Dizem, e eu concordo, que o combinado não sai caro. Mas... e quando se muda a regra com o jogo em andamento? No mundo jurídico e no corporativo, isso se chama insegurança jurídica e é algo abominável. Outro exemplo: imagine-se um estudante. O professor diz qual matéria cairá na prova, e informa que você terá 3 horas para resolvê-la. Aí, na hora H, a prova vem com uma matéria mais avançada, ainda não dada em sala. Além disso, quando se completa uma hora e 40 minutos de prova, o professor a retira de sua mão, dizendo que mudou de ideia e o tempo acabou. Provavelmente você não teve tempo de resolver boa parte das questões. Ou, pior: se é daqueles que resolve tudo no rascunho e usa a última hora para copiar as respostas oficiais na folha, vai tirar zero mesmo sabendo o conteúdo. É exatamente isso que parte da torcida do Corinthians, parte da mídia, os corneteiros do clube - felizmente não o presidente - estão fazendo com Sylvinho.



É impressionante como cinco meses, tempo de trabalho dele no clube, são suficiente para uma amnésia total sobre como estava o Corinthians. Sem elenco, sem dinheiro, fazendo contas para não se aproximar demais do Z-4. Wagner Mancini, que fazia um trabalho razoável com o que tinha nas mãos, é demitido. E, nesse contexto árido, chega um treinador barato. Aliás, nem sei se é barato, mas deveria ser. Afinal, é jovem, tem pouco tempo de profissão, não tem mídia. O que tinha a oferecer é ter sido jogador do Timão, portanto conhecer bem o clube, e ter trabalhado ao lado de grandes treinadores. Foi contratado para comandar um perfil de elenco: que não tinha opções ofensivas, que buscava uma maior segurança defensiva (como nos tempos de Fabio Carille, talvez), e no qual Mosquito era a grande esperança de desafogo.


Sylvinho entendeu, aceitou, e com pouco tempo começou a estruturar o caminho para equilibrar poucos limões com uma limonada (ficar no meio da tabela). Aí, nesse meio-tempo, o dinheiro brota em Itaquera e chegam Renato Augusto, Giuliano, Roger Guedes e William. Passamos, então, a outro patamar de elenco, com o mesmo patamar de técnico. Culpa de Sylvinho? Obvio que não. Até porque, o resultado veio. Se com o elenco anterior ele já chegara ao meio da tabela, com o quarteto (que pouco pode jogar junto por conta de lesões e falta de ritmo), na nova fase o Corinthians chegou a um inimaginável (no início do Brasileiro) sonhe de Libertadores - quiçá na fase de grupos.


Mas ainda assim a pauta sobre o clube é sempre o que o Corinthians não faz - e não o que faz além do que poderia. Até pelo estilo europeu de vestir, com roupas justas, Sylvinho é discriminado (o que Marcelinho Carioca falou na rede social do clube, embora esperado, foi uma covardia). Onde queriam o Corinthians? No G-4? O quarteto é bom, mas também não falamos de Messi, Mbappé, Neymar e Di Maria, concordam? Se o Corinthians tivesse o time atual quando demitiu Mancini, Sylvinho seria o escolhido? Não. Se fosse, seria um erro, aí sim. Para um time de alto nível, um técnico à altura. Se em 2022 o elenco for mantido, aí sim entendo que se busque um técnico mais experiente. Mas agora? Tirar Sylvinho como se ele tivesse cometido erros graves, como se ele não tivesse feito algo expressivo ao levar o time ao G-6?


Claro que o fato de ser um técnico em desenvolvimento não é salvo conduto para Sylvinho exagerar nos erros. Não concordo com algumas opções que faz, especialmente a escalação inicial no jogo contra a Chapecoense. Mas é perfeitamente compreensível que ele não confie mais integralmente em Jô, que não sinta confiança para trombar com Roger Guedes, que já disse que não quer ser centroavante. Assim, o teste como Renato Augusto não é de todo absurdo. Eu não colocaria dois volantes contra a Chape, daria para segurar os lanternas apenas com Du Queiroz. Mas o Corinthians ganhou, diferentemente do Atlético-MG, que será campeão brasileiro, que empatou com a Chapecoense dentro e fora de casa. E o milionário Flamengo, que de vez em quando entra com Arão, Andreas e Thiago Maia, e não vai com mais volantes porque não pode?



Sylvinho tem o direito de experimentar, porque é esse seu estágio de carreira, e a diretoria do Corinthians deveria saber disso. Contra o Palmeiras (sim, o rival maior, que busca o bi na Libertadores), ele entrou com Cantillo apenas como volante. E ganhou o jogo. Imaginem se perde... sairia desempregado da Arena provavelmente. Então, se você está no grupo dos corneteiros, que pede a saída de Sylvinho, que implica até com a elegância do treinador no vestir, saiba que tem todo o direito de opinar. Mas não reclame se romperem unilateralmente um contrato que você assinou, ou se te tirem a prova antes de o tempo combinado se encerrar....

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