Título paulista é celebrado no vestiário: rara aparição de Andrés em 2017
Campeão paulista, líder do Campeonato Brasileiro e classificado às oitavas de final da Copa Sul-Americana, o Corinthians já faz uma temporada acima do que se esperava para 2017. Essa caminhada, porém, tem relação com um fato pouco comum nos últimos 10 anos do Parque São Jorge: o isolamento do ex-presidente Andrés Sanchez do departamento de futebol.
Foi em outubro do ano passado, no mesmo dia em que Oswaldo de Oliveira acabou contratado pelo Corinthians, que esse movimento se consumou. Indicado por Andrés ao cargo e homem de confiança dele, o diretor de futebol adjunto Eduardo Ferreira pediu afastamento. Nem Sanchez, nem Eduardo e nem vários conselheiros concordavam com a escolha de Roberto de Andrade, que chamou a responsabilidade e bancou a chegada de Oswaldo.
Naquele momento, o grupo de Andrés e principalmente Eduardo defendiam, justamente, que Fábio Carille fosse mantido no cargo até dezembro e a contratação de um novo treinador fosse reavaliada ao fim do Campeonato Brasileiro. Já Roberto, que não se convencia inicialmente desse movimento, resolveu apostar em Oswaldo a contragosto da maioria. O presidente recebeu críticas públicas de Sanchez, que definiu se afastar do futebol a partir dali.
Em uma caminhada que, até aqui, dá certo por linhas tortas, as coisas entraram nos trilhos dentro do departamento no Corinthians. O trabalho de Oswaldo de Oliveira não decolou e deu razão aos críticos de Roberto, que buscou pelo menos quatro treinadores antes de optar pelo voto de confiança a Carille. A escolha premiaria o presidente e seria uma das principais responsáveis pela recuperação dos resultados no futebol corintiano.
Dentro desse contexto, Roberto de Andrade também foi fiel a dois escudeiros no departamento: escolhido para a vaga de Edu Ferreira, o diretor de futebol Flávio Adauto enfrentou críticas internas, mas sobreviveu a episódios desgastantes com as não chegadas dos atacantes Pottker e Drogba. A pressão foi consideravelmente maior no gerente Alessandro, com ataques justamente a partir do grupo de Andrés. Porém, o bom trabalho na remodelação do elenco elevou a reputação do ex-lateral e também deu razão a Roberto.
Mesmo com desgastes recentes, Andrés ainda é a figura política mais importante do clube e exerce influência no departamento. Mas, apesar de ter pessoas de confiança [desde seguranças a membros da comissão técnica], Sanchez efetivamente se afastou do CT Joaquim Grava em 2017 e reduziu de forma importante sua influência no mercado de negociações de atletas do clube. Uma rara aparição do ex-presidente no ambiente do grupo se deu na final do Paulistão, quando apesar de diferenças claras e públicas posou para a foto do título ao lado de Roberto de Andrade.
Influência em 2015/16: reforços e escolha por Cristóvão Borges
Sanchez celebra o hexacampeonato brasileiro no Rio
Principal apoiador para a eleição de Roberto de Andrade em fevereiro de 2015, Sanchez recebeu o cargo de superintendente de futebol. Essa posição nem sequer existia no estatuto do clube, mas foi conferida ao ex-presidente como parte do acordo. No departamento, Sanchez tinha Eduardo Ferreira como escudeiro na função de diretor adjunto. Entre ambos, um homem de confiança escolhido por Roberto foi Sérgio Janikian, que se desgastou rapidamente, sofreu ataques do grupo de Andrés e saiu ainda no primeiro semestre daquele ano.
Como superintendente, apesar das funções como deputado em Brasília, Andrés foi figura ativa durante o primeiro ano da gestão. Desde o planejamento para 2015, quando fez pressão para que o atacante Dudu fosse contratado pelo então presidente Mário Gobbi, até a escolha de reforços. Ligou pessoalmente pelo zagueiro gremista Geromel ao pai do atleta, indicou o volante Cristian e o colombiano Mendoza e determinou a promoção do jovem Matheus Pereira, entre outros.
Nesse período, também idealizou uma parceria com o Tigres-RJ [boa relação com o dono e deputado Washington Reis - PMDB/RJ] e outra com o Bragantino-SP [boa relação com o presidente Marcos Chedid]. Com este clube, aliás, fez alguns outros negócios, como a aquisição do goleiro Douglas, hoje no Avaí, do meia Alan Mineiro, emprestado ao Vila Nova, e ainda do centroavante Lincom, figurante na conquista do Brasileirão 2015.
Com o desmanche em janeiro do ano seguinte, Sanchez resolveu se desligar da posição de superintendente, mas ainda agiu nos bastidores naquele ano de maneira intensa. Uma das maiores críticas ao ex-presidente diz respeito aos negócios com o agente Fernando Garcia, que chegou a ter 10 clientes seus no elenco profissional. Quatro reforços do primeiro semestre envolveram clientes de Garcia: o zagueiro Vílson, o meia-atacante Marlone, o centroavante André e ainda Lucca, que foi comprado em definitivo.
O ponto de maior desgaste, porém, se deu por uma saída. Apesar da resignação da comissão técnica, explicitada publicamente por Tite, e ainda do gerente de futebol Alessandro, o presidente Roberto de Andrade assinou a venda de Malcom para o Bordeaux-FRA por 5 milhões de euros. A partir dali, em meio a outros eventos políticos que pioraram a relação, Sanchez iniciou seu processo de afastamento que culminaria com o rompimento em outubro.
Nesse meio tempo, ainda participou diretamente de uma escolha importante. Sem Tite, que saiu para a seleção brasileira, o Corinthians escolheu Cristóvão Borges como seu novo treinador. A ideia havia sido apresentada pelo empresário Carlos Leite a Andrés Sanchez, que já tentara levar Cristóvão à CBF em 2012, e colocou o nome em discussão no CT Joaquim Grava para convencer Roberto.
Insatisfeito com o técnico, que durou 18 jogos, o presidente anunciou a demissão dele em clássico com o Palmeiras. Dois dias antes, Edu Ferreira havia dado o tom sobre as diferenças ao convocar uma coletiva de apoio ao mesmo Borges.
Os paralelos entre as temporadas 2014 e 2017
Mário Gobbi fala com o ex-presidente Andrés Sanchez durante eleição de Andrade
Para muitos conhecedores da política do Corinthians, a trajetória de Roberto de Andrade no cargo tem fortes semelhanças à de Mário Gobbi, o antecessor que dirigiu o clube no triênio 2012-2014 também indicado por Andrés. Assim como no mandato atual, o terceiro ano da gestão Gobbi ficou marcado pelo rompimento com Sanchez, em especial no futebol, após duas temporadas de desgaste.
Na administração anterior, 2014 se iniciou com as partidas de Duílio Monteiro Alves, diretor adjunto, e Roberto de Andrade, diretor de futebol. Eles foram contrários à chegada de Mano Menezes, posição pessoal de Gobbi, que optou pela saída de Tite.
Outro episódio de desgaste entre as figuras políticas foi o empréstimo de Emerson Sheik ao Botafogo, decisão conjunta de Mário e Mano que desagradou a Andrés - além de amigo, seu filho tinha a sociedade do restaurante Paris 6 com Sheik. Mesmo assim, Sanchez sugeriu alguns negócios a Gobbi, que topou, como a contratação do paraguaio Ángel Romero. A compra do gêmeo Óscar Romero, por outro lado, foi vetada pelo então presidente.
Com título do returno do Brasileirão e vaga na Libertadores 2014, Gobbi terminou aquele ano, e seu mandato, com sensação semelhante à que Roberto de Andrade experimenta hoje. Êxito com o futebol em temporada de isolamento de Andrés Sanchez, para muitos o principal responsável por conquistas dos anos anteriores.
#voltaandres
Simplesmente o cara.
Corinthians um antes dele e outro após.
Vai Corinthians...
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