8/4/2017 08:01
Quase carrasco do Timão, xará de técnico rival... Conheça o braço direito de Carille
Leandro da Silva, o Cuca, era capitão do Cianorte que enfrentou Corinthians em 2005, tem Caio Júnior como inspiração e não pensa em ser treinador. Ele vê a equipe brigando entre os líderes no Brasileiro
Cuca, hoje, é um dos personagens principais da montagem de um Corinthians competitivo em 2017. Cuca? Num primeiro momento, o torcedor alvinegro pode até se lembrar do técnico que passou há pouco tempo pelo maior rival do Timão. Mas este homônimo, auxiliar de Fábio Carille desde janeiro, não tem pretensões de comandar uma equipe no futuro.
O Cuca corintiano é Leandro da Silva, 43 anos, ex-volante e zagueiro com passagem por 19 clubes no Brasil – entre eles, Coritiba, Paraná, Chapecoense, Cianorte... Como auxiliar, esteve no Vila Nova. Como técnico principal, só no Volta Redonda. Uma experiência que ele não deve repetir.
– Eu me vejo muito mais como auxiliar, no suporte do trabalho, não sendo o treinador. Pela experiência que eu tive, que foi até boa, gosto mais de estar por trás, não aparecer muito, não ser o centro das atenções – afirmou Cuca, que às 16h (de Brasília) de domingo, na arena, tentará ajudar Carille a classificar o Corinthians para as semifinais do Campeonato Paulista, contra o Botafogo (o jogo de ida das quartas terminou 0 a 0).
Leandro da Silva, o Cuca, é homem de confiança de Carille: amizade antiga (Foto: Carlos Augusto Ferrari)
O apelido nada tem a ver com o técnico consagrado, campeão brasileiro pelo Palmeiras. Formado nas categorias de base do Coxa, Leandro da Silva chegou ao clube depois de um torneio amador disputado em Curitiba. Ainda garoto, jogava pelo time de um projeto social. O nome? Cuquinhas do Honório. Depois dali, passou a ser chamado de Cuquinha. Quando cresceu, virou apenas Cuca.
O Corinthians não chega a ser novidade na vida do auxiliar de Carille. Pelo Cianorte, foi capitão da equipe que quase eliminou o Timão na Copa do Brasil de 2005. Depois de uma expressiva vitória por 3 a 0 no jogo de ida da segunda fase, Cuca viu seu time cair no Pacaembu: 5 a 1 Timão. Por pouco não foi carrasco de estrelas como Roger, Carlos Alberto, Tevez... O que deu errado?
Não tínhamos mais aquilo de pensar como grupo, como time. Vimos o grupo se diluir. Pensávamos em entrar e fazer um gol. Levamos um gol e conseguimos o mais difícil, empatar. Foi uma coisa bem louca. Para minha vida de atleta, foi uma das maiores frustrações porque era algo muito possível. Mais de 90% dos jogadores já tinham emprego para depois. Após o jogo, o único que se empregou fui eu, no Gama – relembrou Cuca.
O técnico daquele Cianorte era Caio Júnior, principal inspiração do corintiano na profissão. Ainda hoje, tem contato com os familiares de Caio, que foi uma das vítimas do acidente com o voo da Chapecoense, em novembro passado.
Em mais de meia hora de conversa, Cuca falou sobre a tristeza com a perda do amigo, a alegria posterior com o convite do Corinthians, a relação com Carille, o atual momento do time... Leia a íntegra:
GloboEsporte.com: Assim como Fábio Carille, você atuou por clubes menores na carreira de jogador profissional. Como foi sua trajetória?
Leandro da Silva: Fiquei 11 anos no Coritiba, da base ao profissional. Depois disso, passei por 19 clubes profissionalmente. Joguei muito mais no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, em alguns clubes do interior e no Juventus. Eu era volante e nos últimos três ou quatro anos fui jogar como zagueiro. Pensando melhor depois, eu deveria ter feito essa transição bem antes. Acredito que poderia ter tido mais êxito.
Já como zagueiro, você quase eliminou o Corinthians da Copa do Brasil jogando pelo Cianorte...
Eu era o capitão daquele time. Tivemos um problema muito grave de um jogo para o outro, foram 28 dias. Controlar a euforia depois de ganhar de 3 a 0 foi muito difícil. Para o Caio foi difícil controlar os atletas. Todo mundo se voltou para Cianorte. Viemos para São Paulo em uma logística bem ruim, ficamos na Rua Augusta, com foguetório a noite toda, jogadores assediados. Fomos para campo totalmente fora de foco (perderam por 5 a 1).
Houve um deslumbramento pela vitória no primeiro jogo?
Não tínhamos mais aquilo de pensar como grupo, como time. Vimos o grupo se diluir. Pensávamos em entrar e fazer um gol. Levamos um gol e conseguimos o mais difícil, empatar. Foi uma coisa bem louca. Para minha vida de atleta, foi uma das maiores frustrações porque era algo muito possível. Mais de 90% do time já tinha emprego para depois.
Após o jogo, o único que se empregou fui eu, no Gama. Muitos atletas negociaram contrato no hotel, mas acabou aquele jogo e ninguém teve mais nada.
Ao lado de Carille, Cuca cuida da montagem do Timão de 2017: defesa já está arrumada (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Seu técnico no Cianorte era o Caio Júnior, uma das vítimas do acidente da Chapecoense. Ele é uma referência para você?
Sempre fui de me preocupar com as questões táticas. Tive o prazer de jogar com o Caio. Depois, ele foi meu treinador e continuamos discutindo muito futebol. Como zagueiro, consegui ampliar muito mais essa visão, enxergar o campo de forma mais ampla. O Caio sempre foi uma referência para mim. Trabalhei com Gilson Kleina também, que tinha sido meu preparador físico na base do Coritiba. Isso acaba facilitando para tirar dúvidas e debater.
Como foi seu fim de ano diante disso tudo que aconteceu? Você perdeu um grande amigo e logo em seguida foi convidado para trabalhar no Corinthians...
Vivi duas situações bem diferentes. Fiquei nove meses longe de casa ano passado (era auxiliar do Vila Nova-GO). Desses nove meses, fiquei duas semanas em casa. Passei uma semana muito difícil depois do acidente. Eu tinha jogado com o Danilo no Cianorte, conhecia outros atletas. Conhecia toda a comissão do Caio. Eu joguei na Chapecoense, fui campeão e conhecia praticamente todo mundo. Foi muito doloroso. Hoje, continuo a amizade com os filhos. Tristes por tudo o que acontece, mas com boas lembranças, grandes coisas guardadas na memória. E depois foi uma euforia grande por ter recebido o convite do Fábio para trabalhar no Corinthians. É o sonho de todo profissional.
A amizade com Fábio Carille vem de longa data também...
Conheci o Fábio em 96. Ele no Paraná Clube, e eu no Coritiba. Ele foi trocado pelo Bezerra e veio jogar conosco logo em seguida. Já na primeira viagem sentamos juntos no avião. Fizemos uma amizade, mas não de grandes amigos. Em 98, nos reencontramos no Iraty-PR. Fomos para o XV de Piracicaba e moramos no mesmo prédio, conhecendo as famílias. Viemos juntos para o Juventus, e o Fábio morou no meu apartamento. Ele não trouxe a família para São Paulo e ficou em casa. Criamos um vínculo de irmão. A partir do Juventus, tomamos uma decisão de trabalharmos juntos no futebol, na área técnica. Quando parei de jogar, comecei a me preparar para essa chance de trabalharmos juntos. Ele sempre disse que me levaria quando se tornasse treinador e aconteceu.
Falando do time, você acha que o Corinthians já chegou ao nível que imaginavam?
É difícil falar em percentual de quanto podemos atingir. Não estamos no ponto que gostaríamos. Passa pelo tempo de trabalho, até hoje não tivemos uma semana cheia de trabalho. Quando você quer aplicar alguns conceitos, não consegue com pouco tempo de trabalho. Sempre na véspera de jogos passamos as questões táticas e depois o individual. Fica muito pelo lado visual. O ideal seria mostrar e trazer para o campo e praticar. O importante é que os atletas estão dando uma resposta positiva.
Por que o ataque ainda não deslanchou?
Temos feito alguns trabalhos para melhorar a questão de finalização e técnica. Claro que ainda não é o ideal. Partimos de um princípio que temos mais chance de vencer um jogo quando não saímos atrás no placar. Claro que queremos vencer de forma tranquila, mas estamos em um caminho para que isso aconteça de forma natural, dentro da evolução de jogar. Nós também ficamos preocupados para que aconteça o quanto antes. Nós priorizamos algo (a defesa), aquela outra parte (ataque) vai acontecer, mas precisa passar por um processo de trabalho, de campo. Não posso dar um prazo, mas temos a certeza de que vai acontecer.
Mas vocês pensam em fazer mudanças na forma de jogar para melhorar o ataque?
Como vamos mexer agora em uma questão tática com pouco tempo de trabalho? Você tem que ter um cuidado para não estragar o que está bom.
A torcida sempre mostra preocupação sobre qual será o desempenho da equipe no Brasileiro. O Corinthians briga pelo quê?
Muito se fala que o Corinthians seria a quarta força no Paulista. Isso tudo é provado dentro de campo. Nossa preocupação é encontrar o equilíbrio de jogar um bom futebol. Nossa primeira preocupação sempre foi com a identidade do time, de ter uma identidade que o torcedor gosta, com entrega e dedicação. Acho que isso nós conquistamos. Os outros aspectos podemos melhorar.
A desconfiança não é do torcedor do Corinthians. Creio que seja mais de fora, de outros torcedores. Internamente, sabemos que temos muita força. Acho que vamos disputar em cima (no Brasileiro).
Ainda é necessário contratar muitos reforços?
Agora vamos em busca de posição pontuais dentro da necessidade. Não acredito em muitos atletas chegando.
Os garotos da base ganharam mais espaço nesta temporada. Você acha que essa é uma tendência por conta do momento financeiro que o clube atravessa?
A utilização depende muito mais deles do que de nós. Arana e Maycon são realidades para o clube, que já deram retorno. Temos outros que passam por um processo de adaptação e precisam de tempo para se firmar. Sempre imaginamos oportunizar aquele que tem vivido um bom momento. Não tem nome, idade, currículo, nada. O que estamos preocupados é o desempenho deles.
Você e o Fábio Carille são muito tranquilos, dificilmente são vistos nervosos. Esse comportamento dos técnicos tem mudado?
Temos atletas inteligentes hoje, bem resolvidos. Na época em que eu joguei, não tínhamos tanto isso.
Hoje, conversando você consegue mudar muita coisa. É muito mais fácil fazer com que o atleta concorde com você mostrando do que gritando. No intervalo você vai chegar gritando? No intervalo você precisa arrumar o time. Peguei muitos treinadores que gritavam, quebravam quadro. Hoje, se um jogador não se comprometer e se esforçar, quem está atrás vai tomar o lugar dele.
Carille ficou oito anos como auxiliar e passou a ser treinador.
Você também pensa em seguir a carreira de técnico?
Não. Eu até tive uma experiência como profissional (Volta Redonda). Eu me vejo muito mais como auxiliar, no suporte do trabalho, mas não sendo o treinador. Até pela experiência que eu tive, que foi até boa, gosto mais de estar por trás, não aparecer muito, ser o centro das atenções.
Próximo adversário: Botafogo-SP
Local: Arena Corinthians, em São Paulo
Data e horário: domingo, 16h (de Brasília)
Escalação: Cássio, Fagner, Balbuena, Pablo e Guilherme Arana; Gabriel e Maycon; Jadson, Rodriguinho e Romero; Jô
Desfalques: Pedro Henrique e Kazim
Pendurados: Fagner, Jô e Gabriel
Arbitragem: Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza, auxiliado por Tatiane Sacilotti dos Santos Camargo e Luiz Alberto Andrini Nogueira
Transmissão: TV Globo para SP (com Cleber Machado, Caio Ribeiro, Casagrande e Leonardo Gaciba) e Premiere HD, Premiere HD e PFCI (com Milton Leite e William Machado)
Tempo Real: GloboEsporte.com, a partir das 15h
Ingressos: informações aqui
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