R$ 350 milhões, R$ 400 milhões. Essa é a dívida que faz o bloqueio de contas, que faz a gente ser banido de transferência, que impede que a gente consiga pagar em dia a compra do Fausto Vera, que gera multas. Esse é o problema que a gente tem que enfrentar.

    Tem alguma questão de curtíssimo prazo que vocês tenham que resolver? Alguma grande preocupação para o início do mandato? – Não tenho dúvida alguma que quando a gente fala em início de ano tem uma receita esporádica, que não virá todo mês, que é a de luvas de renovação do contrato de direitos de transmissão. Essa luva é muito menor do que seria uma antecipação de receita futura da liga. Mas, com as informações disponíveis, não tenho dúvida que essa luva da TV tem que ser utilizada para limpar uma parte relevante dessas dívidas mais curtas, preciso disso para equilibrar o caixa.

    – Tem receita diferente disso para buscar no mercado? Sendo bastante criativo, a única receita que eu teria para buscar no mercado seria venda de jogador recebendo à vista. Se eu pensar no curto prazo, mesmo aquela proposta de vender uma parte da arena – e acreditando que aquele valor captado não seria usado para pagar a dívida com a Caixa – esse valor não entraria imediatamente. Ela depende de formatação de produto, do processo de registro de prazos para os interessados aderirem... Não é um negócio que aconteceria em um mês.

    Mas você cita venda de jogadores somente para dar exemplo ou há uma necessidade de levantar dinheiro negociando atletas? – De forma alguma. A melhor forma de te responder isso é: eu tenho convicção de que qualquer que seja o modelo, seja criação da liga ou renovação do contrato de TV, estamos falando em no mínimo R$ 100 milhões de entrada. Isso dá um belo respiro. Vai corresponder a 25% dessa dívida de curto prazo, ajuda a gente fazer a roda girar sem nenhuma pressão para venda de atleta. Há contratos de patrocínios que vencem agora e os espaços podem ser vendidos no mercado. Na parte de custos, temos contratos de atletas que vencem agora, darão um alívio.

    Gabriel Moscardo, jovem meia do Corinthians, interessa a clubes do exterior — Foto: André Durão

    Gabriel Moscardo, jovem meia do Corinthians, interessa a clubes do exterior — Foto: André Durão

    Você já teve oportunidade de se aprofundar nos contratos do clube? Recentemente, saiu na mídia uma dívida que o Corinthians tem com o Jadson, também tem o caso do Fausto Vera... – Para a situação do Jadson chegar onde chegou, alguma coisa a gente não cumpriu. Não conheço esse caso especificamente, mas não vejo dificuldade pelos valores que ouvimos nas notícias. Não me preocupo. O que preocupa é o seguinte: quantos problemas iguais ao do Jadson temos que ir tocando? Isso que a gente precisa conhecer rápido e entender o que precisa de mais contingência. Se em janeiro tem um potencial de entrada de, no mínimo R$ 100 milhões, são esses problemas mais urgentes, que estão para estourar, enfrentar esse tipo de problema, usar o dinheiro para cobrir a dívida mais cara que temos da forma mais breve. O objetivo é pegar o que vence agora e transformar numa dívida menos onerosa num prazo dilatado, fazer essa dívida caber no meu fluxo de caixa.

    Então por enquanto você ainda não analisou essas dívidas em detalhes? – Não deu tempo ainda. A gente saiu da reunião de hoje com uma lição de casa que é conhecer detalhes da dívida. É basicamente o que a gente deve, para quem, quando vence. E ter isso numa linha do tempo para entender o tamanho do problema e ver se será necessário um socorro extra num momento em que haverá um “vale”, uma entrada de dinheiro no caixa. Tem alguma coisa que a gente possa fazer para antecipar parcela, seja num banco, seja tendo um desconto para pagar antes.

    A grande dúvida do torcedor é: na realidade financeira atual, é possível montar um time forte? – Esse é o grande X da questão. É importante dizer para o torcedor que não existe mais a oportunidade de fazer aquilo que foi feito com o Flamengo, anos atrás, quando ele aderiu ao Profut na gestão do ex-presidente Eduardo Bandeira de Melo, que fez uma mega reestruturação da dívida, abrindo mão da performance esportiva. Você está falando de uma época em que as premiações e a receita de TV não tinham a dependência de colocação no campeonato, que tem hoje. Se olhar, 30% do que a gente recebe em direito de televisão é prêmio. Na dinâmica atual de composição de receita, é impossível abrir mão de resultado esportivo. Dito isso: faz parte do nosso orçamento uma performance esportiva agressiva, o Corinthians vai entrar para ganhar todos os campeonatos, vocês vão escutar isso sempre, é verdade.

    – Quando a gente olha nossa comparação com outros clubes da Série A, temos a terceira ou quarta folha de pagamento do país e estamos brigando entre a 10ª e a 15ª colocação. Essa posição que estamos no campeonato é incompatível ao que temos de dinheiro no futebol.

    – Se não estou enganado, naquela entrevista que deu recentemente o Duilio falou entre R$ 20 milhões e R$ 24 milhões por mês o custo da folha. A gente deve ter três clubes no Brasil que gastam mais do que isso. A questão aqui não é não gastar, é gastar certo. O grande desafio que o Augusto e o futuro diretor de futebol terão nas mãos é montar um time competitivo com o dinheiro que está disponível.

    Rozallah Santoro explica política financeira do Corinthians para contratar jogadores

    O valor atual da folha salarial está em um patamar adequado ou você acha que dá para enxugar? – É adequado para o que se propõe. Quando falo que quero estar entre os sete clubes do país no Brasileiro, quero estar na semifinal do Paulista, nas oitavas da Libertadores ou da Sul-Americana e nas oitavas da Copa do Brasil, quando olha esse objetivo e compara com o que tem de dinheiro disponível, parece adequado. Se você quiser ter mais dinheiro disponível, precisa ter um objetivo maior, essa despesa precisa ser compensada de alguma forma.

    – Mas tem um pedaço de imponderável aí, não é porque tenho time mais caro que vou vencer mais. Não é uma coisa cartesiana, não cabe no gráfico. Se a gente olhar nosso elenco, tem muita diferença entre o quanto a gente paga para cada atleta e o quanto ele rende, quantos minutos joga, quanto entrega em termos de performance. Esse é o ponto do gastar bem. Pensando em tudo o que a gente tem que enfrentar em dívida de curto prazo, quando a gente falar em salário de jogador não é um problema do curto prazo. Salário a gente encaixa no fluxo.

    Então você entende que o tamanho da folha salarial não é um problema, a questão é como o dinheiro é gasto. – Sobre quem manter, não é uma decisão que cabe a mim, obviamente cabe a mim ter o recurso suficiente para colocar de pé a decisão que for tomada pelo Augusto e pelo diretor de futebol. Mas você tem uma série de jogadores que têm contratos que vão vencer no fim do ano. Tem aquela história: a gente escuta falar que o jogador “veio de graça”. Não sei o quanto o torcedor tem essa noção, mas “vir de graça” não quer dizer que eu não paguei para ele vir. Matías Rojas, por exemplo, veio de graça, mas tem um custo mensal muito maior. O que não paguei para ele na transferência é parcelado em todos os meses de contrato que ele tem.

    – Lembre que tem algumas coisas na folha salarial que naturalmente vão ser reduzidas. Você tem jogadores com contratos até o fim do ano que estão emprestados. Isso está dentro da conta. Tem, inclusive, jogadores que não estão aproveitados no elenco, recebem salário e jogam em outros clubes. Esses jogadores dão uma folga pequena, estamos falando em R$ 1,5 milhão, R$ 2 milhões. A intenção é que a gente mantenha a ordem de grandeza do que está aí, dentro do que esse orçamento se propõe a criar um elenco competitivo.

    Augusto Melo foi eleito presidente do Corinthians — Foto: José Manoel Idalgo/Corinthians

    Augusto Melo foi eleito presidente do Corinthians — Foto: José Manoel Idalgo/Corinthians

    – Vou dar minha opinião, isso aí tem que validar com o Augusto. O objetivo principal deveria ser: preciso de um jogador com essa característica, que encaixe desse jeito no elenco, quem vai pedir isso é o Mano Menezes. Ele vai definir o critério técnico do perfil de jogador que ele quer. Com o tempo, você vai construir um negócio que já tivemos, o modelo de como joga o Corinthians. Quando tinha esse modelo definido na época do Tite ou do Carille, eu sabia que todo jogador que subisse da base iria jogar naquele esquema, o mesmo padrão independente da categoria. Isso é mais importante se ele tem uma condição A ou B financeira. Dado que encontrei o atleta certo, o atleta que quero para aquela posição, aí sim cabe a mim viabilizar aquela contratação. Mas não posso colocar a condição financeira como um fator limitante. Se o jogador é daquele jeito, vale aquilo e estiver dentro do custo total do período, dentro do orçamento previsto para o futebol, vai ser meu desafio fazer isso acontecer.

    Mas dentro de um limite, certo? Até para não criar falsa expectativa no torcedor... – Eu não vou desrespeitar o teto que combinei. Se vou ficar com aquele jogador por dois ou três anos, se respeitar o teto de orçamento que tenho para aquele ano, não estou gerando falsa expectativa. Desse teto para esse ano eu não posso passar. Se eu precisar colocar dinheiro na frente, ou tenho economia – trazendo jogadores não tão caros nas outras posições – de forma que use aquele orçamento disponível. Se tiver que antecipar dinheiro do ano seguinte, para fazer uma aquisição aqui ou ali, no limite vou dizer: “presidente, esse aqui não dá para trazer”. Isso sempre que tiver uma antecipação de valores muito alto, se tiver que colocar uma grana à vista.

    Você já foi informado sobre o novo acordo com a Caixa para pagamento da Arena? É algo que te agrada? – Parece algo vantajoso. A gente conversou um pouquinho sobre isso. A proposta está lá para ser analisada. Entendi que a Caixa se comprometeu a dar uma resposta breve a respeito. O que eu tenho receio, pensando no processo inteiro, é que isso tenha um trâmite de aprovação no Tribunal de Contas da União, Controladoria Geral da União, eles precisam estar de acordo com o que a Caixa eventualmente concordar. Do mesmo lado, precisamos da aprovação do CORI e do Conselho Deliberativo para concretizar a negociação. Eu não vi detalhes ainda, a gente ficou falando muito do dia a dia, orçamento, papel das consultorias Falconi e KPMG, mas especificamente na proposta da Arena ainda não conversei com o Wesley e o Gavioli. A gente está no terceiro dia útil depois da eleição, ainda não chegamos lá.

    E a proposta de vender cotas do fundo imobiliário da Arena na bolsa, você gosta? – O modelo é viável e me parece interessante, mas eu preciso entender o que quero com isso. Se for utilizar esse modelo para quitar o financiamento com a Caixa, eu não acredito que ele funcione, porque não vou conseguir nesse modelo um dinheiro mais barato do que o que já tenho com a Caixa. Quando faço oferta de fundo imobiliário, trago para dentro um cotista. Esse fundo não tem vencimento, trago um cotista para sempre. Eu tenho um contrato com a Caixa de 20 anos. Quando trago o cotista, ele não é meu sócio só na operação de aluguel da Arena, mas em todo o resultado. Lógico, posso dizer que esse fundo imobiliário vai mudar o regulamento dele e eu vou pagar para esse cotista só o aluguel da Arena, faz de conta que passo a alugar a Arena para o Corinthians jogar. Mas a Caixa não é cotista, ela é credora, emprestou dinheiro. Se eu não pagar, ela executa as garantias ou toma o ativo. Quando eu tenho um cotista, o grau de risco dele é maior do que a Caixa, ele só recebe se a Arena der resultado. Ele vai exigir prêmio muito maior do que CDI +2%. Se estou correndo risco maior e tenho o risco de não receber nada por um tempo, preciso ter um retorno maior. Ou seja, vou ter que pagar mais para esse investidor do que para a Caixa.

    – Agora, num cenário em que quitamos a dívida com a Caixa, sem ter o custo financeiro de carregar a dívida da Caixa, você passa a ter um ativo rentável, atraente, com potencial de captar dinheiro e muito mais barato do que aquela dívida que vence até o meio do ano. Se eu pudesse fazer uma operação dessa para limpar o passivo de curto prazo e ter uma reserva de contingência para não perder o pagamento do que está refinanciado, eu faria com certeza. Não sei se vendendo 49% ou 30%, vai ter que fazer conta.

    Corinthians tenta equacionar dívida da Arena — Foto: Marcos Ribolli

    Corinthians tenta equacionar dívida da Arena — Foto: Marcos Ribolli

    O Augusto falou muito na campanha sobre "abrir a caixa preta" e fazer uma grande auditoria nas contas do clube. Porém, o balanço financeiro já é auditado anualmente. O que será feito de diferente? – Eu posso te dizer que não li o escopo do que ele está planejando. O que tem cara para mim é de uma grande prestação de contas. Ter certeza que tem origem para tudo o que está lá, tem tudo o que foi movimentado registrado, é fazer um “bate” contábil de todas as contas do clube. Quando a gente fala de balanço auditado, o viés é um pouco diferente. Ele vê origem, se tem registro e faz isso por amostragem. No balanço, tem um outro lado, que é verificar se os valores estão corretamente lançado, se usou as normas contábeis... Quando você fala em auditoria, tem uma que é contábil e tem outra que é de processos. É preciso entender qual o escopo dessa auditoria.

    – O objetivo será passar uma régua, dizendo: está aqui uma fotografia do momento. “O Augusto pegou isso aqui chegando no clube”, a auditoria vai tirar essa foto. Daqui para frente, tudo o que acontecer é responsabilidade minha. Lógico que tenho responsabilidade de arrumar o que ficou para trás, mas é mais no sentido de passar a régua e falar: “zerou essa mesa, agora tem mais gente para sentar, vamos abrir uma conta nova”. Não sei o escopo, só sei que tem conversa, mas não tem a empresa definida.

    As consultorias da Falconi e da KPMG serão mantidas? – É algo que pretendo manter, um suporte externo. Gosto de ter um suporte independente e de qualidade. O papel de uma consultoria como a Falconi é primordial para te dizer o que você não quer ouvir. Se fica ou se sai, eu posso te responder depois. O primeiro passo aqui é não comprometer em nada o que é continuidade operacional do clube. Jamais vou colocar em risco a continuidade do dia a dia. O que está continua, a gente faz uma transição com calma, espero que boa parte do time siga com a gente, são pessoas que conhecem o clube, o dia a dia, o modelo de operação. Não tenho pressa alguma em tomar decisão de troca das pessoas ou dos prestadores de serviço, isso precisa ser avaliado com critério e calma.

    Seu antecessor no cargo, Wesley Melo, previu o Corinthians saudável financeiramente em quatro ou cinco anos. Você concorda com esse prazo? – Eu vou separar essa resposta em fases. Tem um lado importante que é de curto prazo, deixar tudo equacionado. Com ou sem dívida da Arena, como falei, esse pedaço está equacionado. Temos os impostos, isso precisa estar em dia. Precisamos organizar a vida nos problemas de prazo mais curto, deixar isso mais equilibrado em relação ao que temos de receita mensal. Nesse primeiro ciclo, a gente entrega isso. Uma redução de dívida, enfrentamos o problema de prazo mais curto. Se você pegar qualquer empresa – e eu não vejo muita diferença para o nosso negócio, de clube de futebol – o nível saudável de endividamento é de duas vezes o EBTIDA (resultado operacional). Estamos falando na ordem de R$ 360 milhões, R$ 400 milhões, que era a dívida que a gente tinha voltando seis anos no tempo. Será que a gente dava R$ 180 milhões, R$ 200 milhões de EBTIDA na época? Seguramente, não. Então precisamos voltar ainda mais no tempo para encontrar quando tivemos uma dívida saudável.

    – Hoje nossa dívida atual é da ordem de quatro vezes o que seria um valor saudável, contando a arena junto.

    – Na minha opinião, a gente apaga o incêndio nesse mandato e aí temos mais um ou mais dois mandatos para trazer a dívida na casa de R$ 400 milhões. Isso permite que a gente corra sem ter uma mochila de pedra nas costas, permite que todo o serviço da dívida possa ser investido em melhoria do clube, melhorias dos nossos ativos, seja Arena ou CT, melhoria do elenco e, a partir daí, construir um ciclo virtuoso como nos acostumamos há 10 anos.

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