13/4/2017 11:20

Pedido de Lula e compromissos ignorados: a delação sobre Arena Corinthians

Pedido de Lula e compromissos ignorados: a delação sobre Arena Corinthians
Ex-presidente da Odebrecht disse que acordo de estádio corintiano foi fechado 'de boca' em um jantar com autoridades e Ronaldo
Ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht disse em delação premiada que os governos municipal, estadual e federal não honraram compromissos na construção do estádio do Corinthians. O estádio estava orçado inicialmente em R$ 420 milhões, mas custou cerca de R$ 1,1 bilhão.

O plano de negócio da arena alvinegra, segundo Marcelo, foi definido "de boca", informalmente, em um jantar na casa de Marcelo.

Marcelo conta que participaram do jantar que definiu a engenharia financeira do estádio o então presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, o diretor de marketing do clube na época, Luis Paulo Rosenberg, o então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o então jogador Ronaldo. A reunião ocorreu no início de 2011.

O ex-representante da Odebrecht informa que o governo municipal, então comandado por Gilberto Kassab, havia se comprometido a contribuir com R$ 420 milhões, além do custo com estrutura provisória para receber o jogo inaugural da Copa do Mundo (que poderia a chegar a R$ 100 milhões). Mas essa verba municipal não foi disponibilizada, destaca Marcelo.

Por conta do desfalque que a prefeitura não teria honrado, Marcelo Odebrecht disse em delação que a empreiteira foi obrigada a colocar dinheiro no projeto, além de outros valores não previstos.
Pedido de Lula
Já quanto ao governo federal, Marcelo disse que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava à frente do projeto de construção do estádio. Lula, segundo Marcelo, teria feito o pedido diretamente ao pai de Marcelo, Emílio.

"Teve o pedido do Lula para o meu pai: 'Ajuda o Corinthians a construir estádio privado'. Só isso. Aí nessa época, eu nesse assunto ainda não tinha me envolvido'", disse Marcelo.

O apoio federal viria através de liberação de empréstimo do BNDES (R$ 400 milhões). Para atestar que o BNDES estava alinhado, Marcelo conta que Luciano Coutinho também esteve no jantar que sacramentou o plano.

Na delação, Marcelo declarou que houve uma manobra para assegurar o empréstimo do BNDES. Ele disse que um empréstimo vultoso a um clube causaria reação negativa aos bancos, em virtude de dívidas do clube. Para facilitar a obtenção de empréstimos bancários, foi aberta uma conta desvinculada ao Corinthians para onde iria o empréstimo.

Além das promessas "de boca" que tinha recebido, Marcelo Odebrecht relata que a construção da Arena esbarrava em um enorme problema: o alto custo para se adequar às exigências da Fifa. O estádio havia sido escolhido para abrigar a estreia da Copa do Mundo.

A Fifa exigiu uma arquibancada móvel, além de detalhes estruturais que elevaram o custo. O valor a mais colocado no estádio por conta do Mundial era "absurdo", disse Marcelo.

"O Corinthians disse que toparia fazer o estádio que pudesse fazer a abertura da Copa do Mundo. O que era um absurdo [investir mais em um estádio por exigência da Copa], porque você faz um estádio para um dia, o evento da Copa do Mundo, com 70 chefes de estado, e depois tem que desmontar um bocado de coisa. Nenhum outro evento vai precisar justificar aquele estádio, o estádio de abertura da copa do mundo era R$ 800, 900 milhões. Você sair de um de R$ 300 milhões, ou R$ 400 milhões, que era o que o Corinthians queria, para um de R$ 800, 900 milhões por causa das exigências da abertura".

Promessas não cumpridas
Marcelo conta que o governo estadual teria se comprometido a bancar as reformas no entorno do estádio, além da construção da arquibancada temporária, exigência da FIfa. O custo dos assentos temporários seria de R$ 38 milhões.

Marcelo disse que o valor não foi pago pelo governo de Geraldo Alckmin e que a empreiteira teve de assumir a maior parte do valor.

Marcelo disse que os envolvidos consideraram temerária a maneira como a prefeitura de São Paulo contribuiria financeiramente. O modelo de emissão de CIDs não era confiável, declarou Marcelo. Mas Kassab teria dito no jantar que assumiria o compromisso de honrar o pagamento mesmo que não houvesse êxito com o dinheiro via emissão de certificados de títulos públicos.

"Da prefeitura, Kassab tirou da cartola [a questão] dos CIDs [venda de títulos públicos pela prefeitura]. O Kassab prometeu R$ 420 milhões de CIDs. Então seria R$ 820 milhões. O Corinthians assumiria R$ 400 e ele [Kassab] assumiu a diferença de R$ 420 milhões"

"Mas a gente estava preocupado na época [com a forma como sairia a contribuição financeira da prefeitura]. Tanto que nessa reunião, a gente disse: 'Pera aí'".

"Aí ele [Kassab] assumiu e disse: 'Eu vou apoiar na monetização. Ele disse que estava acertando com Ministério da Fazenda. Como o Ministério da Fazenda não poderia mandar dinheiro para CID, mandaria para outro lugar. E ele [Kassab] reservaria esse dinheiro".

"É aquela história: o cara promete e depois ele vai ver a responsabilidade fiscal, mas prometeu de boca R$ 420 milhões".

A emissão de CIDs para a Arena Corinthians chegou a ser barrada judicialmente. O prefeito que sucedeu Kassab, Fernando Haddad, se mostrou contrário à emissão de títulos públicos em benefício do estádio do Corinthians.


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