Com pouco mais de três meses de contrato com o Corinthians pela frente, Ramiro não descarta uma renovação, mas já fala em tom de adeus. Em entrevista ao ge, o meio-campista de 29 anos prometeu entregar o máximo no tempo que lhe resta no clube, projetou uma despedida "de forma digna" e alimentou o sonho da conquista da segunda Copa do Brasil da carreira:
– Quem sabe sair com um título?
Porém, quando questionado se o futuro longe do Corinthians já era garantido, Ramiro ponderou que as decisões contra o Flamengo podem mudar todo o cenário.
– Não descarto a renovação, mas até agora nada foi conversado.
Contratado pelo Timão no fim de 2018, Ramiro disputou 111 jogos e fez seis gols pelo clube. Apesar do título paulista de 2019, o jogador admite que esperava mais.
No ano passado, ele foi emprestado ao Al-Wasl, de Dubai, onde diz ter vivido "uma experiência bem marcante e especial". No papo com o ge, Ramiro comentou em detalhes a passagem pelos Emirados Árabes, revelou o teor da conversa com o técnico Vítor Pereira na volta ao Corinthians e falou dos planos para a carreira. Confira:
Você atuou em praticamente todos os jogos do Al-Wasl, de modo que muita gente acreditava que você poderia ficar no clube após o período de empréstimo. Você também tinha essa expectativa ou já sabia que iria retornar ao Corinthians?
– A grande realidade é que eu voltei de lá faltando seis meses para encerrar o contrato aqui. Naquele momento, para continuar lá, o clube teria que fazer a compra, aportar o valor financeiro. Ficando seis meses livre, seria difícil um clube pagar, sendo que eu poderia ser comprado de graça em seis meses. A não ser se eu tivesse tido um resultado esportivo extraordinário, mas não foi o que aconteceu. A gente não conseguiu ganhar nada.
– Na minha função, do meio para trás, joguei muito de volante lá, acabei não fazendo muitos gols. Então essa compra acabou não acontecendo. Voltei para o Corinthians procurando encerrar o meu contrato me dedicando da melhor maneira possível, de forma digna. Temos a final da Copa do Brasil agora, então quem sabe não sair com um título, não há nada mais gratificante.
E como foi o retorno ao Corinthians? Você acreditava que teria chances de jogar em tão pouco tempo, como aconteceu?
– Quando eu retornei, finalizando o contrato lá, sabendo que não ficaria, me foi passado que eu seria atleta do clube, como sempre fui. Se o treinador optasse por me utilizar, eu estaria à disposição, e estaria a cargo dele usar ou não. Eu já vinha no meio de temporada, um treinador que eu não conhecia, ele não me conhecia, e fomos construindo essa relação, comigo trabalhando e me dedicando como sempre fiz. Fui conquistando meu espaço aos poucos e recebi a oportunidade contra o Avaí.
– A partir daí, acho que só não fui relacionado contra o Atlético-GO. É uma busca diária. Eu quero estar entre os 11, como qualquer um que está no elenco. Mas eu entendo que eu cheguei no meio do processo, meu contrato acabando agora, e sei que pesa negativamente para mim. Mas eu estou com a minha cabeça tranquila, procurando ajudar o grupo e o clube da forma que posso. Estou muito feliz em retornar e ter mais esse semestre dentro do clube, no qual me acolheu, um grupo que tenho um carinho enorme, amigos que vou levar para o resto da vida.
Como foi a recepção pelo técnico Vítor Pereira?
– A questão pessoal é bem diferente do europeu com o brasileiro. Somos um povo mais acolhedor e caseiro, o europeu já é mais diferente. Tivemos uma conversa logo na chegada, mas não é uma conversa que se estende muito, é mais simples, objetiva. Ele abrindo as portas e dizendo tipo assim, cara, é contigo, trabalha e busca seu espaço, você está na mesma condição de todos no elenco, eu não te conheço, não trabalhamos juntos, então trabalha para conquistar seu espaço, se você merecer... Não tem privilégio, tratamento diferente...
– Foi o que conversamos, e foi a forma que encarei todo esse processo, tendo que mostrar trabalho, arregaçar as mangas, algo que não é novidade para mim. Aos poucos vamos recebendo oportunidade, vai buscando retribuir, com trabalho e muito respeito, que sempre teve desde o início com o Vítor e sua comissão. Da minha forma, do mesmo jeito, tudo muito recíproco, tentando ajudar da melhor maneira. Acima de tudo está o Corinthians, o objetivo do grupo, e eu cheguei para somar e ajudar da maneira que acharem necessário.
Mudou muito o Corinthians que você deixou em 2021 para esse que encontrou em 2022?
– Muda a forma de trabalhar, né? Com certeza. Cada comissão implementa os seus pensamentos, os seus ideais, o que pensa na forma de treinar e jogar. Foi a primeira vez que trabalhei com o treinador estrangeiro, e, também, muda isso de ter que se adaptar, mas perfeitamente normal dentro do futebol. Temos que respeitar as opiniões e seguir o que a comissão pensa de melhor para todo mundo.
A concorrência também aumentou, não é? No seu setor chegaram Maycon, Paulinho, Fausto Vera...
– Sem dúvidas. As contratações, principalmente para o meio, dispensam comentários. Todas elas qualificaram o elenco de uma maneira absurda. Não só no campo, mas também no vestiário, pessoas com uma bagagem que fortalece o grupo. Eu procuro, em cada situação da minha carreira, extrair o máximo que puder dos meus colegas, do grupo. Agora tenho jogado menos, mas procuro estar sugando de quem está jogando, desses excelentes profissionais, e até me espalhar no dia a dia, no que eles fazem, procurando acrescentar no meu jogo. Se não estou ajudando tanto em campo, procuro acrescentar do lado de fora como posso e, também, aprender muito com esses atletas.
Foi difícil se readaptar ao futebol daqui?
– A forma e a velocidade do jogo mudam. Nessa transição para cá fiquei um mês de férias na minha cidade. Então, quando volto, a parte física estava abaixo. Treinei nas férias, mas não estava no nível dos demais que estavam em meio de temporada. E a velocidade do jogo é diferente, demorei um pouco para pegar no tranco, mas já estou em perfeita sintonia com o futebol brasileiro.
Com o Corinthians na final da Copa do Brasil e Vítor Pereira fazendo um revezamento do elenco, você acredita que pode ganhar chances nas partidas que restam do Brasileirão?
– O principal objetivo e desejo pessoal é que todos estejam à disposição nessa reta final, principalmente na Copa do Brasil. A gente sabe que o ano está direcionado para esses dois jogos, uma possibilidade real de conquista. No Brasileiro temos que ser realistas, ficou difícil. Então todos querem estar à disposição para esses dois jogos. Vamos nos entregar de forma absurda no dia a dia, nos dias que antecedem esses jogos, para chegar com o tanque cheio. Serão jogos difíceis, mas representamos uma camisa muito pesada, vamos dar o nosso máximo para conseguir essa conquista para o clube.
Você falou em sair com título e ter um adeus de forma digna. Já dá como certa a saída do Corinthians?
– Isso aí acaba sendo muito vago, porque ainda tenho três, quatro meses de contrato para cumprir, com uma final pela frente. Isso pode determinar muita coisa e, quem sabe, essa história possa ser diferente. Ao que tudo se encaminha hoje, sem uma conversa por renovação faltando três meses, eu podendo fazer um pré-contrato, minha carreira vai seguir de forma diferente. Mas, como falei, vou procurar dar o meu máximo, honrar, até o último dia. Não descarto a renovação, mas até agora nada foi conversado.
– Temos uma final e muita coisa pode acontecer. Não podemos fechar a porta para nada e estou disposto a tudo. Se vier uma renovação, ficarei muito feliz. Se optarmos pelo fim do ciclo, é vida que segue e cabeça tranquila por ter feito meu melhor no clube.
Como você mesmo destaca, ainda tem a disputa de um título pela frente, mas qual é o balanço que faz da sua passagem pelo Corinthians até aqui?
– Em questão de título, assim, eu acho que não foi como eu gostaria. Queria ter marcado meu nome na história de forma diferente, com conquistas mais expressivas, com mais atuações. Fazer cem jogos não é para qualquer um, temos que valorizar, mas em questão de conquistas, quando vim para o Corinthians, era para ter ganho mais. Mas serviu de muito aprendizado e crescimento. Vestir a camisa do Corinthians é algo que me orgulho imensamente. É um clube gigante do futebol brasileiro, tem uma torcida apaixonada, um dia a dia muito intenso, uma montanha-russa de adrenalina, então a gente cresce muito.
– Talvez, como falei, em questão de títulos e atuações, acho que poderia ter sido melhor. Mas me sinto muito orgulhoso de ter vestido essa camisa, ter dado o meu melhor em todos os dias que estive no clube, seja nos treinos ou nos jogos. Fiz amigos. Tenho certeza que, para quem conviveu com o Ramiro dentro do clube, deixei uma imagem legal, de uma pessoa correta, trabalhadora, que sempre procurou o melhor para o Corinthians.
O que foi mais prazeroso e o que foi mais difícil nesse período no clube?
– Vivi no Corinthians três temporadas e, dentro dessas, talvez, uma e meia, na pandemia, sem o torcedor. E sabemos que no Corinthians é o 12º jogador, uma força absurda que vem da arquibancada. Isso fez falta em um ano e meio da minha passagem, então foi extremamente desafiador. A montanha-russa de cobrança é imensa, tanto de parte da imprensa, de parte do torcedor, por estar vestindo a camiseta de um clube tão forte. Isso faz parte para amadurecer na marra, não que no Grêmio não tivesse cobrança, mas no Corinthians a exigência e cobrança é maior.
– É vencer sempre, a todo custo, qualquer momento, todas as competições, então isso te fortalece, faz com que tu cresças. E gratificante acho que é jogar com a casa cheia, sentir a energia da arquibancada. É o dia a dia do clube ser muito bacana, de funcionários, cria-se uma família dentro do CT, um lugar que te deixa à vontade para dar o melhor, pessoas que querem seu bem, pessoas que torcem para o clube de fato. O que determina são os 90 minutos de jogo, mas tem muita coisa envolvida num processo de bastidor, isso era muito bacana, um combustível para nos doarmos cada vez mais.
Você já pode assinar pré-contrato com qualquer clube. Tem recebido propostas?
– Para ser bem sincero, tenho tentado não me envolver nisso, deixando para quem gere minha carreira, focando no meu trabalho. A gente está entrando em uma reta final de temporada, vislumbrando um título, então minha cabeça tem que estar focada e 100% voltada para o Corinthians, para esses jogos que podem mudar o destino do meu próximo contrato, digamos assim, do meu próximo desafio como atleta. Então quero tratar disso... Este ano encerra mais cedo, metade de novembro, aí eu penso como vai ser o Ramiro de 2023, os próximos anos da minha carreira.
Voltando um pouco no tempo, como foi viver e jogar nos Emirados Árabes Unidos?
– Foi uma experiência bem marcante e especial para mim e minha carreira. Esportivamente, não é uma liga que se destaca, que está no top-10 do mundo, mas, como pessoa e família, foi um lugar e uma temporada que acrescentaram muito para mim. Questão cultural, de outra língua. Para a minha família também, a forma como a comunidade nos acolheu. Estávamos com uma comunidade de brasileiros lá, um pessoal que eu já tinha trabalhando antes, e isso facilitou muito a adaptação. Foi uma experiência muito bacana e gratificante para nós.
Seu balanço é de que a transferência para o Al-Wasl valeu a pena?
– Foi importante sim. Eu nunca tinha tido a oportunidade de sair do país, então eu tinha esse desejo de conhecer outra cultura, entender outros processos. E lá pude experienciar um pouco disso. Apesar de, esportivamente, a liga não ser tão forte, por eu estar com uma comissão brasileira, conseguia fazer bastante complemento de treinamento, bastante trabalho de academia, coisa que não temos tempo no Brasil. Então foi bem bacana e especial na parte de treinamento, que consegui manter um nível alto e frequentar mais a academia para evitar lesões, a parte de força, consegui fazer um trabalho legal nesse lado.
Em Dubai você treinava mais do que no Brasil?
– Na verdade, a carga coletiva é menor. O treinamento é menor, os jogos são menos intensos, mas aí vai de cada um buscar um complemento. Eu, sabendo que minha carreira não se encerraria ali, me preparei como me preparo no Brasil, tenho que me preparar para os próximos desafios sempre. Como estrangeiro lá, minha ideia era acrescentar algo para eles, se não, não tem sentido levar algum estrangeiro para lá. Esse foi meu pensamento sempre.
E você era titular absoluto do Al-Wasl, certo?
– A questão de jogabilidade foi muito boa para mim. Em jogos válidos, acho que só fiquei fora do último por uma pancada, mas também já não valia muita coisa. Foi legal. Conseguimos chegar na semifinal de uma copa, acabamos perdendo de uma maneira louca, digamos assim. Mas o trabalho foi bacana, abri portas com a comissão técnica, com uma liga, quem sabe em um futuro surja a oportunidade de trabalhar lá novamente.
A adaptação cultural foi fácil?
– Na realidade, Dubai em si já é muito ocidental, tem muito estrangeiro, então tu não via muito a parte cultural deles, o muçulmano, o islâmico. A gente acabava mais vendo no clube, onde tinham os locais. Tu via a questão da vestimenta, da oração, da religiosidade, da alimentação, da forma que eles costumam... A gente teve uns quatro jantares com comida local para nos incluirmos no processo deles, uma questão bem bacana. Fora as refeições no clube, você senta com os locais, vai conhecendo a cultura que é bem diferente da nossa, mas aprende a respeitar, entender e cultivar, além de compartilhar em determinados momentos.
Conseguiu seguir acompanhando o futebol brasileiro mesmo vivendo longe?
– Eu acostumei viver, de fato, lá. A liga, a cultura, nosso fuso horário, era totalmente virado para lá. Meu filho estudava lá, tinha que dormir cedo, então eu me adaptei ao fuso horário de lá. Eu só conseguia assistir aos jogos de domingo, quatro da tarde, porque lá era onze da noite. Os demais eu não conseguia, só via os melhores momentos, conversava com amigos ou assistia à reprise. Mas os jogos, ao vivo, dificilmente consegui acompanhar porque estava de fato com a cabeça voltada para dar o melhor lá.
Ao que parece, você gostou. Voltaria a jogar e viver em Dubai?
– Foi uma experiência bem especial para mim e minha família. Agora que sou pai, acabei abrindo a mente para outras possibilidades na profissão. Mas agora eu estou dedicado 100% no Corinthians, em encerrar meu vínculo da melhor maneira possível, com honra, dando meu melhor para o clube. A partir do ano que vem, torcemos para acontecer o melhor e deixamos para quem cuida da minha carreira.
Mano já deu a fila anda Ramiro boa sorte em seu novo clube.
Ai entra na decisao contra o flamengo faz o gol do titulo ou evita um gol q tira o titulo do timao e ai todo mundo por num prdestal e renovam. Precisa mostrar algo diferente Ramiro pra renovarem com vc.
Deus me livre de renovar com Ramiro, perna de grilo