“Minha história é esquisita e muito legal porque eu tive na verdade três começos no futebol. Você vai gastar muitas páginas para contar”.
Entre os mais de 30 times que passou na longa carreira, Finazzi tem uma grande ligação com São Paulo e Corinthians, adversários na semifinal do Campeonato Paulista, neste domingo. Se o Timão foi o clube que o fez ficar mais conhecido no cenário nacional, foi no Tricolor que ele teve uma mudança drástica na vida...
O primeiro começo
Finazzi jogava futebol nos times amadores de São João da Boa Vista. Após ser artilheiro dos Jogos Regionais, ele foi chamado para jogar a Série A2 do Paulistão pelo Palmeiras de São João da Boa Vista, aos 17 anos.
“Quem me marcou foi o Wladimir (ídolo do Corinthians) no Central Brasileira de Cotia, com um gol meu. Depois fiz mais três jogos e marquei mais um gol”, contou.
Em seguida, ele foi levado para os juniores do Guarani, onde ficou por dois anos.
“Tive poucas chances porque tinha Luizão e Amoroso e não joguei. Nisso, entrei na faculdade de Engenharia Civil da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, em 92. Tentei fazer as coisas ao mesmo tempo e não consegui porque ficou muito puxado. Minha família conversou comigo porque estava desanimado e acabei largando o futebol no ano seguinte”.
Ele passou a levar a vida de um universitário comum até 1996.
“Fui professor particular de matemática a vida toda. Sempre tive facilidade, mas era horroroso em todo o resto! Nas matérias mais difíceis como cálculo, mecânica e resistência de materiais eu era o monitor da classe. Era muito bom aluno e gostava de engenharia. Não pensava mais em ser profissional do futebol”, admitiu.
Enquanto isso, o então estudante jogava todos os torneios da faculdade e os campeonatos amadores em São João da Boa Vista-SP, sendo artilheiro em vários deles.
“Eu tinha três amigos que eram inconformados por eu não ser jogador. O pai deles era amigo pessoal do Mauro Ramos de Oliveira, capitão do Brasil campeão da Copa do Mundo de 62 e ídolo do São Paulo. Eles usaram o nome dele para que eu pudesse fazer um teste no São Paulo, que era comandado pelo [técnico Carlos Alberto] Parreira".
O segundo começo
Em 23 de outubro de 1996, Finazzi chegou ao Tricolor para um jogo-treino com a equipe principal contra o Garça, que disputava a Série A2 do Estadual.
"Não tinha ambição de dar certo porque sabia que seria praticamente impossível passar em um teste no São Paulo aos 23 anos. Achei que ia treinar com os juniores ou fazer só um coletivo com os reservas. Eu sabia jogar e fui mais para conhecer o clube mesmo. O Parreira me recebeu de uma forma sensacional e os jogadores me deixaram muito à vontade", contou.
O jogador entrou depois do intervalo, quando o São Paulo vencia por 2 a 1. Em 28 minutos em campo, o atacante fez três gols.
"Nisso, ele me tirou do jogo porque já estava um pouco cansado e um pouco acima do peso. No dia do teste foi muito engraçado e muito inesperado. O lateral-direito gritava: ‘Toca pro matador’. Meio que na zoeira, mas falando sério. Depois do terceiro gol foi um auê e saiu na imprensa toda. Uma galera querendo me entrevistar e meus amigos não acreditavam. Toda vez que encontro o Parreira, ele junta quem está perto e conta a minha história. Acho que ficou marcado para ele também. Sou muito grato".
Finazzi conta que foi convidado para ficar no São Paulo treinando no time profissional, mas sem poder atuar porque o prazo de inscrições para os campeonatos já havia terminado.
"Nesta época, eu pensei: 'Se recebi essa oportunidade, é da vontade de Deus que eu seja jogador de futebol'. Minha família quis morrer porque faltavam só dois anos para me formar. Infelizmente, a preparação física era muito diferente naquela época e eu sofri muito para entrar em forma".
O jovem trancou faculdade aos 23 anos e ficou no São Paulo até o começo de 97, quando Muricy Ramalho já era o técnico no lugar de Parreira.
"Antes de começar os campeonatos, ele precisava escolher um atacante para ser dispensado. Ficou entre eu e o Dodô, e acabei sendo mandado embora. Se eu fosse o Muricy teria feito a mesma opção, porque o Dodô tinha oito anos de São Paulo e eu era um engenheiro querendo ser jogador de futebol. Mas o Muricy gostou tanto de mim que depois me indicou para o Náutico e para outros clubes".
Ao sair do São Paulo, Finazzi achou seria fácil arrumar outra equipe, mas aconteceu exatamente ao contrário.
"Eu passei dois anos por vários times e em alguns eu fui bem e em outros fui mal. Uma vez fui mandado embora depois de uma partida em que fiz dois gols. E a justificativa era sempre a mesma: a minha idade avançada".
O terceiro começo
O atacante estava disposto a voltar no começo de 1999 para faculdade, mas em dezembro de 1998 foi chamado por Mirandinha (ex-Palmeiras, Newcastle e Corinthians) para jogar um amistoso contra o São José-SP.
"A gente perdeu de 5 a 0 e só peguei na bola uma vez. Eu sai driblando os zagueiros e o cara tirou pra escanteio. Só que o pessoal gostou desse lance e queriam me levar, mas o Mirandinha disse que eu iria com ele para ser reserva do Adalberto no Goiânia".
"Eu aceitei e disse que só gostaria de ter uma oportunidade na hora certa. Só não queria ser dispensado sem ter jogado um partida. Cheguei no dia 10 de janeiro de 99, e o Adalberto só viria dez dias antes do campeonato começar. Eu vinha muito bem na pré-temporada e agradando ao pessoal. Nisso, o Adalberto chegou ao time e me disse: 'Finazzi, se prepara porque você vai jogar. Só vim avisar que estou com o ligamento cruzado do joelho estourado'. Fiquei triste por ele, mas era a chance que eu precisava há oito anos".
No Goiânia, o atacante deslanchou. Em seguida, começou a fazer gols por várias equipes como Goiás, Vila Nova, Fortaleza, Ponte Preta e América-SP. Em sua passagem pelo Corinthians, Finazzi foi artilheiro do time no Brasileirão de 2007 e um dos poucos poupados pela torcida após o rebaixamento para a Série B.
Ele jogou até 2014, aos 41 anos, quando pendurou as chuteiras.
"Eu tive 52 passagens por equipes e defendi 36 times diferentes. Só no Goiânia foram sete vezes! Uma vez falaram de Guinness Book [o livro dos recordes], eu não tinha muito tempo e não dei muita importância. Eu acho bem legal se o Guinness vier atrás e darei todas as informações, mas eu não tenho a preocupação de ir atrás”.
Desde então, ele tem se dedicado para ser treinador.
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