A 22.ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro começou ontem sob o impacto de um impressionante aumento de casos de covid-19 entre jogadores, treinadores, membros de comissão técnica e funcionários dos clubes. Até a noite de sexta-feira, pelo menos 56 atletas de 10 times e 4 treinadores estavam contaminados e fora de ação. Somente ontem o Palmeiras, que lidera o "ranking" com 18 casos, afastou mais 5 jogadores.
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A CBF entende que a contaminação não ocorre em campo e não cogita mudar o protocolo neste momento. Para os especialistas ouvidos pelo Estadão, o problema está no descumprimento dos protocolos sanitários por parte dos jogadores. Eles acreditam que os atletas, assim como parte da sociedade, relaxaram em relação ao cumprimento das medidas de segurança.
É o que diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp.
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Os eventos 'superdisseminadores', que englobam batizados, festas de aniversários e qualquer outro tipo de ambiente que tenha mais de seis pessoas e as medidas de proteção não são respeitadas, estão fazendo com que a curva volte a crescer. As pessoas estão banalizando a questão da flexibilização, inclusive os jogadores, que estão sendo flagrados nesses eventos", avalia.
Essa situação, somada às condições de trabalho no futebol, facilita a disseminação do vírus. Um atleta infectado tem possibilidade de contaminar vários outros por causa da proximidade dos treinos.
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Houve um relaxamento das medidas de proteção fora dos clubes. Os jogadores estão se expondo a ambientes onde não é possível manter a proteção. Festas, restaurantes e grupos de amigos. O sujeito que se infecta vai acabar contaminando seus companheiros, já que, pela natureza do esporte, não é possível aplicar distanciamento e uso de máscaras", explica o infectologista Alexandre Cunha.
Atrás do Palmeiras, que registra 18 casos - Gabriel Menino também se contaminou, mas já está recuperado -, estão Atlético-MG, com 11 contaminados, Vasco, com 7. O Santos tinha 9 doentes, mas ontem 6 deles foram liberados por estarem recuperados - Alex, Alison, Sandry, Pituca, Jobson e Jean Mota.
Segundo Naime, se os jogadores seguissem à risca os protocolos de segurança elaborados pelos clubes, não haveria esse tipo de situação. "
Olha o nome: 'concentração'. É óbvio que haverá aglomeração. Se um ou dois não fazem a lição de casa, acaba com a proteção de todos. O jogador, nesse caso, prejudica o próprio clube", explica.
Cunha também acredita que esses casos não parecem ser consequência de falhas nos protocolos dos clubes. Para o infectologista, é mais provável que um indivíduo tenha se contaminado fora das atividades e levado o vírus para dentro dos CTs. "
Os jogadores são jovens e nessa faixa etária a covid-19 é uma doença benigna. Mais da metade dos infectados podem ser assintomáticos, o que torna mais difícil uma contenção a partir da avaliação clínica", afirma.
TÉCNICOS
O surto nos clubes também colocam em risco a saúde dos treinadores e de suas comissões técnicas. Na semana passada, Jorge Sampaoli, do Atlético-MG, e Cuca, do Santos estavam afastados de seus cargos em decorrência da covid-19. O treinador santista chegou a ficar internado e, mesmo tendo testado negativo na última bateria de exames, permanecerá longe de seu posto por cerca de 10 dias. Ele é do grupo de risco por ter problemas cardíacos - há algum tempo passou por cirurgia no coração.
Tanto o Atlético quanto o Santos tiveram dificuldades para repor a presença de seus técnicos em campo. Isso porque até mesmo quem deveria substituí-los foi diagnosticado com a doença. No time paulista, no lugar de Cuca e Cuquinha entrou o auxiliar Marcelo Fernandes. Na equipe mineira, Leandro Zago assumiu interinamente.
Os últimos casos entre os treinadores foram registrados no Internacional e no Sport ontem. O clube gaúcho informou que Abel Braga, que aos 68 anos é do grupo de risco, testou positivo para a doença. Segundo o boletim médico do Colorado, ele está assintomático.
No fim da tarde, a equipe pernambucana anunciou que Jair Ventura não estará à frente do time segunda-feira contra o Atlético-GO, pois também foi contaminado.
ATLETAS CONTAMINADOS
• Palmeiras - 18 casos: Jailson, Vinicius Silvestre, Matías Viña, Alan Empereur, Benjamín Kuscevic, Danilo, Gustavo Scarpa, Quiñonez, Gabriel Silva, Rony, Gabriel Veron, Marino Hinestroza, Pedro Acacio, Raphael Veiga, Willian, Aníbal, Breno Lopes e Alan
• Atlético-MG - 10 casos: Alan Franco, Allan, Vargas, Victor, Réver, Guga, Sávio, Éverson, Jair e Gabriel
• Vasco - 7 casos: Benítez, Carlinhos, Ribamar, Ulisses, Tiago Reis, Fellipe Bastos e Talles Magno
• Coritiba - 4 casos: Ricardo Oliveira, Nathan, Henrique Vermudt e Ramón Martinez
• Fluminense - 4 casos: Egídio, Michel Araújo, Nino e Pacheco
• Santos - 3 casos: Ângelo, Vladimir e Luan Peres
• Fortaleza - 3 casos: Osvaldo, Yuri César e Paulão
• Ceará - 3 casos: Saulo, Gabriel Lacerda e André Luiz
• Corinthians - 3 casos: Jemerson, Jô e Mateus Vital
• Internacional - 1 caso: Daniel
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