Quanto é importante um diálogo em quaisquer circunstâncias? Quero falar sobre esse tema relacionando o futebol.
"Eu mando e você obedece", sem que tenha uma conversa para se encontrar o melhor, é um método totalmente arcaico e ditatorial.
Num trabalho coletivo, como é o futebol, com jogadores de diferentes personalidades e características, melhor é sempre ter um relacionamento aberto às opiniões.
Lá atrás, nos anos 80, era assim que decidíamos as coisas na Democracia Corintiana. Desde as mais simples até as mais importantes, sempre na conversa, no voto e com todos tendo a mesma importância.
Claro que o comando precisa de pessoas que não sejam ditadoras e respeitem a opinião dos outros.
Foi dessa maneira que Róger Guedes e Vítor Pereira se entenderam.
O Róger vinha jogando como centroavante, de costas para o gol e encaixotado no meio da defesa, sem condições de usar sua melhor característica de agressividade: o um contra um de frente.
Estava sendo muito criticado por alguns, ao meu ver com injustiça. Minhas críticas eram pela insistência de o escalarem numa posição desconfortável.
Uma vez ou outra, caso seja necessário, tudo bem, mas eliminar uma peça agressiva e decisiva eu achava um grande erro.
O Róger Guedes já tinha deixado claro na época do Sylvinho que não gostava de jogar ali e ficava nítido o seu descontentamento.
Ele decide conversar com seu treinador, Vítor Pereira, pedindo para jogar na sua, ou seja, aberto na esquerda – do jeito que estava jogando e decidindo jogos quando foi contratado.
No Brasileiro de 2021, ele decidiu um clássico contra o Palmeiras jogando por ali, e em outros jogos também.
O importante da história foi que o Vítor Pereira deu essa abertura para ele, ouviu e decidiu em comum acordo com o Róger em colocá-lo onde ele pediu contra o Avaí.
Aí foi aquilo que todos vimos: o Corinthians fez três gols, todos com o Róger Guedes.
Ali ele se torna um jogador muito difícil de ser marcado, por ser muito agressivo e porque parte para cima do adversário todas as vezes com velocidade, técnica e dribles. Dois dos três gols que fez foram na posição de centroavante, mas em movimentação, não parado tentando arrumar um espaço para finalizar.
Depois de ser o melhor em campo e sair superaplaudido, de pé, por todos na Neo Química Arena, percebeu-se um semblante leve e feliz. Afinal de contas, o Róger foi para esse jogo com uma enorme responsabilidade de mostrar que estava certo na sua reivindicação de jogar aberto pela esquerda. Eu nunca tive dúvida de que esse é o lugar verdadeiro para ele jogar.
Mas o melhor da história foi a entrevista coletiva do Vítor Pereira no final do jogo, quando ele admite que tinha que dar razão ao Róger.
Pronto: diálogo, respeito e consideração podem resolver a maioria das situações.
Democracia é tudo que pode existir de bom!