24/7/2018 17:45

Romero fala sobre sua possível saída e preconceito no futebol

Com o seu jeito provocador, o paraguaio Ángel Romero enfrentou o preconceito no futebol brasileiro para virar líder de um Corinthians em desmanche. Ele próprio, no entanto, é reticente sobre a sua longevidade no clube paulista

Romero fala sobre sua possível saída e preconceito no futebol
Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press

Apenas alguns metros separavam o paraguaio Ángel Romero da cadeira onde ele concederia esta entrevista exclusiva para a Gazeta Esportiva. No curto trajeto do gramado do CT Joaquim Grava até o local, porém, o atacante era interrompido a cada dois passos por torcedores que assistiam ao treinamento do Corinthians, ávidos por fotografias e autógrafos. Nenhum outro jogador parecia ser tão assediado quanto ele.

Após dar atenção ao último dos seus fãs, Romero também foi gentil para responder até sobre os tempos de ostracismo em que podia caminhar pelo CT sem ser requisitado por torcedores ou jornalistas. No Corinthians desde junho de 2014, ele sofreu bastante para conquistar o seu espaço no clube. Pensou em deixar o Brasil quando nem sequer era relacionado pelo técnico Tite e ainda se sentia vítima de xenofobia por ter virado alvo de chacota.

Como um bom corintiano, Romero soube sofrer. Firmou-se como titular depois de muito tempo e finalmente pôde apresentar à torcida o seu lado catimbeiro. Provocou todos os rivais do clube – teve uma atuação de gala e abusou das jogadas de efeito em uma histórica vitória por 6 a 1 sobre o São Paulo, chamou o Santos de “time pequeno” porque a torcida adversária comemorava um empate por 1 a 1 com o Corinthians e tirou selfies e equilibrou a bola com a cabeça, trazendo à memória Edílson Capetinha, contra o Palmeiras.

“Vocês acham que sou catimbeiro?”, perguntou um sorridente Ángel Romero, antes de fechar o semblante para defender que futebol “é um jogo de homem”. A contundência não foi a mesma quando o assunto era a sequência da carreira no Corinthians, que vivencia novo desmanche sob o comando do presidente Andrés Sanchez. O contrato do paraguaio, que tem novos empresários, vencerá em 14 de julho de 2019, e ele catimba também para se posicionar sobre o futuro. Não quer se comprometer como fez Paolo Guerrero, o centroavante peruano por quem torceu no Mundial de Clubes de 2012 e passou a ser odiado quando rumou para o Flamengo.

Gazeta Esportiva: Antes de o Campeonato Brasileiro voltar do recesso, o Cássio se posicionou sobre a reformulação do elenco e citou alguns jogadores como incumbidos de liderar o Corinthians a partir de agora. O primeiro nome que ele falou foi o seu. Você já se vê como uma referência?
Romero: Sim. Porque todo o mundo está indo embora, e eu estou ficando, né (risos)? Mas é verdade. Eu já me considero um cara… Não sei se um líder, mas um jogador importante dentro do clube, pelo tempo que tenho aqui. Os líderes, os caras que conquistaram tudo, são o Cássio, o Danilo, o Emerson… O Fagner também, que chegou junto comigo. Da minha parte, já conheço muita coisa, sei como é jogar clássicos, como se conquista títulos. Isso é importante para a história de um jogador dentro do clube. Só que sempre fico na minha. Não falo muito. Os líderes são o Cássio, o Danilo, o Emerson, o Fagner… Ah, o Jadson, que está aqui faz tempo, também.

Gazeta Esportiva: O Balbuena, seu compatriota, era outro atleta que exercia papel de líder no Corinthians. Hoje, aquelas bandeiras do Paraguai que a torcida leva ao estádio são apenas em sua homenagem. (O zagueiro paraguaio se transferiu para o West Ham, mesmo clube inglês que, no passado, tirou os argentinos Tevez e Mascherano do Parque São Jorge.)
Romero: Na verdade, a torcida já levava as bandeiras antes de o Balbuena chegar ao Corinthians. O Balbuena falava que eram para ele, mas eram para mim (risos). Não, não, estou brincando.

Gazeta Esportiva: Tem sentido falta do Balbuena?
Romero: Fiquei triste pela saída dele, mas feliz por ele. Falei para ele que estava contente por ver um amigo jogando em um campeonato muito competitivo. Não sei se esse é o sonho do jogador brasileiro, mas é o sonho do jogador paraguaio. Todos querem chegar ao nível mais alto possível na carreira. E o mais alto é a Premier League.

Gazeta Esportiva: Esse ainda é o seu sonho também?
Romero: Então… sim, é um sonho que tenho. Ninguém vai falar que não. Todos os jogadores paraguaios sonham em disputar uma liga forte, competitiva. Estou conseguindo isso no Brasil. A liga brasileira é, sim, muito competitiva, uma das mais importantes do mundo. O Balbuena saiu e vai enfrentar times fortes, valorizados e conhecidos por todos. Fico feliz por ele, mas triste por ter nos deixado. Eu já estava bem próximo dele, da família dele. A minha mulher saía e falava muito com a esposa dele. É ruim por esse aspecto.

Gazeta Esportiva: No mês passado, você declarou que sonhava em atuar na Europa, mas antes de conhecer o Corinthians. Para um jogador, é mais importante fortalecer essa imagem de ídolo do que…
Romero: Não, não. Ídolo, ainda não.

Gazeta Esportiva: De certa maneira, sim. Você é o artilheiro do estádio do Corinthians, com 24 gols, e o estrangeiro que mais vezes defendeu o clube, com 194 partidas. (O colombiano Freddy Rincón atuou 158 vezes nas suas duas passagens, entre 1997 e 2000 e em 2004.)
Romero: Tenho status de um jogador importante dentro do clube, mas não sei se já estou na história. Estou por ser o estrangeiro que mais vestiu a camisa do Corinthians, né? Mas o tempo passa. Virão outros estrangeiros, caras que aumentarão essa grande história do clube.

Gazeta Esportiva: E, afinal, é melhor aumentar essa grande história também ou seguir o caminho do Balbuena?
Romero: Quando você me pergunta se sonho em jogar em uma liga competitiva, é claro que respondo que sim. Tenho esse sonho de, um dia, jogar em uma liga importante, conhecida, da Europa. Mas estou muito feliz no Corinthians, cara. Falei, sim, que sonhava ainda mais com isso antes de conhecer o Corinthians, e menos agora. Hoje, conheço o Corinthians, sei o que é o Corinthians e não sei o que Deus me reserva para o futuro.

Gazeta Esportiva: Para muita gente, o fato de você ter passado a ser cliente da OTB Sports seria um indício de que o seu ciclo no Corinthians estaria chegando ao fim. (A OTB é empresa dos agentes Bruno Paiva e Marcelo Goldfarb, que, por exemplo, levou Guerrero do Corinthians ao Flamengo em 2015.)
Romero: Não foi por isso que assinei com eles. A minha parceria com eles se deu por outras coisas, porque gostei do projeto que fizeram para mim. Não é por causa de transferência. Até porque existem muitos empresários que podem fazer a mesma coisa – pegar um jogador daqui e mandar para fora do Brasil. Então, não foi por isso. Já falei para eles que estou muito feliz no Corinthians e que Deus decidirá a minha vida. Sempre falo que deixo nas mãos de Deus.

Gazeta Esportiva: Foi assim que, há quatro anos, você veio parar no Corinthians?
Romero: Quando recebi a proposta para vir para cá, não pensei duas vezes. Tudo aconteceu muito rapidamente. Foi em uma quinta-feira, como sempre lembro. Eu estava no Cerro Porteño, e o meu empresário falou que tinha recebido uma proposta do Corinthians, que estava bem perto de fechar. Ele me contou que eu deveria escolher a data e o horário da reunião com os caras do Corinthians. Falei que queria para o dia seguinte. Aí, já gostei da proposta e fechei tudo com a diretoria.

Gazeta Esportiva: Na sua apresentação, chamou a atenção você relatar que era corintiano na infância. Soou estranho que essa paixão tenha sido cultivada no Paraguai.
Romero: Comecei a acompanhar o Corinthians quando tinha 12 ou 13 anos, por causa da Libertadores. Aí, em 2012, assisti a todos os jogos da campanha do título, até a final contra o Boca. Vi também a final do Mundial, contra o Chelsea.

Gazeta Esportiva: O seu irmão partilhava dessa torcida pelo Corinthians? Vocês tinham algum ídolo corintiano? (Ángel Romero tem um irmão gêmeo, o meia Óscar Romero, que também iniciou a carreira no Cerro Porteño e, depois, passou por Racing-ARG, Alavés-ESP e Shanghai Shenhua-CHI.)
Romero: É claro que sim, mas, na verdade, não idolatrávamos ninguém em especial. Aqui, tive contato com o Guerrero, um cara conhecido no mundo inteiro, com o Danilo… Antes, não era uma relação de admiração. Foi algo mais de conhecer esses jogadores, de saber quem eles eram. Todo o mundo conhece o Corinthians, né? Quando falei para o meu irmão que tinha essa proposta, ele me disse para vir logo para cá. Avisou que eu precisava assinar o contrato porque o Corinthians é um clube muito grande, que te dá vitrine para outras ligas. Isso faz quatro anos… (Romero suspira e fica pensativo durante alguns segundos.) Foi tudo muito rápido. As coisas passam. Nesses dias, os caras do Corinthians postaram no Instagram uma foto daquele jogo contra o Inter (triunfo por 2 a 1, em 17 de julho de 2014). Foi a primeira vitória do Corinthians na arena e a minha estreia oficial pelo clube. Aí, lembrei: “Caramba, já faz quatro anos que estou aqui”. É muito tempo.

Gazeta Esportiva: Depois de todo esse tempo, do que você mais gosta no Corinthians?
Romero: Do fanatismo do torcedor. Aonde você vai, encontra um corintiano. Você não escapa dos corintianos. Costumo viajar pelo Brasil com a minha namorada, e sempre vejo torcedores. E não são aqueles que só admiram o clube, que gostam, sabe? São fanáticos, loucos! Aonde vou, acho um louco, um doente. É isso o que me impressiona. A torcida do Corinthians é muito fanática. Nunca senti uma coisa igual.

Gazeta Esportiva: E do que menos gosta?
Romero: O lado negativo é a pressão que representa jogar pelo Corinthians. É muita pressão. Você faz um gol em um dia e já é cobrado se for mal no outro. Não falo só da imprensa. Isso é dentro do clube também e com os torcedores. Aqui, você precisa dar o seu máximo sempre. É preciso entender isso para conseguir jogar. Não é fácil.

Gazeta Esportiva: Você demorou a entender?
Romero: Demorei. Demorei bastante. Venho de uma cultura diferente. Também havia uma pressão muito grande no Cerro Porteño, mas com uma proporção diferente. Aqui, você tem mais jornalistas, mais torcedores, até porque o país é maior. A pressão é mais intensa. Você precisa entender o Corinthians para jogar pelo Corinthians. Um monte de jogadores de qualidade passou por aqui e não se deu bem por causa disso. No Corinthians, você tem que correr, lutar sempre. É o que trato de fazer.

Gazeta Esportiva: Hoje, você é famoso pela garra.
Romero: Essa garra que vocês falam que tenho… Eu sou assim. Já jogava assim quando estava no Cerro Porteño. É uma característica minha. Os jogadores paraguaios têm isso. No meu país, falamos que essa é a garra guarani. Ser aguerrido e lutar sempre faz parte da nossa essência. E, quando você está perdendo, trata de dar a volta por cima. Nós, paraguaios, lutamos até o final.

Gazeta Esportiva: O Corinthians é um pouco paraguaio nesse sentido?
Romero: É um clube paraguaio! O Corinthians é isso. É exatamente o que eu queria dizer. Esse clube tem o nosso estilo. É por isso que jogadores como Balbuena e Gamarra também se encaixaram tão bem aqui.

Gazeta Esportiva: Por outro lado, esse seu jeito já incomodou rivais do Corinthians. Você se envolveu em polêmicas com todos eles – Palmeiras, São Paulo e Santos. Como são os seus encontros com torcedores desses clubes nas suas viagens pelo Brasil?
Romero: Eu até esperava ter mais problemas (risos). Até agora, foi tudo bem.

Gazeta Esportiva: Ninguém nunca te interpelou?
Romero: Sempre aparecem alguns, mas de boa.

Gazeta Esportiva: Mas eles também não chegam a te pedir selfies, né? (Romero tirou uma fotografia com o seu telefone celular para comemorar um gol sobre o Palmeiras, na vitória por 3 a 2 de 5 de novembro de 2017, decisiva para a campanha do título brasileiro daquele ano; depois, repetiu o gesto para festejar a conquista do Campeonato Paulista de 2018 na casa do rival.)
Romero: Não, não (risos)! Imagina! Mas é de boa mesmo. Os caras nunca me desrespeitaram. Sempre brincam comigo, mas com respeito. Dizem que sofrem quando faço esse tipo de coisa. Só que todos falam de esporte, e nunca mal do meu país, nada disso. Nunca me senti desrespeitado nas ruas, nos shoppings. Isso é bom.

Gazeta Esportiva: Você, que diz gostar tanto de clássicos, prefere enfrentar o Palmeiras nas quartas de final da Libertadores?
Romero: Seria… Não! Quero jogar contra o Cerro, né? Na verdade, as duas situações são ruins para mim. Se o Palmeiras passar, significa que o Cerro está fora. E, se o Cerro passar, vou ter que enfrentar o meu ex-clube. É difícil, mas vou para cima de quem vier. Não tem como. Estou defendendo a camisa do Corinthians hoje. Seria bom jogar um clássico na próxima fase, mas mais ainda ir para o Paraguai, rever o Cerro e ganhar.

Gazeta Esportiva: Comemoraria um gol sobre o Cerro?
Romero: Não, por respeito. Já até enfrentei o Cerro em 2016 (uma vitória por 3 a 2 pela Libertadores, no Defensores del Chaco), mas, hoje, seria diferente, porque venho jogando como titular do Corinthians. A minha história mudou. Naquela época, eu ainda estava me adaptando ao clube. E, agora, o Cerro tem um novo estádio, em que nunca joguei – La Nueva Olla, como eles chamam. Nas férias, recebi um convite e fui até lá com o meu irmão para conhecer. É maravilhoso. Então, seria doloroso enfrentar o Cerro Porteño na Libertadores deste ano, mas muito legal também.

Gazeta Esportiva: E, se o Palmeiras eliminar o Cerro, você poderá ter a chance de vingar o clube que te revelou.
Romero: Esse seria o lado bom (risos).

Gazeta Esportiva: No último Derby, você polemizou ao equilibrar a bola com a cabeça naquela vitória por 1 a 0 em Itaquera. Vários torcedores compararam o lance com as embaixadinhas do Edílson na decisão do Campeonato Paulista de 1999. Já conhecia essa jogada, que provocou uma briga generalizada no Morumbi?
Romero: Não conhecia. Fiquei sabendo depois do nosso jogo. Até procurei o lance do Edílson naquele momento, para assistir.

Gazeta Esportiva: O dele causou um pouco mais de problema do que o seu.
Romero: Causou, né (risos)? Quando vi, até falei: “Nossa!”. Mas, tipo, não programei essa minha jogada. Saiu no momento. Eu não tinha intenção de provocar ou de insultar ou de fazer uma brincadeira. Na hora, a bola bateu no meu peito, dominei, e ela ficou ali. A culpa é da bola (risos).

Gazeta Esportiva: E você encontrou o Edílson logo depois do jogo.
Romero: Tiramos uma foto. Ele só ficou rindo. Falou: “Vamos tirar uma foto, Romero!”. Tiramos, sem problemas. E foi aí que descobri a jogada dele. Essa, sim, foi para provocar. Acabou sendo parecida com a minha, né? Mas eram momentos diferentes. A embaixadinha do Edílson foi feita em uma final de campeonato. No meu caso, era só um jogo do Brasileiro. Mas já passou. Na época, falei que não queria provocar o time do Palmeiras nem faltar com respeito. Saiu no momento.

Gazeta Esportiva: A selfie…
Romero: Essa, sim, estava programada.

Gazeta Esportiva: Você tem mais comemorações programadas para um eventual cruzamento com o Palmeiras na Libertadores?
Romero: Agora, não tenho nada na cabeça. Sempre penso antes dos clássicos: “Vou fazer isso!”. Sai no momento. Não fico programando uma, duas semanas antes. Quando estamos brincando, entre companheiros, falamos: “Vamos comemorar assim amanhã!”. Sai na hora. Vamos ver o que fazer nas próximas vezes.

Gazeta Esportiva: Depois da partida contra o Botafogo, o Osmar Loss disse que você está liberado para provocar os adversários nos jogos do Corinthians. Segundo ele, nós, brasileiros, valorizamos as equipes sul-americanas que adotam esse tipo de comportamento e recriminamos as do nosso país.
Romero: Ah é?

Gazeta Esportiva: Você não ouviu o que ele disse?
Romero: Ele falou comigo agora há pouco sobre isso.

Gazeta Esportiva: E liberou geral?
Romero: Não, não, não, não! Imagina! Não foi bem isso. Ele só me falou que os jornalistas perguntaram sobre o meu jeito, catimbeiro, como vocês chamam. Mas… vocês acham que eu sou catimbeiro (risos)?

Gazeta Esportiva: Um pouquinho.
Romero: Um pouquinho, né (risos)?

Gazeta Esportiva: Nós, brasileiros, te chamamos de “catimbeiro”. Como um paraguaio te chamaria?
Romero: Ah… de “provocador” mesmo. Mas esse é o estilo do jogador sul-americano. No continente, só não existem jogadores assim no Brasil. Vocês também não precisam disso, pela qualidade dos jogadores. Só que esse é o estilo dos jogadores argentinos, colombianos, uruguaios, paraguaios… Se eu faço essas coisas na Libertadores, os outros times acham normal. Só aqui, no Brasil, que ficam: “Nossa, é um jogador diferente, catimbeiro!”.

Gazeta Esportiva: Esse tipo de comentário te faz repensar a sua postura?
Romero: Não, não. Estou jogando normalmente. É o meu estilo. Não entro em campo para provocar o rival. Pode até sair alguma coisa no momento de driblar, na hora de ficar um pouquinho mais de tempo no chão.

Gazeta Esportiva: Como também faz o Neymar?
Romero: É futebol, né? Não estamos jogando um jogo de mulher. É um jogo de homem. Queremos fazer o melhor para o nosso time. Defendo a minha camisa. Os adversários, as deles. Vou fazer tudo para o Corinthians ganhar. É mais isso do que qualquer outra coisa. Quero ganhar sempre e busco maneiras de ganhar sempre.

Gazeta Esportiva: E, com toda essa marca no Corinthians, você defenderia outra camisa no futebol brasileiro?
Romero: Xi… Essa pergunta, hein? (A pergunta já trouxe problema para outro atacante estrangeiro do Corinthians. Então com status de ídolo, Guerrero havia declarado que só atuaria pelo Corinthians no Brasil, mas quebrou a promessa e parou no Flamengo.)

Gazeta Esportiva: Qual é a sua resposta?
Romero: Então, hoje, falaria que não. Hoje. Mas essa vida dá muitas voltas. Você não pode falar nada. Já cometi muito o erro de falar antes de pensar. Só penso no Corinthians agora. No futuro, não sei. Quando me fizeram essa pergunta no Paraguai, querendo saber se eu jogaria pelo Olimpia, disse que, naquele momento, não jogaria. Não tinha como ir do Cerro para o Olimpia. Não tem como. Hoje, falo o mesmo aqui. Algum dia, não sei. Não sei o que o destino me reserva. Como sempre digo, Deus vai decidir a minha vida. Que seja o melhor para mim.

Gazeta Esportiva: Bom…
Romero: Mas, completando, depois de algumas coisas, acho que os outros times daqui também não vão me querer (risos).

Gazeta Esportiva: Em quatro anos de Corinthians, você já trabalhou com técnicos que não te quiseram por períodos prolongados. Com outros, virou titular absoluto.
Romero: Todos foram muito respeitosos comigo. Aprendi muito com cada um deles. Sempre serei agradecido ao Mano Menezes, que me trouxe ao Brasil. Falo com ele até hoje e faço questão de cumprimentá-lo quando jogamos contra o Cruzeiro (haverá novo confronto com Mano na noite de quarta-feira, na Arena Corinthians). O Tite também me marcou, né? Ele me ensinou muita coisa no momento em que eu precisava, de dificuldade. Aprendi bastante.

Gazeta Esportiva: Naquele momento, você não era nem relacionado para os jogos do Corinthians. Pensou em sair do clube?
Romero: Sim, sim. Pensei, mas também nunca correria da minha responsabilidade. Até falei sobre isso com a minha família. Se saísse, eu estaria fugindo sem provar que sou capaz. É fácil você vir a um time grande, falar que não conseguiu jogar e mudar para um menor para conquistar mais coisas. Não faço isso. Sempre falei que ficaria no Corinthians porque queria conquistar alguma coisa aqui.

Gazeta Esportiva: Hoje, você tem um sentimento de dever cumprido? Foi mais recompensador ter alcançado o seu espaço dessa forma?
Romero: Exatamente. Precisei passar por aquele momento para, hoje, dizer que o cumpri o meu dever. Tudo estava contra mim. Só eu acreditava em mim. Era eu e a minha família contra tudo. Nós fomos os únicos que acreditamos. E o Tite, que sempre falava comigo, que dizia para não desistir dos meus sonhos. Fora alguns dos meus companheiros.

Gazeta Esportiva: Há algum em especial?
Romero: O Cássio. Eu sempre falava com ele. Com o Ralf, também. Eles me ajudaram muito. E o Emerson, que jogava na mesma posição do que eu e me aconselhava a ficar no Corinthians. Eu comentava que tinha proposta, possibilidade de sair, e ele me dizia que, como aqui, não tem igual.

Gazeta Esportiva: O seu irmão saiu do Paraguai para o Racing e também passou por episódios de preconceito, como você diz ter sofrido aqui. Chegou a pedir para a torcida do clube dele parar com uma música de cunho xenofóbico. Para um estrangeiro, é mais difícil jogar na Argentina ou no Brasil?
Romero: Se for por futebol, qualquer um poder jogar em qualquer lugar. Aquilo com o meu irmão aconteceu em um jogo da Libertadores (contra o Bolívar-BOL, em 2016). Também é difícil jogar lá. Mas, pelo que experimentei, aqui é mais difícil. Ele nunca passou por nada da forma como eu passei, desse calibre, de ficar tanto tempo sem jogar. Só ficou no banco em uma época, mas o clube acreditava nele. Era um cara importante lá dentro. Eu era o contrário, né? Era um cara totalmente desacreditado no Brasil. Não tenho vergonha de falar isso. Conquistei o meu espaço. Ninguém ne deu nada de presente. Muito ao contrário. Batalhei sozinho para conquistar as poucas coisas que já conquistei.

Gazeta Esportiva: Depois que você foi contratado, o Corinthians fez um pré-acordo para contratar também o seu irmão, mas a negociação fracassou. Ainda sonha em voltar a jogar ao lado dele fora da seleção paraguaia?
Romero: Temos esse sonho. Sempre sonhamos em jogar juntos no exterior e, um dia, voltar para o Cerro Porteño. Já falei muitas vezes para ele vir para cá (risos)….

Gazeta Esportiva: Ele não te fala para ir à China?
Romero: Não, lá tem limite de jogadores estrangeiros. É mais fácil ele vir para cá do que eu sair do Corinthians para a China.





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