1/6/2017 08:36

Medo de defunto, sonho com Japão e genro são-paulino: conheça o outro lado de Carille

GloboEsporte.com convida técnico do Corinthians a falar sobre tudo, menos futebol. Bom de papo, técnico conta histórias e revela fama de certinho. Ele nunca ingeriu álcool

Medo de defunto, sonho com Japão e genro são-paulino: conheça o outro lado de Carille
Fábio Luiz Carille de Araújo tem 43 anos. Não se lembra de uma transgressão, um deslize sequer na vida. Nunca tomou bebida alcoólica, mesmo nos tempos em que virava noites nos shows de pagode com os amigos – e os levava de volta para casa. Sempre foi o "certinho" da turma.

Muito ligado ao trabalho, dificilmente consegue passar muito tempo sem falar de futebol...

Foi esta a missão do GloboEsporte.com em um encontro com Carille no CT Joaquim Grava: fazer o técnico do Corinthians falar sobre tudo, menos o esporte que ama e o clube que dirige. E aí, ainda que o assunto insista em voltar, ele se solta. O pai carinhoso, o homem que é casado há 20 anos e gosta de curtir uma boa praia nas férias, o profissional que olha o Japão como sonho de consumo, e que tem (ou melhor, teve)... medo de morto!

– Eu ia em velório, passava uns dez dias sem dormir (risos). Mas hoje não tenho mais.


Enquanto o Japão é um sonho distante, ele se contenta com Maresias, no litoral norte de São Paulo, e praias desertas do Nordeste. Ao lado da esposa e dos dois filhos, Isabela, de 18 anos, e Leonardo, de sete, busca sempre o sossego no fim do ano. Mesmo com um genro que é rival...

– Ela já namora há dois anos, dois anos e meio. Ainda bem que ela encontrou um rapaz muito legal... São-paulino. O cidadão é são-paulino, única coisa ruim dele até agora. Mas não me enche o saco em nada. Quando eu ganhei, nunca tirei sarro nem quando era auxiliar. Mas na hora que ele falar algo, vou deixar algo guardado na manga (risos).

Em meia hora de conversa, o técnico do Corinthians mostrou facetas de sua personalidade que pouca gente conhece. Normalmente tranquilo, até mais fechado, Carille se abre, dá risada, conta histórias, é divertido... O Timão tem um técnico campeão, e também bom de papo.




Veja abaixo a íntegra da conversa:
GloboEsporte.com: Alguma coisa em São Paulo tira o seu sono?
Fábio Carille: Sei que o trânsito é muito preocupante, mas, até por morar perto do CT, isso não me afeta muito. Quando preciso ir a Barueri fazer alguma coisa, aí me irrita sim. Pareço tranquilo, mas não consigo ficar muito parado em um lugar. Se estou falando ao telefone, falo andando. É assim. Então, isso me incomoda um pouco.

Você consegue aproveitar o que São Paulo tem de bom? Cinemas, restaurantes, teatros...

– Antes, sim. Até 2016, bastante... Teatro, cinema, restaurante, sim. A partir de 2017, fico mais dentro de casa e do CT.
Vamos começar falando de educação. Como você vê a educação no Brasil? Você tem uma escolinha, lida com crianças e adolescentes em idade escolar...

– Tem uma margem muito grande para melhorar. Minha escolinha não tem o intuito de formar só atletas, esse não é o principal. Desde a inauguração, em abril de 2015, deixei claro que a ideia é ajudar na formação desses garotos, ajudar os pais. Não penso em ser empresário, não serei empresário, o espaço é para dar atenção a esses meninos.

Tem muito a melhorar. Educação, saúde, tudo... Estou esperando há dois anos que seja aprovado um projeto social. Hoje estou perto dos 200 alunos, são alunos que pagam mensalidade.
Tenho um espaço grande para receber esses meninos. Tenho de esperar o Governo, mas do jeito que está, não sei quanto tempo vai demorar.

Falando em Governo... Você é Fora Temer ou Fica Temer?
– Olha (risos). Se tivesse de colocar fora, tem tanta gente... Não sei! Estou focado aqui dentro. Claro que recebemos as informações, não sabemos até que ponto é verdade, até que ponto não é. Vou ficar em cima do muro nessa hora. Mas tomara que nosso Brasil tome o rumo certo, tem muita coisa para se conquistar ainda.

Você assiste ao noticiário de política, ou prefere ver outra coisa na folga?
– Não acompanho, quando tenho de assistir a um jogo, tiro o som e fico brincando com meu filho no iPad. Dificilmente assisto a algo. Já é tanta coisa... Procuro isolar mesmo para ter uma tranquilidade maior para o outro dia.



Você gosta de filmes? Séries? O que faz para se distrair?
– Ultimamente estou lendo mais, mas gosto muito de filmes, de cinema. Este ano não fui ainda. É uma leitura, brincar de futebol com meu filho, ir a um restaurante...

Qual livro está lendo agora?
– Acabei de ler o do Alex Ferguson, estou agora com o livro do Tite, que não li ainda. Tenho buscado mais leituras sobre esportes. O do Ferguson fala sobre a gestão de grupo, do dia a dia. É o que eu tenho buscado para crescer mais ainda.

E filmes?
– Gosto muito desses filmes de... Como se diz? De autoajuda, superação, sempre gostei mais desses. Chego no Corinthians às 7h30, 8h. Saio no fim da tarde. No caminho para casa, ainda penso no dia, no que fizemos. Quando eu chego em casa, desligo, desligo mesmo. Nem atendo ao telefone, a não ser que seja presidente ou diretor.

E o que toca no rádio nesse trajeto do CT até sua casa?
– Nada! Fico pensando no que aconteceu. O Leandro (da Silva, auxiliar) mora perto, está sem carro aqui em São Paulo, então vai e volta comigo todo dia. Vamos conversando sobre o dia, treinamentos. É assim que sigo esses 20, 25 minutos até em casa.



Você já falou duas, três vezes aqui que gosta muito de restaurantes. Qual a cozinha preferida?
– Carille... O que lembra? Italiano! Gosto de uma lasanha, um nhoque, essa é minha preferência.
E a bebida para acompanhar? Caipirinha? Como o Tite?
– Não, não. Fico no suco mesmo, não bebo nada de álcool. Nunca bebi na minha vida. Nada. Se eu ganhar um título, posso só fazer o gesto, mas não bebo. Nunca gostei, sempre gostei de sair, de shows, pagode, samba, virava a noite... Mas nunca bebi! Mesmo! Sempre refrigerante, suco, algo assim.
Então você era o cara que cuidava dos amigos? O motorista da turma?
– Ah, é isso! Foi bom você ter falado. Tive um técnico no Juventus, em 2001, chamado Ernesto Paulo. Um carioca. Ele falava: "Vão no show? O Fábio vai? Que bom, o Fábio traz vocês de volta". Era isso mesmo, eu que trazia os caras de volta, dirigindo.

Você passa a imagem de um cara muito centrado. O Carille já saiu da linha alguma vez?
– Não... Porque nunca fiz nada sem pensar. Sei de tudo o que está acontecendo, o que vai acontecer, antecipo algumas coisas. Tenho uns 600, 700 jogos no profissional, tenho duas expulsões, uma delas numa confusão na área que eu nem estava e o árbitro me tirou do jogo.

Sempre fui tranquilo e ciente de tudo o que está acontecendo.

Isso dificulta o entendimento quando algum jogador faz besteira?
– Não dificulta porque joguei cinco Campeonatos Brasileiros, joguei a A3 de São Paulo. Encontrei de tudo nessa vida. Jogadores com potencial enorme nas divisões menores, e aí pequenas coisas acabam tirando do caminho. A última coisa que vi foi em 2011, o Adriano, tinha tudo para ser o jogador da Copa de 2014, mas cheio de problemas.

Questões que só ele sabe. Mas conheço o jogador só pelo olhar.



Mas, assim... Nenhuma transgressão mesmo, Carille?
– Nada, nada! Desde os 12, 13 anos já assumi uma responsabilidade, fui trabalhar em uma loja. Nada. Não me lembro. A não ser que meu pai e minha mãe falem de algo de criança, que não me lembro. De resto, bem ciente de tudo.

Trabalhou antes do futebol?
– Mudei para Sertãozinho com 11 anos. Aos 12, fui trabalhar numa loja chamada Pontes Material para Construção. Eu tinha uma bicicleta, não tinha internet, nada, era tudo na bicicleta. Entregar cobranças, cartas, foi um ano fazendo isso. Depois, fazia serviço de banco. Saía com uma maletinha cheia de dinheiro da loja para depositar nos bancos, isso em 1985. Um dos donos da loja é meu padrinho de casamento.

Depois entrei no Senai, em Ribeirão Preto, eu me formei em mecânico geral, ajustagem e tornearia. Nunca trabalhei com isso. Depois entrei na Usina San Martin, mas para fazer inspeção de qualidade. Receber peças que chegavam, etc. Até que aos 19 anos passei em um teste no Sertãozinho e parti para o futebol.

Se não fosse jogador de futebol, você seria torneiro mecânico?
– Talvez, mas talvez eu estivesse envolvido com o futebol na minha cidade. Com esporte, dando aula, alguma secretaria... Não sei. Era um sonho, e meu pai teve um dedo muito forte nessa decisão.

O que o secretário Fábio Carille faria pelo esporte?
– Ah, escolinhas... Movimentar a cidade. Em Sertãozinho, o secretário é meu amigo, a cidade tem condições. Esse ano, o primeiro dele, tem campeonato que começa em abril e vai até dezembro. Tem espaço para isso lá. Acredito que eu ia partir para esse lado.

Vamos falar sobre religião no futebol. Aqui temos os casos do Cássio, que passou a frequentar a igreja esse ano, e do Jô, que mudou completamente seu comportamento. Como você vê esse poder da religião dentro do esporte?
– Também sou evangélico, de 2007 para cá vou a uma igreja de Barueri todas as quintas-feiras.

Religião... Não trago muito isso para o grupo. Mas acho que o cara tem de acreditar em Deus, independentemente da religião. Temos várias provas disso. A melhora de conduta do Cássio é enorme, como vocês falaram. Ele sabe que se perdeu um pouquinho em 2016.

O Jô, então, nem se fala. Quando ele foi contratado, as informações que vinham de Porto Alegre e Belo Horizonte eram horríveis. Religião ajuda. É importante ter a família por perto e buscar Deus sempre, sendo católico ou não. É só acreditar e seguir uma linha.

Como a religião toca você?
É uma igreja renovada, vamos dizer assim, não é daquelas com um monte de regras. É muito positiva. Você está lá, escuta um pouquinho da palavra, vê histórias de superação. É um momento meu, em que me sinto bem. Saio de lá renovado.

A responsabilidade aqui existe e é muito grande, e procuro me isolar de tudo isso.

O assunto agora é dinheiro. O futebol está acostumado com muito. Qual o peso do dinheiro em jogadores, pessoas que você convive, etc... As pessoas mudam?
Pela responsabilidade, acho que atleta tem de ser bem pago mesmo, inclusive quem sobe agora. Tem o Arana assumindo uma responsabilidade, o Maycon. Sempre trago a eles a ambição de querer sempre mais, em relação a jogos e títulos. Dinheiro é consequência.

Tem de melhorar cada dia mais, e aí o dinheiro vem naturalmente.

Muito jogador muda depois que se casa ou tem filho. Você já andava na linha antes disso. O que o casamento e os filhos mudaram na sua vida?
É, eu já tenho 20 anos de casado. Casei com 23 anos, estou com 43.

Casei porque, com dois anos de namoro, (ela) é uma pessoa muito tranquila e parecida comigo. Fui ao Paraná Clube e fiquei muito sozinho, aí acelerei meu casamento para o final de 1996. Não mudou muito. Filhos, sim. A minha primeira filha está com 18 anos, e minha sogra, que faleceu em 2011, morou comigo durante 15 anos com Mal de Alzheimer, os últimos dez anos de cama. Eu, como atleta, andei muito sozinho, deixando minha esposa cuidando da mãe. Isso foi muito ruim, porque em algumas situações eu tive de acertar com clubes perto de Sertãozinho para ficar perto de casa. Em 2005, tive uma proposta do Criciúma, e fui acertar no Monte Azul, Série A-3, por isso.

Decisões importantes, financeiramente horríveis, mas perto da família. E vi o crescimento da minha filha de perto.

Você é um pai bonzinho? Ou linha dura?
Tenho um casal, uma menina de 18 anos, um menino de sete. Sou tranquilo, mas o pequenininho, às vezes, tem de dar no meio dele porque o bicho é fogo (risos). Se for mansinho com ele... É esperto, espoleta, vem ao CT e não para. Com ele, tenho de ser um pouquinho mais duro.

A filha mais velha já está maior, então... Você é um pai do tipo ciumento?
Não, não... Ela já namora há dois anos, dois anos e meio. Não adianta sofrer antes. Ainda bem que ela encontrou um rapaz muito legal...
Corintiano?
São-paulino. O cidadão é são-paulino, única coisa ruim dele até agora. Mas não me enche o saco em nada. Quando eu ganhei, nunca tirei sarro nem quando era auxiliar. Mas na hora que ele falar algo, vou deixar algo guardado na manga (risos).




Você trabalha num meio que é muito vaidoso. Brinco, penteado diferente, chuteira colorida... Você se arruma antes dos jogos? Gosta de dar um tapa no visual?

Não, não tenho essa preocupação. Normalmente, pego a primeira camisa que está no armário, e você vai me ver vários dias no mês com a mesma camisa. Não sou vaidoso, mas também não pego no pé dos atletas em relação a essas coisas, a brincos, tenho de me preocupar com outras coisas. Senão vai me tornar muito chato, ninguém vai me aguentar! Cada um sabe até onde pode ir, seus limites, minha cobrança é só dentro de campo.

Nem como jogador?
Não tenho nenhuma tatuagem, nunca usei brinco, nunca tive vontade. E a chuteira sempre preta. Zagueiro. Para caçar os craques, tem de usar chuteira preta. Colorida é para quem faz gol. Se aparece zagueiro com chuteira muito pintada, já mando tirar.

Voltando ao assunto do dinheiro... Você é mais mão aberta ou mão fechada?
Mão fechada até pela minha situação de vida. Talvez, com o tempo... Não gosto de falar nisso, mas ajudo muito as pessoas, os amigos. Sou até mais mão aberta para as pessoas de fora do que dentro de casa. Com o tempo, talvez eu seja mais mão aberta dentro de casa também.
Você já se permitiu algum luxo? Realizar um sonho? Um carro, uma viagem...

Não, não me apego muito a carro, a essas coisas. É natural que você queira comprar uma coisa legal, mas não me apego a roupa, carro, sapato.



Mas tem algum sonho de consumo?
Sim, tenho! Sou apaixonado por praia. Quero ter uma casa lá, apartamento, pé na areia assim. Minhas férias são assim, é onde relaxo. Não procuro montanha, frio, nada.
E qual a praia preferida?
Gosto de Maresias, até pela proximidade, mas ideal, com sol todos os dias... Em Maresias, de cinco dias, três são chuva. Gosto de ficar de sunga, bermuda, chinelo, sem camisa o dia inteiro... Então procuro ir mais ao Nordeste, sete dias de sol rachando, mesmo.

Qual foi a viagem da sua vida? Qual o lugar que você indica para qualquer pessoa?
A viagem da minha vida não foi a passeio. Sou encantado... De tanto ouvir falar, e depois por ter ficado 15 dias. No Japão. Eu me encantei pelo Japão. Tenho o sonho de trabalhar pelo menos um ano lá, viver aquela educação, cultura, limpeza, onde tudo funciona. Até tem uma história. No segundo dia lá, com negócio de fuso horário, acordei 5h da manhã, fui para a porta do hotel, e era uma avenida. Uma senhora de 50 anos, por aí, parou, esperou o semáforo abrir para ela atravessar andando. Eu olhei, não vinha carro nenhum! Cinco da manhã. Não é possível que ela vai esperar abrir. Ela esperou, e num frio! Eu olhei, não vinha um carro... Onde eu estou? Não tem um lixo na rua, e nem um cesto de lixo.

Esse encantamento por praia nos surpreendeu. Tem alguma explicação do passado?
É por questão de liberdade. Não vou para praia com badalação, gosto de praia vazia, quando fui para Maresias, foi sempre em época mais vazia. Ou procuro hotéis isolados no Nordeste, com paz mesmo, tranquilidade, paz, correr na areia, caminhar, dormir depois do almoço, comer outra vez. O tipo de praia que procuro é essa. Se não pudesse ter ninguém, só eu, seria maravilhoso.

Algo que deixamos passar. Você diz que não ouve nada no caminho do CT para casa, mas tem algum estilo de música preferido? Algum show que marcou?
Jorge Aragão, Katinguelê, esses do final dos anos 90. Hoje gosto de Sorriso Maroto, música gospel. Roupa Nova, adoro, já fui a vários shows em São Paulo.

Com 20 anos de casamento, ainda dá para ser romântico?
Então, nesse lado o futebol é bom... Você não fica todo dia em casa. A mulher não se enche tanto de você. É tanta viagem, concentração, que isso ajuda a ficar muito tempo casado.

Para fechar: do que o Carille tem medo?
Do que eu tenho medo... Hoje eu não tenho mais não, mas eu tinha muito medo de morto. Eu ia em velório, passava uns dez dias sem dormir (risos). Hoje não tenho mais. A gente pode falar mais da questão da sociedade, do perigo de assaltos, coisas que incomodam. Mas, de outro tipo, aquela coisa de criança, não tenho mais não...


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38589 visitas - Fonte: Gazeta Esportiva

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