10/7/2023 13:27

Ou o futebol para no Brasil ou a violência e as mortes não vão parar

Ou o futebol para no Brasil ou a violência e as mortes não vão parar
Jogadores de Palmeiras e Flamengo sentiram em campo efeitos de gás de pimenta utilizado fora do Allianz Parque Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Vai ter nota de repúdio? Vai. Alguma manifestação do Ministério Público? Vai. Minuto de silêncio? Vai também. E troca de acusações entre torcidas? Sem dúvida. Alguma coisa será resolvida? Não, não vai.

O futebol fez mais uma vítima. Gabriela Anelli, de 23 anos, morreu vítima de uma garrafada do lado de fora do Allianz Parque. Uma menina se foi, uma família certamente está destroçada e não sei como conseguirá levantar da cama todos os dias para viver. Isso sem contar amigos e amigas que ela deixa para trás.

Foi do lado de fora do estádio do Palmeiras e aparentemente foi uma garrafa jogada por um idiota com a camisa do Flamengo. Certamente não era um ambiente de amor e paz em que um lado jogava garrafas e o outro mostrava lenços brancos. Poderia ser o contrário também. Aliás, um ano e meio atrás, em um ambiente em que só havia torcida do Palmeiras (no dia da derrota no Mundial de Clubes), um cidadão matou o outro com um tiro. Poderia ter sido um santista ou um vascaíno, já que vários andaram jogando foguetes para dentro dos campos recentemente. Poderia ter sido um corintiano, entre os que andam invadindo motéis e hotéis. Em 1996, portanto há 27 anos, horas depois de eu ver meu time perder o título brasileiro no Olímpico, ainda dentro do estádio, caíram perto de nós cabeças garrafas lançadas do lado de fora do estádio - imagino que por gremistas.

O que vivemos no futebol brasileiro não é um problema individual e nem de determinada torcida. É conjuntural, estrutural. É da sociedade brasileira e se aflora mais nitidamente no ambiente do futebol, que já há muitas décadas virou terra de ninguém.

A nota de repúdio não terá efeito algum. O Ministério Público não mexerá na verdadeira ferida. E o minuto de silêncio é capaz que sequer seja respeitado por quem esteja no estádio. E assim seguimos, até que venha a próxima vítima.

O Campeonato Brasileiro precisa ser paralisado. Se não for pela CBF, que seja pelas pessoas. Por que seguimos pagando, consumindo, assistindo, nos importando? A sociedade civil precisa fazer alguma coisa.

Somos uma sociedade doente. No mesmo UOL em que leio sobre a morte de Gabriela, leio que ali perto do estádio do Palmeiras um cidadão que jogava baralho no posto de gasolina foi perseguido por dois rapazes e morto por espancamento. Minha filha voltou de um acampamento contando que um menino de 10 anos deu um soco na cara do outro - levou, no máximo, uma bronca. Quem sai por baladas na noite sabe que o risco de esbarrar com alguma briga na rua é constante. Se você ousar buzinar para um motoqueiro tresloucado no trânsito caótico de São Paulo, ele para para tirar satisfações e, se você não ficar quietinho, apanha dele e dos que estiverem vindo atrás.

A violência é a única constante de nossas vidas. Mas, no futebol, ela extrapola. Porque ela fica escamoteada por um suposto "sentimento irracional de paixão pelo time de coração". E aí seguimos passando pano e encontrando soluções ridículas, que não servem de nada. Como podemos ver o jogo entre Palmeiras e Flamengo, as duas maiores potências do país, parar devido ao gás pimenta que vinha de fora (e agora sabemos que estava ocorrendo um homicídio lá fora) e normalizamos isso? Como este fato pode ser menos relevante do que um debate sobre um pênalti ou não pênalti?

Só existe uma solução, que não será completa, porque não há solução completa para uma sociedade como a nossa. Mas que ajudaria. Acabar com os bandos. Clubes, todos eles, são culpados pelas mortes de Gabriela e tantos outros. Porque se recusam a atacar o problema de frente, de peito aberto, em conjunto com o poder público. O que se passa nos barracões e nas caravanas? Por que polícia, juízes, MPs e até deputados não querem abrir essa caixa preta para valer? Até quando clubes seguirão financiando desfiles de Carnaval, em vez de proibir a presença de pessoas que barbarizam a vizinhança e vandalizam estações de metrô?

Enquanto os dirigentes seguirem sendo reféns (ou sócios) dessas turbas, nada mudará. Ou melhor, mudarão os nomes dos mortos e das famílias destroçadas. Eu sei que não é tão simples mudar a dinâmica de algo que está fora de controle há, pelo menos, 30 anos. Mas uma hora isso precisa começar.

Solução prática? Que sejam paralisados os campeonatos, Brasileiro e Copa do Brasil. Os clubes, estes mesmos que não conseguem se juntar para criar a Liga, precisam sentar em uma sala com representantes do Ministério da Justiça, Polícia Federal, governadores e comando militar para que seja estabelecido um plano sério de ação, com datas para implementação. Câmeras, biometria, punições esportivas a quem não colaborar, punições reais aos CPFs, ou seja, aos indivíduos. É preciso cortar o fluxo de dinheiro que permite a estes caras estar em jogos e viagens. Quem não quiser participar para valer desta luta, não pode participar de campeonatos.

O futebol brasileiro precisa voltar a ser das pessoas, não de quem se apoderou dele. Enquanto não for assim, não tem nem por que continuar.



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