O primeiro título de Vítor Pereira no Corinthians pode sair no Rio de Janeiro, cidade onde estão algumas das praias mais icônicas do Brasil. Coincidência interessante para um profissional apaixonado pelo mar, que recentemente desceu até Santos sozinho num dia de folga para ficar em contato com a praia.
Nascido em Espinho, uma cidade litorânea em Portugal com 31 mil moradores, Vítor Pereira viverá o seu auge no Brasil nos duelos da final da Copa do Brasil contra o Flamengo, o primeiro nesta quarta-feira, às 21h45 (de Brasília), na Neo Química Arena.
Dias depois da grande final, dia 19, no Maracanã, ele anunciará à diretoria sua decisão sobre o futuro, se fica ou não no Corinthians para 2023. São quase oito meses de Brasil, com um trabalho iniciado no fim de fevereiro.
– Já conversei com o Duilio. Ele sabe o "timing" para voltarmos a conversar. Aí falaremos sobre futuro. Mas no tempo certo. Tem que ser o nosso presidente a falar, não serei eu. Enquanto isso, de corpo e alma, com paixão, a dar tudo pelo clube e depois a decisão (de ficar ou não). A decisão tem a ver com a estabilidade da família. Se não estiverem bem, por muito que queira, eu não vou estar bem também. Se sentir essa estabilidade... Eu sei o que quero. Vamos ver ser é possível – disse Vitor, no sábado.
Com contrato até o fim do ano, o treinador se tornou um apaixonado pela torcida corintiana, mas ainda vive certa estranheza com a cidade de São Paulo, um local que considera caótico e desigual.
– Você vai num restaurante chique e, 100 metros à sua frente, vê pessoas em situação de rua. Nunca tinha vivido isso nas outras cidades onde trabalhei – disse o técnico em evento recente da CBF.
A pessoas próximas, o técnico faz comparações e admite que gostava mais de viver em cidades como Istambul, na Turquia, e Atenas, na Grécia, quando trabalhou em Fenerbahçe e Olympiacos.
– Ele não gostou muito de São Paulo. Achou a cidade feia e perigosa quando compara com as outras que já morou – admitiu ao ge uma pessoa que tem bom convívio com o técnico no dia a dia.
Muito apegado à família, Vítor sabe que faz falta à esposa e aos filhos, que ficaram em Portugal por conta da doença de sua sogra. E se Vítor não se adaptou 100% a São Paulo, convencer a própria família a vir morar no Brasil, numa rotina em que ele pouco para em casa, parece improvável.
Apesar disso, há um esforço enorme da diretoria para convencer o treinador de que ele poderá ser mais feliz em sua segunda temporada de Corinthians. Bem próximo a Vítor Pereira, o presidente Duílio Monteiro Alves deseja muito a permanência. Antes da chegada dele ao Timão, foi Duílio quem convenceu a esposa do técnico, em ligação de vídeo, de que a vinda ao Brasil seria positiva.
A vida em São Paulo
O que tem facilitado a rotina de Vítor Pereira em São Paulo é a companhia de sua comissão técnica. Além de Vítor, são dois auxiliares técnicos, um preparador físico e dois analistas táticos, todos portugueses. Eles moram todos no mesmo hotel, num local próximo à Avenida Paulista.
Inicialmente, o sexteto morava em flats num mesmo prédio numa região mais próxima ao estádio do Pacaembu, mas o barulho de portas batendo nas madrugadas atrapalhava o sono da comissão. Assim, optaram pela mudança.
Nos bastidores, Vítor Pereira é apontado como um sujeito de hábitos simples, direto e autêntico em suas falas com funcionários e jogadores.
Fora da rotina do CT, gosta de conhecer bons restaurantes, tomar cerveja e contar histórias sobre os locais em que viveu. O auxiliar e cunhado Luís Miguel é um parceiro frequente nestes programas. Juntos, há alguns dias, encontraram o influencer Luva de Pedreiro.
Vítor é visto como um "bon vivant", alguém que sabe aproveitar os momentos da vida. Por isso, já foi flagrado algumas vezes por torcedores em bares de São Paulo. Em Santos, quando foi ao litoral por saudades do mar, foi flagrado conversando com locais muito à vontade.
O dia a dia no CT
Vítor Pereira e sua comissão chamaram a atenção logo na chegada. Desde os primeiros dias, chamavam todos os jogadores e funcionários pelo nome. Passaram a impressão de que estudaram bastante o elenco para minimizar o impacto de um novo trabalho com a temporada já iniciada.
Há, entre a comissão, uma sintonia muito forte. Bem-humorados, eles tiram sarro uns dos outros constantemente dentro do CT Joaquim Grava. O clima descontraído ajuda no entrosamento.
– O hábito favorito da comissão é pegar no pé do António Ascensão (preparador físico), todos ficam provocando ele e se divertem muito com isso. Ele é rockeiro, tem tatuagens, tiram sarro pela roupa que usa. Ele trabalhou na seleção do Gabão, é da região das montanhas de Portugal, nasceu numa vila menor, então ficam pegando no pé dele o tempo todo – relata o auxiliar brasileiro Fernando Lázaro.
Bastante católico, VP não inicia um dia de trabalho sem fazer a sua oração na entrada do CT, num local onde há uma santa. O hábito é comum entre vários atletas do elenco, como Renato Augusto.
Quando a bola rola para o treinamento, porém, todos são mais sérios. Vítor Pereira tem um estilo de decisões mais impositivo diante do elenco, embora deixe o diálogo aberto para os jogadores.
– Ele é um cara muito reservado, a gente se fala muito pouco, é objetivo e prático. Demorou um pouco para se adaptar ao futebol brasileiro, a saber como as coisas funcionavam, hoje está bem mais adaptado ao grupo. Ele mais fala do que pergunta, mas pra gente está beleza, entendemos a forma como ele gosta de trabalhar. E ele deixa aberto para conversar e tirar dúvidas. Na vitória ou na derrota é sempre um cara transparente, como é nas entrevistas. Fala quando está bom ou quando está ruim. O que acontece nas entrevistas é exatamente como ele é no dia a dia – disse Fábio Santos.
Sob o comando do Timão, a comissão portuguesa acumula 55 jogos, com 24 vitórias, 16 empates e 15 derrotas. Com futuro indefinido, a Copa do Brasil pode ser a única chance de um título no país.