Organização tática, bom relacionamento com o elenco, espaço à garotada da base, busca constante por novos conhecimentos... As premissas podem se referir tanto a Fábio Carille, no Corinthians, quanto a Jair Ventura, no Botafogo.
Ícones de uma geração de técnicos que se consolida no mercado em 2017, Carille e Jair duelam neste domingo, às 16h (horário de Brasília), em Itaquera, num jogo que promete, ao menos, dois times muito fieis às características dos seus comandantes.
Corinthians e Botafogo são organizados e, mesmo sem muito dinheiro em caixa, conseguiram montar equipes competitivas com as peças que tinham em mãos. Mérito dos técnicos, que ralaram, foram auxiliares por longo tempo e agora, embasados, conseguem sucesso em seus primeiros trabalhos na carreira.
Carille assumiu o Timão em dezembro, após a demissão de Oswaldo de Oliveira e negativas de pelo menos dois nomes no mercado – Reinaldo Rueda e Dorival Júnior. Jair, curiosamente, também estava no radar corintiano durante o período. Fruto de um trabalho que começou em agosto do ano passado e levou o clube carioca à Taça Libertadores.
O corintiano está em seu clube desde 2009. O botafoguense, desde 2008 em General Severiano. O primeiro já conquistou o título paulista, enquanto o segundo está nas oitavas da Libertadores.
Veja abaixo as semelhanças e diferenças entre os dois técnicos:
ESQUEMA TÁTICO
Carille: o melhor Corinthians de Carille joga no 4-2-3-1, com variações do 4-1-4-1. São linhas bem próximas e definidas. A prioridade é a marcação, sempre compacta. O Corinthians não faz questão de ter maior posse de bola e sempre investe nos contra-ataques, triangulações e transições rápidas até o gol adversário.
Jair: o melhor Botafogo de Jair atua no 4-3-1-2, com variações para o 4-2-3-1 quando tem a posse de bola. Nessa formação, Bruno Silva deixa de ser volante e vira ponta-direita, enquanto Pimpão deixa de ser atacante e se torna ponta-esquerda. A equipe atua com as linhas bem próximas e tem na compacta marcação a sua principal força, com esquema armado para contra-ataques em velocidade.
TREINAMENTOS
Carille: assim como na época de Tite, os coletivos não fazem parte do cotidiano. Carille costuma aplicar trabalhos táticos com seus titulares, às vezes sem adversário. Ele alterna a preparação do time com treinos específicos de posicionamento, para a defesa, e finalizações, para o ataque. Dá liberdade aos auxiliares Osmar Loss e Leandro Silva. Todas as atividades são abertas, e o técnico não faz mistério com a escalação.
Jair: não costuma dar treinos em período integral, prefere sempre que as atividades sejam pela manhã e fechadas para a imprensa, para armar o time secretamente. Por outro lado, cobra muita intensidade nos trabalhos físicos e técnicos. Ele costuma falar que treino para ele é como se fosse jogo. Isso quando tem uma semana livre. Em meio à maratona de duas partidas por semana, concentra o foco em atividades de bola parada.
APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
Carille: lê muito e se inspira em técnicos europeus – atualmente, as leituras de cabeceira são o perfil de Tite e um livro de Alex Ferguson. Ele tem a Licença A da CBF. Em dezembro, vai terminar o curso de Licença Pro, graduação máxima da entidade. Depois, pensa em passar um mês na Europa para estudar.
Jair: fez o mesmo curso de Carille no fim do ano passado. Inclusive, encontraram-se justamente no meio da busca do Timão por um técnico. Graduado em Educação Física pela Estácio em 2005, Jair se formou como treinador pelo SINTREFUTRJ, fez cursos de análise de desempenho, scouting e coaching, além de ainda ter sido palestrante em cursos da ABTF. Há nove anos no Botafogo, ele já foi preparador físico, técnico do sub-20, treinador interino e auxiliar permanente antes de assumir o comando efetivo do time principal.
PARTICIPAÇÃO EM NEGOCIAÇÕES
Carille: o técnico corintiano indica nomes e participa da escolha de peças para o elenco, mas se afasta da parte financeira, que fica a cargo dos dirigentes Alessandro Nunes e Flávio Adauto. O contato com os dois é diário, e reuniões são frequentes.
Jair: costuma indicar alguns nomes para a diretoria, como o atacante camaronês Joel, que acabou não se firmando e foi para o Avaí. A diretoria também o consulta quando há jogadores oferecidos, mas já houve contratações em que não participou, como a de Canales, hoje no Unión Española, do Chile, que pouco jogou em General Severiano.
UTILIZAÇÃO DA BASE
Carille: deu espaço à garotada desde o início da temporada. Com ele, Guilherme Arana e Maycon deslancharam na equipe principal. E nomes como Léo Príncipe, Léo Santos, Pedro Henrique, Léo Jabá e Pedrinho tiveram seus momentos na temporada.
Jair: esse é talvez o maior legado dele no Botafogo. Até pelas circunstâncias, com elenco enxuto e carente em algumas posições, aliou a necessidade à vontade e usou muitos garotos no time principal. No elenco atual, há 16 jogadores recém-promovidos, sendo dois titulares ultimamente: Igor Rabello e Matheus Fernandes. O volante, inclusive, chegou a jogar com Montillo e Camilo no banco.
RELACIONAMENTO COM O ELENCO
Carille: por estar no Timão desde 2009, como auxiliar, o técnico é figura respeitada no elenco. Não é do estilo autoritário, nem de gritar ou se exaltar com seus comandados. Ganhou o time na base da conversa e do trabalho. Todos compraram seu discurso.
Jair: essa é outra característica apontada por jogadores como ponto positivo do treinador. Jair costuma dizer que deixa a porta de sua sala aberta para qualquer um, mesmo que seja para uma simples resenha, não necessariamente sobre futebol. Roger, por exemplo, virou amigo e é um dos que mais frequentam o local. Com o discurso de meritocracia, de colocar no time quem estiver em melhor momento, ganhou a confiança do grupo.