Ambos são meias ofensivos, ágeis em conduzir a bola, baixinhos, sofreram com essa dificuldade no começo da carreira e despontaram no Ituano. Todas essas coincidências aproximaram o hoje corintiano Clayson do pentacampeão mundial Juninho Paulista, responsável pela gestão do futebol da equipe de Itu há alguns anos. Mais que um cara de carreira destacada, Juninho também foi inspiração e um dos conselheiros do novo xodó de Fábio Carille.
Importantíssimo", resume Clayson nesta entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Um par de assistências somadas a duas boas atuações contra Sport e Atlético-MG fizeram ele ganhar destaque no Corinthians. Única aquisição do líder da Série A desde o Campeonato Paulista, o meia ex-Ponte Preta teve uma trajetória curiosa nas divisões de base. Saiu do Grêmio ainda nos juvenis para compor os profissionais do Ituano, justamente em que conquistou bagagem para dar um salto até a Ponte, e consequentemente outro ao Parque São Jorge.
Nesse papo em meio a duas semanas sem partidas, ele explica a importância de Juninho, conta como consegue destaque com apenas 1,66 m e fala sobre a rápida adaptação ao Corinthians.
Confira a entrevista exclusiva com Clayson:
Juninho Paulista mandava tocar rápido a bola
Ele é importantíssimo na minha passagem por lá [Ituano]. Sempre que podia ele falava comigo. Ele me deu muitos conselhos, treinava com a gente e sempre me ensinando. Dizia para eu ficar pouco com a bola no pé, em 80% das vezes jogar para a frente. Ele me ajudou bastante dentro e fora também do campo.
As dicas do pentacampeão também fora de campo
Acho que ele me ajudou a ser mais centrado e a ficar mais tranquilo. Me ajudou a não ter a empolgação de moleque, às vezes por já jogar, porque eu já estava no profissional. Sempre me deixou com os pés no chão. Eu vejo o Juninho como um exemplo a ser seguido. Chegou na Inglaterra, foi ídolo no Middlesbrough, na seleção brasileira, então com certeza é uma inspiração.
Trocar o Grêmio pelo Ituano de Juninho: decisão crucial
Meu empresário achou melhor ir para o Ituano. No Grêmio, eu ia ficar na base. No Ituano, já era profissional. Então era dar um passo para trás para dar dois na frente. Foi uma decisão, creio, fundamental na minha chegada ao futebol. Quando o Ferraz [agente] me falou, conversou comigo e com meu pai na época e disse para tomarmos a decisão juntos, achamos melhor, achamos que poderia ser bom. O futebol em São Paulo é mais visado e acabei chegando ao profissional para ganhar experiência.
Ser baixinho já fechou portas
Quando ia fazer testes sem empresários e nem nada, eu passava, mas os caras falavam 'vou te ligar depois, você é pequeno', e acabavam não ligando. Eu jogava [futebol de] salão e dificilmente tem contato, o jogo é muito rápido. Mas isso passou, acho que para mim não foi uma dificuldade. Eu poderia ter me destacado. Um teste onde fui reprovado foi no Mirassol, em 2005. Falaram isso, mas faz parte do passado. Eu era mais baixo que a turma da minha idade, sempre fui mais baixo até os 15 anos. A diferença depois diminuiu, mas continuei sendo o menor.
NR.: O apelido carinhoso de Clayson entre os colegas no Corinthians é "anão".
Fez tratamento para crescer
O Ferraz, que é meu empresário, me levou com o Joaquim Grava [médico do Corinthians]. Eu tinha de 15 para 16 anos. Foi para ver a minha idade óssea, então ele tirou raio-x e vimos que estava atrasada. O doutor disse que ia crescer naturalmente, mas depois, mais para frente, fez um remédio para dar uma acelerada. Isso acabou me ajudando na época, foi bom.
Fortalecimento e nutrição no Corinthians
Minha programação no Corinthians é mais ou menos igual à dos outros, mas com a nutricionista tem algumas coisas diferentes. Na academia, também acabo fazendo algumas coisas à parte. Nada exagerado também, mas tem uma coisinha ou outra para melhorar, para ajudar, para fortalecer e estar mais preparado [para o corpo a corpo].
Rápida adaptação e crescimento no novo clube
Fico feliz pelo momento, pela sequência. Desde que cheguei, venho trabalhando forte por essas oportunidades. Como sempre falo, quem entrar tem que dar conta do recado. Jogar em outras posições do meio para a frente, como eu faço, é importante e acaba criando alternativas.
Aqui são funções que eu já tinha feito, então me adaptei ao jeito do Corinthians. É mais fácil [de se adaptar] porque não se mexe no jeito de jogar, então treinando você aprende tudo rápido e acaba facilitando para nós. O lado em que atuo é indiferente, ou mesmo no meio, porque assim joguei o Paulista pela Ponte.
Na Ponte, algumas críticas pelos poucos gols. No Corinthians, falta o primeiro
Tinha alguns torcedores que pegavam no meu pé [na Ponte]. É também pela função tática, você fica longe do gol às vezes. Mas eu dava bastante assistência. Claro que temos que evoluir, fazer mais gols. Se eu puder marcar gols e continuar dando assistência, o que puder dar de melhor, vou fazer. A gente fica pensando [no primeiro gol e como vai comemorar], mas tem que deixar a ansiedade de lado.
NR.: Em 2016, jogou 51 vezes e anotou três gols. Um deles foi no Corinthians.
A primeira assistência na estreia como titular
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Clayson foi destaque do Corinthians com assistências nos últimos dois jogos
Estava um jogo difícil [contra o Vasco] e achei a bola para o Maycon quando o jogo estava 2 a 2. Foi no meu primeiro jogo de titular, então fiquei feliz de corresponder, porque também participei do primeiro gol feito pelo Marquinhos Gabriel. Dos meus jogos como titular eu particularmente gosto de todos, cada um com sua característica. O Vasco foi um momento importante.
NR.: Na quinta rodada, Clayson iniciou a partida pela primeira vez no Corinthians. Em visita ao Vasco, os líderes ganharam por 5 a 2.
O pai foi o principal apoiador
Infelizmente ele faleceu em 2015, mas o sonho dele é que eu chegasse nesse nível. Deus sabe de todas as coisas, mas é um cara que me ajudou demais e procuro honrar da melhor forma possível. Minha mãe, meu irmão, minha noiva, meus empresários, todos me ajudaram, e graças a eles pude ter forças para continuar, porque foi um baque muito forte.
Meu pai [Rubens] sempre foi meu maior incentivador. Desde que eu jogava futebol de salão e a gente não tinha carro, então ele me levava no cano da bicicleta às 5h da manhã para poder jogar, para viajar e treinar por todo lado. Era ele quem dava a cara a tapa para eu arrumar um teste, para jogar, todos que me conhecem e conheceram meu pai sabem o que ele fez por mim. Queria muito ele aqui hoje, mas creio que está feliz onde está.
NR.: A história completa sobre Clayson e seu pai Rubens
De onde vem a força mental que mostra em campo
Ali dentro de campo eu penso nele [pai] primeiramente. A gente entra para honrar nossa família e ele tá sempre comigo. Entro bem concentrado. O futebol hoje é a parte mental e psicológica em primeiro lugar, não é parte física e tática apenas. Procuro estar sempre bem para entrar em campo e corresponder da melhor forma possível.
Linda história, força guerreiro.