O torcedor de Martinópolis, no interior paulista – a cerca de 550km da capital –, ficou acordado parcialmente durante o procedimento, com o objetivo de diminuir os riscos de sequelas. Enquanto era operado, Adriano cantou o hino do Timão. Música novamente entoada na primeira consulta pós-cirurgia, quando ele foi com a camisa corintiana.

A cirurgia com a técnica de manter o paciente acordado parcialmente durante o procedimento foi realizada apenas pela segunda vez no Hospital Regional de Presidente Prudente. A primeira tinha sido há mais de 11 anos, em fevereiro de 2012.

– É totalmente diferente. A preparação começa alguns dias antes. Nós precisamos de uma equipe multidisciplinar. Primeiro de tudo é o perfil do paciente, precisa ter um perfil bom, ser colaborativo, estar disposto a ser submetido àquele procedimento, pois a participação dele é essencial – disse o neurocirurgião Paulo André Pinheiro Fernandes Ferrari.

– Esse procedimento é indicado principalmente nos pacientes com lesões na área da fala, onde nós precisamos ter certeza de que não haverá um novo déficit. Com ele acordado, consigo definir exatamente qual é a área do cérebro responsável pela fala e não manipular, ou seja, preservá-la a fim de não acrescentar nenhuma sequela – completou o médico.

Responsáveis geralmente por manter o paciente desacordado, os anestesistas, desta vez, tiveram um desafio: diminuir a sedação ao longo da cirurgia. Talita Nogueira Manfrim participou dos procedimentos em 2012 e do corintiano Adriano.

– Não é uma anestesia feita rotineiramente. Manter um paciente acordado durante uma cirurgia tão complexa realmente é um desafio – disse a anestesista, que teve a companhia de outro profissional da área, André Fernandes de Souza.

– Na primeira parte do procedimento, ele ficou dormindo. Mediante solicitação do cirurgião para que ele despertasse, a gente começou a regredir as medicações, foi despertando o paciente aos poucos, e assim ele ficou acordado completamente, consciente de onde estava, o que estava ocorrendo ao seu redor, respondendo às perguntas que eram solicitadas.

E cantando o hino, né doutor? Adriano é montador de móveis, tem 36 anos e torce pelo Timão desde pequeno. Ele passou a paixão para dois filhos: André Luiz, de 12, e Olivia, de 7. No bairro, o amor pelo Corinthians é conhecido. A mãe, Maria Beatriz, disse que um vizinho até o presenteou com duas camisas. Como dá para perceber, o manto alvinegro dificilmente sai do seu corpo.

Mesmo passando pela cirurgia, conforme os médicos, o torcedor continua o tratamento com a esperança de conseguir a cura. Como desistir não faz parte do vocabulário dos corintianos, Adriano tem no time de coração sua própria inspiração.

– Agradeço a Deus primeiramente. Agradeço aos enfermeiros, médicos, que estão de parabéns. E até trouxe um cartaz para eles expressando a minha gratidão – disse na consulta pós-cirurgia.

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