A torcida do Corinthians se revoltou nas redes sociais com o valor da venda de Pedro para o Zenit, da Rússia. Como mostrou o colunista do UOL, Samir Carvalho, o Alvinegro topou se desfazer de 50% dos 80% que detinha do jogador por 9 milhões de euros (cerca de R$ 46,8 milhões).
Um dos argumentos dos corintianos que consideraram a quantia irrisória é a comparação com a transferência do palmeirense Endrick para o Real Madrid, que pode chegar a R$ 407 milhões, aproximadamente, com bônus por metas e considerando-se pagamentos de impostos na Espanha a serem feitos pelo Real.
Comparar o valor dos dois atletas é difícil, portanto, não é o melhor caminho para o corintiano avaliar a negociação de Pedro. Esquecendo o Palmeiras, que tem uma situação financeira mais estável, é interessante para o torcedor alvinegro examinar o que aconteceu com seu clube nos últimos anos até chegar à transação com o Zenit.
Apesar da grande quantidade de troféus que colecionou, incluindo uma Libertadores e um Mundial, o Grupo Renovação e Transparência, que está no poder desde 2007, aumentou de maneira expressiva a dívida do clube. O débito estava em R$ 910,5 milhões no final de 2022, sem contar a dívida pela construção do estádio em Itaquera. De acordo com dados do clube, houve uma redução de 0,17% em relação ao ano anterior. Foi registrada também queda de 3,9% em 2021 na comparação com 2020.
No entanto, a situação financeira continua sendo precária. O clube acumula bloqueios em suas contas por causa de dívidas cobradas na Justiça. Há débitos urgentes a serem pagos. É o caso da dívida com o empresário Eduardo Bou Daye, que fez o clube ser punido pela pela Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) da CBF.
A punição imposta é a impossibilidade de registrar jogadores por seis meses, a menos que a dívida seja paga. A próxima janela de transferências no Brasil, quando os registros podem ser feitos, começa em 3 de julho
Ou seja, o Zenit, clube com o qual Fernando Garcia, empresário de Pedro e ex-conselheiro corintiano, tem bom relacionamento, encontrou o Corinthians precisando muito de grana.
Em casos assim, o comprador fica em vantagem. Nesse contexto, é importante entender a responsabilidade dos dirigentes que aumentaram a dívida corintiana.
Duilio tem sua cota nesse histórico, apesar das recentes reduções do débito obtidas durante sua administração, pois foi diretor de futebol no último mandato de Andrés Sanchez como presidente.
Também segundo dados do clube, em 2020, com Andrés na presidência, a dívida corintiana aumentou 21,1,% em relação ao ano anterior. Ela já tinha crescido 42,7% em 2019, também com Sanchez no comando. É esse cenário que ajuda a explicar o valor da venda de Pedro.
O mais importante para o corintiano agora é saber o destino do dinheiro que vai entrar. Quanto vai para o pagamento de dívidas? E, se sobrar verba para contratar, como ela será usada? Vender um jovem promissor como Pedro para investir em jogadores caros, sem potencial de revenda por serem veteranos, por exemplo, não faria sentido. A negociação só se justifica dentro de um contexto de recuperação da saúde financeira do clube.
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