O Corinthians engatou a quinta marcha na temporada de 2021 e acelerou nos resultados: não só está invicto, como também vem de uma sequência de vitórias. No futebol resultadista praticado no Brasil, tal fato não pode ser ignorado.



Mas a troca de marcha é dolorida, arranhada, digna de motoristas ainda inexperientes ou desatentos. O time vence, mas não convence. Na matemática do copo meio cheio ou meio vazio, o desempenho do Timão na classificação na Copa do Brasil, nos pênaltis, diante do Retrô-PE, pesa contra.


A classificação passa por etapas: do aceite em jogar no Rio de Janeiro em gramado de qualidade questionável, da logística difícil em solo carioca, da idade avançada do time titular mesmo com a promessa de usar a base e do domínio do time pernambucano.


Já começou difícil...

Mandante em uma das arenas mais modernas da América do Sul, com gramado de qualidade excelente e infraestrutura de ponta, o Corinthians deixou São Paulo para um tour no Rio de Janeiro por decisão da Federação Paulista e da CBF, a fim de driblar as proibições em São Paulo.


Tolerou, por N fatores (financeiro, entendimento de que os protocolos são seguros, etc...), encarar uma logística difícil e passar pelas cidades de Volta Redonda, Rio de Janeiro e Saquarema em menos de uma semana para jogar pelo Paulistão e decidir vaga à terceira fase da Copa do Brasil.


Chegou no palco do jogo no mesmo dia do confronto, após longa viagem de ônibus, e desfilou um futebol ruim em um gramado pior ainda. A semana foi de incertezas e temor de uma mudança de planos repentina. No fim, em campo, tudo acabou dando certo.


...Ficou pior

Com a promessa de usar e rodar os garotos oriundos das categorias de base do clube, Vagner Mancini colocou em campo apenas um, aquele que parece ter ganhado sua confiança a ponto de rapidamente se tornar titular absoluto mesmo ainda oscilando: Rodrigo Varanda, de 18 anos.


Ao lado dele, Gustavo Mosquito, de 23, formou a dupla dos únicos com menos de 28 anos entre os titulares. O entendimento do técnico corintiano é de que jogos decisivos como os da Copa do Brasil exigem um time cascudo. Segundo ele, escalar garotos para uma partida assim seria o mesmo que expô-los à possibilidade de ficarem queimados perante os olhos da torcida. Jogarão o Paulistão.


Um time cascudo, experiente, mas presa fácil para o ambicioso Retrô. O time de Pernambuco não se intimidou e deixou ao Corinthians módicos 31% de posse de bola no primeiro tempo.


A defesa toda ficou exposta às chegadas contundentes e seguidas do rival. Para o Retrô, pareceu mais fácil construir, trocar passes e preencher os espaços no ataque, mesmo em um gramado ruim.


Para o Corinthians, sobrou levar perigo em lampejos de roubadas rápidas de bola e saídas em momentos raros de desconcentração do time adversário. A sorte de Mancini foi que Otero, finalmente, resolveu tirar o coelho da cartola.


Fator Otero

Melhor em campo pelo Corinthians, o venezuelano destilou todo seu veneno em cobranças de bola parada: escanteio e faltas de longa, média e curta distância. Abriu o placar em lindo lance de perna direita, em cobrança pelo lado esquerdo do ataque. Sem chances para o goleiro do Retrô, Jean.


E seguiu assim: uma, duas, três, várias vezes. Poderia ter feito gol olímpico em batida venenosa de escanteio pelo lado direito do ataque, tentou de perna esquerda, e começou em cobrança de falta ótima jogada ensaiada que terminou em gol inacreditável perdido por Jemerson.


Em processo de definição de seu futuro e com contrato até junho apenas, Otero certamente ganhou mais confiança para tentar convencer a diretoria de que vale a pena investir em seu futebol.
Foi, de maneira até surpreendente devido aos últimos jogos ruins, luz no meio de uma ausência de ideias. O Corinthians não só teve dificuldades na transição e na construção, mas também afrouxou na marcação durante o primeiro tempo.


A "correção de marcação" feita com a entrada de Ramiro, vigoroso e responsável por preencher o meio-campo, no time aos 17 minutos da etapa final só não coroou a noite de Otero pelo castigo que viria pouco depois, em lance isolado de escanteio.

Castigo e redenção

O castigo do Retrô foi aplicado apenas na metade final do jogo. Jô e Gabriel não se entenderam na marcação de Mayco Félix, e Cássio espalmou quando a bola já estava dentro do gol.


Gol que levou a decisão aos pênaltis e colocou à prova a teoria de Mancini sobre escalar um time mais experiente para aguentar o tranco de uma decisão. Fábio Santos, Jô, Ramiro e Fagner. Todos acertaram suas cobranças. Léo Natel completou a lista.


Assim, entre trancos e barrancos, e acelerando "arranhando" a marcha, a classificação veio.


Reflexões

Cabe a Mancini, dono de discurso realista e aparentemente ciente de todos os problemas mostrados por sua equipe nas vitórias mais recentes, refletir. Não só em busca de soluções imediatas, mas também sobre a possibilidade de testar novos (em idade e histórico) jogadores nesse time.


Embora fale em "responsabilidade dividida" pela decepcionante jornada em Saquarema, cairá nos ombros do técnico o peso da decisão em apostar no caminho mais simples. É preciso mudar.



Números finais do jogo

Corinthians x Retrô-PE

39% posse de bola 61%
8 finalizações 14
2 finalizações no gol 3
245 passes 401
69% precisão nos passes 80%
15 desarmes 13

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