O Corinthians tem jogos importantes nas três competições que está. Nesta terça, mede forças com o Newell"s Old Boys pela Sul-americana, depois de fracassar na primeira fase da Libertadores. Tem ainda a Copa do Brasil e o Brasileirão para salvar o ano no Parque São Jorge, pelo menos esportivamente, com alguma conquista. Pode tentar se dar bem sem um de seus principais jogadores, Róger Guedes. O atacante de cabelos platinados tem até setembro para dizer "sim" ou "não" para os sauditas, que estão comprando todo mundo no mercado. Os dois maiores clubes da Arábia Saudita, Al-Nassr e Al-Hilal, querem o jogador.
O dinheiro é bom, muito bom: R$ 4 milhões por mês, por um contrato de dois anos. O atacante é dono de 60% do seu contrato. Portanto, é ele que decide para onde vai, sem precisar consultar nenhuma outra parte, nem mesmo o Corinthians, que monitora a situação com pouco poder de veto. O clube brasileiro espera como torcedor pelo desfecho. Tem 40% da transação. Ficaria feliz se ganhasse R$ 50 milhões.
Há, no entanto, algo mais do que o caminhão de dinheiro parado na frente da casa do jogador. Róger Guedes tem muito mais para pensar. Ele tem 26 anos e poderá ter novas oportunidades de mercado em breve. Se continuar jogando o que vem mostrando no Corinthians, continuará nos holofotes.
Sua família também fala mais alto nesse momento. Ele é casado e tem uma filha pequena, de colo ainda. Ficar longe delas é uma situação impensável para ele. Levar as duas para morar na Arábia Saudita é um risco grande. Primeiramente, por elas serem mulheres num país que não respeita as mulheres. Seria também privá-las da convivência com familiares no Brasil.
Haverá ainda problemas com o idioma, com escolas internacionais, com babá, de modo que os 24 meses propostos poderão significar uma eternidade para a família Guedes. Há outros jeitos de ganhar a vida. O dinheiro, é verdade, não se compara a nada no futebol brasileiro, mas é menos do que poderia ser um bom contrato em euros na Europa, onde a vida é mais parecida com a brasileira, principalmente se for para um país como Portugal ou mesmo Itália e Espanha.
Róger Guedes tem ainda de levar em conta seu momento no Corinthians, que é muito bom. Ele é um dos jogadores mais queridos do time pela torcida. Está jogando bem e tem a confiança do treinador Vanderlei Luxemburgo também. É o camisa 10. É verdade que até outro dia, o time estava num buraco fundo, mas futebol tem dessas reviravoltas na mesma temporada e tanto Guedes quanto o Corinthians estão sabendo aproveitar a boa fase.
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O time está prestes a garantir vaga na final da Copa do Brasil diante do São Paulo. Ao menos tem a vantagem do empate. Particularmente, penso que o São Paulo vai aprontar no jogo da volta no Morumbi, mas é apenas um palpite, como tantos que dou e erro na Rádio Eldorado nos meus comentários das manhãs (8h50). Mesmo assim, o Corinthians ganhou força nas duas últimas semanas. O jogador vive certa paz de espírito no time.
Se ficar no Brasil e não desaparecer na Arábia, o atacante pode ainda flertar com a seleção brasileira, em fase de remontagem do elenco com Fernando Diniz até junho do ano que vem. Quem sabe! A CBF quer mais jogadores na equipe que atuam no futebol nacional. Isso parece claro no comando. Disputar amistosos e participar de jogos das Eliminatórias enriquecem também. Se não com dinheiro vivo, ao menos com orgulho. Róger Guedes pode querer arriscar.
Portanto, há muito a se pensar antes de assinar uma transferência. Melhor seria se a oferta não estivesse em sua mesa, mas ele mesmo já disse que está. O atleta diz que entrega tudo nas mãos de seus agentes, mas duvido que o assunto não seja tema nas reuniões familiares ou mesmo com os colegas mais próximos. Não é fácil. Sindy e a pequena Maya é que vão decidir o futuro do marido e pai Róger Guedes.
1290 visitas - Fonte: Estadão