São Paulo x Corinthians, semifinal do Campeonato Paulista, Morumbi lotado. Garotos de um lado, estrelas do outro. O cenário vale para o Majestoso deste domingo (27), mas também era assim em 2000, em um recorte histórico que ajuda a explicar a importância do clássico desta tarde e que marcou a vida de um jovem de 21 anos.
Naquele 3 de junho de 2000, Edu marcou os dois gols da vitória são-paulina por 2 a 0 sobre o Corinthians e garantiu a vaga na final, que o Tricolor venceria mais tarde, contra o Santos. Foi a última vez que o clube do Morumbi eliminou o rival em um mata-mata. Desde então, são nove classificações seguidas do Timão.
O herói daquela tarde custa a crer que aquela foi a última classificação do São Paulo sobre o Corinthians. Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, Edu lembrou com carinho da, possivelmente, grande atuação sua com a camisa tricolor e até se divertiu ao recordar as brincadeiras no vestiário após decidir o Majestoso.
Sem França, o São Paulo encarou o Corinthians com Evair ao lado de Edu no ataque. Após vitória por 2 a 1 no primeiro jogo, com dois gols de Marcelinho Paraíba, o Tricolor saiu na frente dez minutos antes do intervalo, quando Edu aproveitou cruzamento de Fábio Aurélio e cabeceou no canto direito de Maurício.
Edu ainda faria o segundo no fim da etapa final, em chute rasteiro após passe de Sandro Hiroshi, mas foi o gol que abriu caminho para a vitória que gerou os comentários mais engraçados dos companheiros, no vestiário, logo após a classificação confirmada. Afinal, Edu namorava a irmã de Fábio Aurélio, que se tornaria sua esposa logo depois.
"Tinha aquela situação de um pouco de zoação entre os caras comigo e com o Fábio, que é meu cunhado. Depois do jogo com o Corinthians, foi uma zoação total no vestiário, brincaram que era um gol em familia (risos)", relembrou Edu, então camisa 28 do São Paulo e que vivia sua primeira grande sequência como titular da equipe.
O "gol em família", aliás, já havia acontecido muitas vezes na base, garante o ex-meia-atacante.
"Já tinha o entrosamento com o Fábio desde a base, sempre jogamos juntos. Dividimos mesmo quarto na base e além de tudo tinha a situação familiar. É uma coisa que na base acontecia muito. Fiz muitos gols de cabeça quando o Darío [Pereyra] era nosso treinador. Em 2000 nós jogávamos muito em transição. Corinthians estava atacando, nós saímos rápido para o ataque, rodou a bola até a esquerda para o Fábio, ai eu acabo antecipando o Adilson", narrou Edu, para depois falar da jogada do segundo gol.
"Foi uma roubada de bola, a bola cai no pé do Hiroshi. Rapidamente eu estava aberto pela esquerda. Ele dá o passe para mim, Marcelinho puxa a marcação, eu acabo cortando para dentro. Chute não saiu forte, mas saiu bem colocado, no contrapé do Mauricio. E ali era um resultado que o Corinthians dificilmente ia reverter. Logo depois teve uma expulsão do Fábio Luciano. Passamos um bom tempo tocando a bola, a torcida com aquela situação de olé da torcida".
O título paulista coroou um grupo que Edu guarda com muito carinho. Aquele São Paulo tinha Raí e Evair como os jogadores mais experientes, outros já consolidados no futebol nacional (Rogério Ceni, Vágner, Marcelinho Paraíba e França), alguns que buscavam a volta por cima em novas posições (Belletti e Edmilson) e a turma de garotos, da qual Edu e Fábio Aurélio faziam parte. O zagueiro Álvaro e o volante Fabiano eram outros integrantes.
"O elenco era recheado de grandes jogadores. Era um grupo muito humano, muito mesmo. Chamava o Evair de 'vô', um cara super bacana, que ajudava com sua experiência. E jogar com o Raí era incrível, porque sempre foi meu ídolo de infância. Terminei jogando com meu ídolo e sendo campeão com ele. Lembro muito do Vagner, também, que me dava muita confiança nos jogos. Ele dizia: pega a bola, vai para cima, decide para nós que aqui eu seguro", conta Edu.
Em 2000, o São Paulo ainda chegou à final da Copa do Brasil, em uma campanha que atormenta uma geração de torcedores até hoje. Após empate sem gols no Morumbi, o Tricolor saiu na frente do Cruzeiro no Mineirão, gol marcado por Marcelinho Paraíba, mas levou o empate, de Fábio Júnior, e a virada no último minuto, em falta cobrada por Geovanni, no meio da barreira. O sonho do título inédito, que até hoje não foi conquistado, escapou ali.
Logo depois, a diretoria optou por desmanchar o elenco. Sem Vágner, que já havia ficado fora contra o Cruzeiro, o clube vendeu Edmilson ao Lyon, Álvaro ao Las Palmas, Marcelinho Paraíba ao Olympique de Marselha, Fábio Aurélio ao Valencia e Edu ao Celta de Vigo, arrecadando quase US$ 30 milhões, uma soma gigantesca em uma época que as principais transferências do futebol europeu custavam nessa faixa.
"Aquele elenco de 2000 deu bons resultados, dentro e também fora de campo, já que muitos acabaram sendo negociados. É uma situação naquele momento que cada um saiu para uma situação que acabou sendo boa para quem saiu e para o São Paulo, mas tínhamos na cabeça que, se o time tivesse um pouco mais de sequência, brigaria por titulos maiores", disse Edu, que se aposentou em 2012, nos Estados Unidos, e hoje atua como empresário de jogadores.
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