22/4/2017 11:46
Cartilha sobre estilo de jogo, enxugamento e exemplo de Mourinho: as ideias do Corinthians para reerguer a base
] Fernando Yamada, gerente geral do Departamento de Formação de Atletas
Denúncia de desvio de dinheiro, elenco inchado e mudanças na diretoria. Em meio à participação considerável de pratas da casa nos profissionais do Corinthians atualmente, com nomes como Guilherme Arana, Maycon, etc., o clube vê sua base mergulhada em crise e críticas. Para reverter tal cenário, a aposta se dá em um velho conhecido da torcida corintiana: Fernando Yamada.
Goleiro revelado pelo clube, o ex-jogador já indicava gosto pela gestão esportiva antes de pendurar as chuteiras. Afinal, quando chegou em 2011 ao seu último clube na carreira, o então Grêmio Osasco Audax, já havia combinado: jogaria até onde aguentasse e então faria a transição para a carreira de dirigente, o que ocorreu em 2014.
Tal experiência, a convivência com o amigo pessoal Edu Gaspar e o estudo, que começou ainda em meio à rotina de atleta. Passaram a constar em seu currículo um curso de gestão na Faculdade Rio Branco, um de gestão técnica na Universidade do Futebol, outro de direito esportivo, além do Empretec, uma formação não voltada ao esporte do Sebrae. Ainda teve o Leaders, congresso no qual frequentou ao lado de Edu, em Londres, em 2015.
Yamada se fortalecia na nova área e sonhava com um retorno ao clube que o formou e pelo qual foi campeão da Copa São Paulo de juniores de 1999 e o Mundial de Clubes de 2000.
Sondagens começaram em 2015, segundo ele relatou em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, em meio ao trabalho bem feito no clube de Osasco, vice-campeão paulista sub-20 em 2014 - perdeu a final para o próprio Corinthians - e do título do Estadual sub-15 em 2015.
Logo depois viria uma passagem pela Think Ball, empresa de gerenciamento de carreiras de jogadores de futebol. "Aprendi muito, entendi um pouco mais do outro lado da mesa. Eu conversava com outros gestores, visitei muitos clubes estava sempre trocando figurinha. Agregou muito".
O aprendizado do outro lado também deixou na mesa uma polêmica. Dois meses depois de o Corinthians anunciar oficialmente o retorno de Jadson, o clube também confirmou a chegada de Yamada para gerente geral do departamento de formação de atletas. O ex-atleta de 38 anos já era especulado para trabalhar no clube no momento em que o meia estava para voltar ao Parque São Jorge, em uma negociação que passava por suas mãos por conta da empresa pela qual trabalhava. E como tinha a intenção de retornar à rotina de um time de futebol, evitou os holofotes e o contato com a imprensa no período.
"Para mim foi tranquilo, e para as pessoas que me conhecem, também. Joguei no Corinthians 15 anos atrás, e as pessoas com quem estava conversando eram da minha época. Elas me conheciam muito bem. Eu entendi alguns comentários por conta do histórico da categoria de base, o número de escândalos que foi descoberto recentemente. Eu entendi isso, tinha que ter uma análise que não era pessoal. Era o momento, eu separei bem as coisas. Eu entendi e respeitei. Do lado de fora eu também ficava chateado. Toda vez que saía algo do escândalo eu ficava revoltado. Me coloquei no lado do torcedor", afirmou o ex-goleiro.
Aliás, a fama da base é justamente o que Yamada pretende mudar. Para isso, conta com a companhia de outros nomes identificados com o clube, como o ex-zagueiro Célio Silva, que passou a comandar o sub-13 neste mês, ou Márcio Bittencourt, jogador campeão brasileiro em 1990 e técnico do time profissional em 2005, que foi anunciado na quarta-feira para o posto de observador técnico da base.
Com velhos conhecidos ao seu lado, o novo gerente inicia seu trabalho no departamento de formação de atletas cheio de ideias, como contou ao ESPN.com.br.
Enxugar o número de contratos profissionais
Conforme apontou o blogueiro do UOL Marcel Rizzo, o Corinthians tem 105 atletas registrados com contrato profissional, sendo que 74 possuem até 20 anos. Ou seja, 70,4%, uma prorporção maior que o dos rivais e maior também do que o ideal, conforme apontaram dois diretores ao blog.
Yamada: Tem que diminuir, porque desses 70% pouquíssimos têm projeção de atuar no time profissional. Já dividi com a diretoria a minha ideia, porque eu não vejo muito sentido ter jogadores com contrato e que não vão atuar na equipe principal. A tendência é fechar a torneira, principalmente no time sub-20, que já encaro como profissional. Precisa reduzir, só precisar ficar atento, porque tem jogadores que já tem contrato que vieram de outra gestão, e somos obrigados a pagar o contrato com o atleta. Temos que ver possibilidades, algum negociação, empréstimo, e o jogador tem liberdade de aceitar ou não.
Para contratar no sub-20, só se for pontual, uma ou outra posição. Aqui tem que ser jogador aprovado la com 13, 14, 15 anos. Aqui é só pontual, posição carente e que seja um atleta que tenha projeção.
Conselho técnico
Uma vez determinada a intenção de diminuir a quantidade, o foco é potencializar qualidade. Discurso óbvio na teoria e não tão simples na prática. Como passar do papel para o campo?
Yamada: Tudo que for relacionado ao futebol temos um conselho técnico, justamente para não expor o treinador da categoria, para que não tome a decisão por interesse pessoal, e não falo no aspecto de sacanagem, mas por aspecto de competição. De repente ele quer esse jogador, porque sabe que para essa temporada esse atleta vai resolver o problema dele, mas ele não tem projeção profissional, é o tal do jogador que é maturação precoce. Ele vai atender para essa categoria, mas, pensando a médio prazo, não tem perfil para jogar no Corinthians.
Todas as decisões de aprovar, reprovar jogador, fazer contrato profissional ou não, agora vão ser tomadas por um conselho no clube, e envolve o treinador da categoria, auxiliar, o responsável pelo departamento de captação, o responsável pelo departamento de análise de desempenho, nosso observador técnico e eu. Quando você coloca mais pessoas, a tendência é que você minimize o erro. São pessoas que atuam em departamentos diferentes, que têm formações e visões diferentes. Sabemos que, mesmo criando esse tipo de modelo, em algum momento vamos cometer alguma injustiça, existem jogadores que ninguém dá nada, e que daqui a pouco viram grandes jogadores. Mas acho que vamos minimizar os erros e não vamos expor ninguém.
Coordenadores e padronização
Yamada: Uma coisa também que estou adotando é os profissionais da comissão técnica passarem tempo integral aqui (no Parque São Jorge), antes não passava. Eu estou elegendo um coordenador para cada função. Departamento médico já tem, departamento de análise de desempenho, captação, treinador de goleiro, preparação física e o coordenador técnico. Por quê? Vai adotar uma metodologia de trabalho no sub-20 que vai iniciar no sub-11. A ideia é alinhar, colocar no mesmo trilho desde o sub-11 até o sub-20, que é a última etapa. Vão estar debaixo do guarda-chuva dos coordenadores. E ele que vai ditar o ritmo, isso não acontecia.
Já existia um coordenador geral, mas não para cada função de forma completa. Já existia do departamento médico, e na análise de desempenho sempre tinha um responsável, nos outros não tinham. A ideia é eleger um coordenador, até na hora de cobrar, em vez de sentar na mesa com 40 funcionários, você senta com cinco ou seis que são os responsáveis e você vai fazer reuniões periódicas, cobrar, ouvir sugestões e, o mais importante de tudo, alinhar os processos. Ter começo, meio e fim. Porque, caso contrário, o jogador vai chegar no sub-20 totalmente desalinhado e não vai ter culpa, vai ser vítima do processo.
Jogadores vão transitar entre categorias
Além de colocar pessoas designadas para monitorar de forma mais específica, o plano da gestão de base corintiana é aumentar a quantidade de opiniões sobre cada atleta. Para isso, Yamada explica que a ideia é fazer os jogadores rodarem em diferentes categorias por curtos períodos para que diferentes profissionais do clube possam avaliá-los.
Yamada: No sub-15, a ideia é de dois a quatro atletas transitarem um período no sub-17 por dez, 15, 20 dias e então voltarem a sua categoria original. Quando eles voltarem, a categoria de cima devolve um relatório para a comissão técnica da categoria original e apontando principalmente os pontos negativos deste jogador. Aí vai ser feito um rodízio entre todos os jogadores da categoria. Quando este mesmo jogador retornar para a categoria de cima, o relatório vai ser tirado da gaveta e apresentado. Isso não havia. Aí é uma forma de avaliar a evolução do atleta e o trabalho da comissão técnica. É a forma mais justa de se cobrar do treinador da categoria de base.
Yamada: Outro procedimento é os treinadores estarem transitando também em outras categorias. Por exemplo: Célio Silva (foi contratado em abril) é o técnico do sub-13, que treina à tarde. De manhã ele vai ser auxiliar de alguma outra categoria. O objetivo é a interação total dos profissionais, eles estarem sempre trocando informações e envolver também a categoria profissional. Já falei com o Alessandro (gerente de futebol) e o Fábio Carille. Eles entenderam e deram total liberdade.
Nesse congresso que fui na Inglaterra em 2015 (chamado Leaders), quando estava no Chelsea, o profissional que nos apresentou as dependências do clube, em algum momento, disse que, quando o Mourinho foi o técnico, todas as terças ele descia e era auxiliar do sub-20. Era um gesto de humildade e de integração dos departamentos. Achei muito legal e apresentei essa ideia aqui também. Sabemos da demanda do profissional, mas dividi a ideia, e o Carille achou fantástico. Ontem (quarta) ele esteve aqui, viu o jogo-treino do sub-20, no dia de jogo do profissional (contra o Internacional, pela Copa do Brasil), não viu os 90 minutos, mas passou aqui. A ideia é essa, integração total, porque no final o objetivo é o mesmo. O que aconteceu no Corinthians em outros períodos é que pareciam clubes distintos, não se falavam. E não é só no Corinthians não, em boa parte dos clubes do Brasil.
Cartilha
Yamada: Estamos confeccionando um documento que vamos adotar os princípios de jogo que o Corinthians espera receber no profissional. O tipo de jogo que o Corinthians gosta e que culturalmente adota. Dois aspectos: características por posição e alguns princípios de jogo que vamos colocar desde o sub-11 até o sub-20. O Corinthians vai sempre propor o jogo, é difícil ver na retranca, pode acontecer dependendo do jogo. De um modo geral, o Corinthians propõe o jogo, vertical, jogo com saída no chão, não vai rifar a bola, dando chutão, caso contrário, a torcida vai se revoltar. O jogo apoiado, uma das características que mais teve sucesso e é moderno. Ultrapassagem, algo que gosto muito e estou sentindo falta, é algo difícil de ser marcado. São alguns princípios de jogo, vai ser um documento que será distribuído em todas as comissões técnicas, respeitando o garoto e o treinador, se ele quiser usar diferentes táticas. Mas o princípio, os pilares, ele vai ter que inserir no trabalho dele, e o processo é de cima para baixo. Os coordenadores vão cobrar isso. Estamos fazendo esse documento, e o objetivo é o jogador chegar no sub-20 prontinho para chegar ao profissional.
Escândalo na base
O escândalo na base do Corinthians veio à tona em maio de 2016 e causou a saída do gerente Fabio Barrozo, além de problemas para o conselheiro Mané da Carne. José Onofre, diretor do setor, também deixou o clube.
O que ocorreu é que o empresário norte-americanoi Helmut Niki Apaza culpou o clube por um prejuízo de cerca de US$ 110 mil, sendo US$ 60 mil por porcentagens de um atleta da base e mais US$ 50 mil por uma carta que supostamente o permitia representar o Corinthians.
O empresário diz ter sido convencido pelo então gerente da base corintiana, Fábio Barrozo, e pelo conselheiro Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, a adquirir 20% dos direitos econômicos do jogador Alyson, uma promessa da base do Corinthians, por US$ 60 mil.
O empresário aceitou e divididiu o pagamento em três parcelas de US$ 20 mil.
No entanto, a Fifa proíbe a participação de empresários ou fundos de investimento na compra dos direitos econômicos dos jogadores desde o ano passado, o que tornaria a ação irregular.
Além disso, toda a negociação foi feita sem conhecimento do presidente do clube, Roberto de Andrade, motivo pelo qual o Corinthians alegou ser 'vítima' no caso. Barrozzo foi demitido após o caso ser descoberto pelos diretores.
Em julho do ano passado, a Comissão de Ética e Disciplina do Conselho Deliberativo arquivou as denúncias sobre desvio de dinheiro no clube por falta de provas.
Além disso, matéria do portal UOL em 11 de abril apontou que pelo menos três jogadores foram reprovados em testes, acabaram assinando vínculo com o clube e quase não jogam.
Atual diretor da base, Carlos Nujud chegou em março e é o terceiro nome no cargo nos últimos oito meses. Primeiramente, José Onofre saiu em meio ao escândalo acima mencionado e foi substituído por Fausto Bittar Filho, que ficou apenas sete meses. Ele pediu demissão e apontou decisões de Roberto de Andrade nos bastidores como justificativa.
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