7/3/2017 07:41

Código de silêncio trava apuração de crimes ligados a torcidas organizadas

Membros de uniformizadas dificultam investigações ao se recusarem a identificar rivais em casos de violência; para polícia, intenção é de se vingarem à margem da lei

Código de silêncio trava apuração de crimes ligados a torcidas organizadas
Em agosto de 2011, o corintiano Douglas Karim da Silva foi encontrado morto no rio Tietê, em São Paulo. Dias antes, ele havia se envolvido numa briga com palmeirenses e desaparecido. Em conversa informal com policiais, amigos de Douglas identificaram dois dos rivais
envolvidos no confronto. Na delegacia, porém, voltaram atrás e se recusaram a dar os nomes dos responsáveis em depoimento. Quase seis anos depois, ninguém foi preso.

Em março do ano seguinte, corintianos e palmeirenses voltaram a se enfrentar, desta vez na avenida Inajar de Souza, na Zona Norte da capital. Dois palmeirenses morreram. Para a polícia e o Ministério Público de São Paulo, não há dúvida sobre a relação entre os dois crimes. E que ambos demonstram o modus operandi dessas uniformizadas, que silenciam em frente às autoridades para que possam resolver esses conflitos à margem da lei.

Um sistema herdado do crime organizado, enraizado nessas instituições, de acordo com policiais ouvidos pelo GloboEsporte.com. Essa relação com o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que domina o tráfico de drogas e as cadeias em São Paulo, é uma das linhas da investigação do assassinato de Moacir Bianchi, fundador da Mancha Verde, principal uniformizada do Palmeiras, morto na semana passada.

Nas torcidas, o crime encontra ambiente favorável para o comércio de entorpecentes, recrutamento de novos membros e para lavagem de dinheiro.

O que está acontecendo é que muitas pessoas têm a torcida como modo de vida, elas estão enriquecendo com as torcidas organizadas. Essa justificativa de que elas amam o clube, isso é tudo mentira, elas estão fazendo negócio com as torcidas organizadas"


O que está acontecendo é que muitas pessoas têm a torcida como modo de vida, elas estão enriquecendo com as torcidas organizadas. Essa justificativa de que elas amam o clube, isso é tudo mentira, elas estão fazendo negócio com as torcidas organizadas – disse a delegada Margarete Barreto, titular do Drade (Delegacia de Repressão e Análise de Delitos de Intolerância Esportiva).

A afirmação foi feita em depoimento no dia 23 de junho de 2016, durante o julgamento do caso da avenida Inajar de Sousa (veja no vídeo acima), que teve início há pouco mais de um ano – são 25 réus, cujos interrogatórios começarão em audiência no próximo dia 4 de maio, após o fim dos depoimentos das testemunhas de acusação e defesa em fevereiro.

Silêncio
A polícia não conta com a colaboração de membros das organizadas durante a apuração de crimes ligados a elas. Esse código de silêncio é compartilhado por todas as uniformizadas.

– Isso é uma prática das torcidas, elas não colaboram nas investigações. Elas nunca dizem quem são os autores, (mas) eles sabem quem são os autores. Mesmo porque eles pretendem cobrar essa dívida nas ruas – explicou Margarete.

Essa regra quase foi quebrada durante a investigação da morte de Douglas Karim da Silva, que teria se jogado no rio Tietê para fugir dos agressores que o perseguiam e morrido afogado.

– Alguns torcedores da Gaviões da Fiel (organizada do Corinthians), mais precisamente dois indivíduos que estavam com o Douglas naquela noite, em um primeiro momento, informalmente, chegaram a citar quem seriam essas pessoas (agressores). Na data marcada para o depoimento formal, eles voltaram atrás – contou o investigador Paulo Francisco Cezar, em depoimento no dia 9 de maio do ano passado.

– No primeiro momento, (as testemunhas) foram (capazes de identificar). Depois não quiseram assinar depoimento, com medo de represálias – afirmou o também investigador Kleber Venâncio Catarino, no mesmo dia.

A negativa travou a investigação. O mesmo não aconteceu no caso da Inajar. A apuração avançou graças a duas testemunhas presentes no conflito, nenhuma com ligação com as torcidas. Decidiram colaborar, mas sob proteção – no processo, são identificadas apenas como "Canadá" e "Letônia", termos aleatórios.

Círculo de violência
De acordo com o relato dessas duas testemunhas, o alvo dos corintianos era uma pessoa identificada apenas com o sobrenome Lezo – sem especificar qual dos três irmãos, Tiago, André ou Lucas, associados à chamada linha de frente da Mancha Verde, a divisão mais violenta da torcida.

Num bar, durante a madrugada que antecedeu a briga na Zona Norte, um homem subiu em uma mesa de bilhar:

– Hoje a gente vai pegar o Lezo e vingar a morte do nosso irmão (Douglas). Vamos caçar os porcos – teria dito o homem. No confronto, na manhã do dia 25 de março de 2012, foram mortos André Alves Lezo e Guilherme Vinícius Jovanelli Moreira.

A investigação identificou 14 pessoas ligadas à Gaviões, acusadas de duplo homicídio e formação de quadrilha, e 11 relacionadas à Mancha Verde, denunciados por formação de quadrilha – entre eles, o irmão de uma das vítimas, Tiago Alves Lezo.

O início do julgamento é apontado como estopim de uma nova onda de violência. A primeira audiência aconteceu em 29 de fevereiro do ano passado. Dois dias depois, o presidente da Gaviões, Rodrigo de Azevedo Lopes Fonseca, que é um dos réus, foi espancado no estacionamento de um supermercado na Zona Oeste, momentos após se reunir com líderes de outras torcidas no Fórum Criminal da Barra Funda.

– A motivação foi que depois da audiência todo mundo foi solto, e ocorreu uma revolta por parte dos palmeirenses – disse a delegada Margarete Barreto.

No dia 1º de abril de 2016, a polícia anunciou a prisão de Deivison Correia, membro da Mancha, suposto autor da emboscada. Era a antevéspera do clássico entre Corinthians e Palmeiras.

Na manhã do Dérbi, brigas entre torcedores das duas equipes foram registradas no metrô e numa praça da Zona Leste, onde um homem sem relação com as organizadas foi morto com um tiro. Após a partida, corintianos agrediram palmeirenses próximos ao estádio do Pacaembu. Foram esses conflitos que levaram a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a determinar a realização de clássicos com torcida única no estado.

Desde então, foram registrados apenas conflitos menores em São Paulo. O caso da última semana, quando o fundador da Mancha Moacir Bianchi foi executado no Ipiranga, é investigado como uma ação do crime organizado numa disputa interna de poder na torcida.

A polícia civil apreendeu computadores e outros materiais na sede da uniformizada na última sexta-feira. Nesta segunda, os investigadores começaram a ouvir testemunhas. O presidente da organizada, Alessandro Nigro, era esperado para depor. A investigação está sob sigilo.


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