Andrés Sanchez assumiu a presidência do Corinthians em outubro de 2007, após renúncia do então presidente Alberto Dualib, que corria risco de impeachment por escândalos na administração do clube e na parceria com o Grupo MSI. Além do mandato-tampão, que incluir o rebaixamento no Brasileirão no currículo dele, Andrés ocupou o cargo até o início de 2012, quando foi substituído por Mário Gobbi, também de sua chapa, a Renovação e Transparência.

Em 2015, também com apoio de Andrés, foi a vez de Roberto de Andrade assumir o clube, com mandato previsto até o fim de 2017. 
Ao todo, o grupo, sempre com grande influência de Andrés, ficou dez anos no poder do Corinthians. Chegou então a hora de mudar. Ou de "oxigenar" o clube, segundo palavras do próprio Andrés. 

– Hoje tem novos líderes, novos grupos e a cada três anos vai ter um presidente novo. A Renovação e Transparência foi fundada em 2006 e, com o mandato do Roberto, já vai fazer dez anos no poder. Eu quatro anos, Mario três, Roberto três. Acho que é o suficiente, tem de ter gente nova – afirmou o ex-presidente e deputado federal. 

Andrés só não sabe quais e quando irão surgir as novas lideranças. Na última eleição, Antonio Roque Citadini, de 66 anos e ex-vice de futebol de Dualib (cargo que o próprio Andrés chegou a ocupar), foi o candidato da oposição. Um mês antes do pleito, ele recebeu o apoio de Paulo Garcia, 61 anos e que lançara a candidatura em eleições anteriores.

Nesta segunda e última parte da entrevista concedida ao GloboEsporte.com, Andrés faz um balanço dos dez anos de poder no Corinthians, cita as conquistas do clube no período (estádio, CT, Libertadores e Mundial, e estatuto reformado proibindo reeleição), mas diz que jamais voltará à presidência, embora não consiga se afastar completamente do dia a dia.
– Só dou opinião quando me pedem – diz.

GloboEsporte.com – Um dos motivos que travaram a gestão de Gobbi foi ter de pagar a dívida tributária (dos salários dos jogadores), herança da sua gestão...

Andrés Sanchez – (irritado) Você é um mal informado, né? Você é mal informado, meu! Que eu saiba não. Pega os meus balanços de 2008 a 2011 e vê. Já que você é um economista, conhece bem disso aí, pega meus balanços e vê. Assumi o clube em outubro de 2007. Eu paguei todos os impostos de 2005, 2006, 2007... Em outubro de 2009, ou eu pagava imposto ou pagava salário e as dívidas do clube porque veio Nilmar, com R$ 40 milhões... E nós fizemos opção. Infelizmente, não dava para pagar imposto naquele momento. Mas estava no balanço que devia imposto. Não é que soneguei. Falei: devo, não nego, mas pago quando puder.

No fim de 2012, Mario (Gobbi) fez acordo com a Receita (Federal) e estava pagando todos os impostos parcelados no Refis (Programa de Refinanciamento Fiscal do Governo Federal). Mas a Justiça entendeu diferente e processou criminalmente eu, o Raul (Correa da Silva), o Mario e o André (Negão). E nessa ação judicial, a diretoria da época achou por bem pagar esses R$ 36 milhões de impostos. Mario renovou o contrato da Nike por dois anos e pegou dinheiro de luvas antecipado. Também não saiu dinheiro do caixa. Então, não tem desculpa. O Corinthians está devendo ou diz que está difícil porque contratou jogador, porque aumentou salário, porque ser campeão custa caro. Então, quando se é campeão, jogador quer mais dinheiro, treinador, massagista, roupeiro, médico... E tudo isso fica mais caro e encarece a folha de pagamento.

Nota da redação:Incluindo juros e multas, as dívidas tributárias do Corinthians nas gestões de Dualib, Andrés e parte de Mário Gobbi chegaram a R$ 126 milhões. Para regularizar a situação, em agosto de 2014, o então presidente Gobbi pagou R$ 6 milhões de entrada e parcelou o restante em 15 anos no Refis. O clube também teve de pagar R$ 15 milhões para a Justiça Federal, referentes a impostos devidos de 2010 para interromper ação criminal contra Andrés e outros dirigentes do clube que eram acusados de sonegação fiscal, segundo o jornal "Folha de S. Paulo". Em agosto do ano passado, o modelo de refinanciamento das dívidas tributárias dos clubes mudou com o Profut e o Corinthians parcelou a dívida de R$ 186,5 milhões.



Você assumiu o clube no ano do rebaixamento, em outubro 2007, não se pode dizer que você rebaixou o clube...
Eu era o presidente, fui eu que caí com o clube também, tenho minha parte de culpa.

Depois de voltar à Série A, o Corinthians viveu um período áureo, foi campeão brasileiro (2011), da Libertadores e mundial (2012) já com Gobbi na presidência, mas ainda com sua chapa Renovação e Transparência. Depois, Roberto de Andrade foi eleito. Mas o grupo foi se dissolvendo aos poucos, Gobbi se afastou...

Não é que foi se dissolvendo. Eu entendo que o clube tem de se oxigenar. E hoje tem novos líderes, novos grupos e a cada três anos vai ter um presidente novo. A Renovação e Transparência foi fundada em 2006 e, com o mandato do Roberto, já vai fazer dez anos no poder. Eu quatro anos, Mario três, Roberto três. Acho que é o suficiente, tem de ter gente nova. Então, não é que o grupo rachou, que a chapa se acabou. Eu, como um dos maiores líderes e fundador do grupo, acho que tem de ter renovação. Então, se eu não vou ser mais candidato, nada mais justo que as pessoas se sintam candidatas dentro do grupo. Isso é a novidade no clube. Vocês pedem tanto a democracia, mas quando tem reclama que tem racha, quando não tem racha diz que o cara fica eterno, e assim vamos tocando a vida. Vivemos num país hipócrita.

Não estou reclamando de nada...
Não está reclamando, estou dizendo que, se o cara fica dez anos, se eterniza. Se tenta oxigenar, dizem "olha, está rachado". 
Na última eleição, os candidatos eram Paulo Garcia, que abiu mão da candidatura, e Roque Citadini, nomes de sempre no clube. São eles que vão oxigenar a administração do Corinthians?

Isso quem vai decidir é o sócio. Eu vou votar no que eu achar que é melhor para o clube, não vou anunciar, não vou apoiar, vou lá votar secreto. Porque não quero dizer: "Olha, estou apoiando tal pessoa". Se ela ganhar, vou continuar mandando. Se ela perder, eu perdi... Então, meu voto vai ser secreto.

Você continua muito influente no clube, as pessoas continuam dizendo que quem decide são você e o presidente, ou o presidente e você...
Tem muito exagero, muito exagero. Em 2012 eu tive muito acesso (à presidência), depois não tive mais, só opinava quando pediam minha opinião. Em 2015, o Roberto me pediu e eu ajudei bastante (foi superintendente de futebol), mas no fim de 2015 eu saí, e hoje se ele me ligar e pedir minha opinião ou isso e aquilo, eu dou opinião, mas quem decide é o presidente. Não existe ninguém que mande mais no clube do que o presidente. No acerto e no erro, até porque o clube é presidencialista

A contratação do Oswaldo de Oliveira foi um acerto ou um erro?
O tempo vai dizer. Todo treinador que ganha é bom, o que perde é ruim. Tite quando veio ninguém acreditava. 
Roberto pediu sua opinião?
Não, do Oswaldo não.

E para o Cristóvão?

Do Cristóvão pediu. 

Ele sabia que você não concordava com Oswaldo, por isso não pediu?
Mas na época não estava sendo cogitado o Oswaldo. Na época do Cristóvão, os dois primeiros técnicos que ele tentou eram outros. 
Minha pergunta é, se Roberto não te perguntou do Oswaldo depois da demissão do Cristóvão, porque sabia que você não aprovaria.
(Irritado) Não, não. É que você tem de fazer a pergunta mais clara, fica rodeando, seja mais claro. "Você que indicou?", "Você colocou o Cristóvão?", "Você vetou o Oswaldo?"... No fim o que você quer perguntar é isso. Deixa eu dizer: na época, o presidente queria outro treinador, não pôde vir. Numa reunião no CT, tinha alguns nomes e eu dei o nome do Cristóvão, mais uma opção. Com os dias passando, ele acertou com o Cristóvão. Não estava cogitado o Oswaldo na época. 

E o Flavio Adauto, como diretor de futebol?
Bom, um cara que já passou pelo clube, tem história no futebol, uma grande pessoa. Espero que tenha sorte e Deus que o ajude.
O Flamengo está com uma política austera há algum tempo, reduziu a dívida, mas o último título foi em 2014, a ponto de rivais dizerem que o clube, como banco, é bem administrado.

Eu acho que não é muito bem administrado, e acho também que não ganhou nada por mil outras razões. Acho que o grande desafio de um dirigente é achar um equilíbrio, na parte financeira e na parte técnica. Não dá para ser perfeito na financeira, e na técnica ao mesmo tempo. O Flamengo tem a política dele e o tempo vai dizer se está correto ou não. Tudo tem de esperar o posterior. Presidente fica três anos, quatro anos, depois ele sai. 
Como vai ser o posterior dos últimos dez anos depois que o Roberto sair?
Acho que vai ter mais positivo do que negativo, com acertos e erros. Se você pegar os últimos oito anos, existia CT no Corinthians? Hoje está aí e está pago. A parte administrativa estava como está? Não. Com todos os problemas que possa ter, tem o estádio. Ganhou títulos. Acabou! Entreguei o clube faturando R$ 350 milhões e devia R$ 177 milhões. Está tudo lá no balanço. A partir de 2012, que tenho participação, tenho. Mas cada presidente responde
Qual foi seu maior erro?
Tem vários, pô! Um monte de erro, mas tem muito mais acertos. Falar “não” todo dia e “sim” é difícil. 

Você faria algo diferente?
Talvez não ser presidente.

Por quê?
Por isso que estamos passando tudo aqui, pelas perguntas que vocês fazem, pelas insinuações que existem, é um preço muito caro que se paga. Mas fui feliz, é uma paixão que tenho, só que são três, quatro anos. Não me vejo novamente presidente do Corinthians e acho que tem de renovar, mudar, a cada três anos um novo presidente. 

Teve a mudança no estatuto também.
Foi a melhor coisa que o Corinthians fez. Não ter reeleição.
Você continua fumando como sempre ou diminuiu?
Fumo menos. Mas ainda fumo mais do que devia. 

Fuma mais em Brasília ou aqui?
Normal, fumava mais quando era presidente. Não sou mais, fumo menos. Mas é um mal que tem de acabar. 

Ser presidente do Corinthians aumentava muito seu nível de ansiedade?
Muito mais, muito mais, não tem nem comparação.
Tem projeto futuro na política, reeleição?
Não vou falar nunca porque é uma coisa muito forte, mas espero seguir outros caminhos.

Presidente da CBF?
Não tenho chance. Acho que poderia ajudar, mas vocês sabem como é a eleição da CBF. Não precisa eu falar, todos vocês sabem. 
Qual sua relação com Marco Polo Del Nero?
Zero.
Você encontrou com ele em Brasília, não?
É, ele foi na CPI e eu cumprimentei, apesar de dizerem que não sou educado, mas sou. 

Você mantém contato com a família Odebrecht?
Não, só conversei e conheci durante a obra do estádio. 
Hoje a relação está desgastada...

Não vou nem dizer desgastada, nós estamos cobrando coisas e estamos vendo coisas que talvez incomode eles. Mas terá que ser feito, o Corinthians não pode ser prejudicado. 

O Brasil inteiro está vendo coisas.
Toda obra da construtora hoje está sendo olhada. De um apartamento à uma grande usina.

> Andrés diz que vazamento na Arena Corinthians foi resolvido há um ano
(O ministro das Relações Exteriores José) Serra também foi citado em delação... Reportagem da "Folha de S. Paulo" diz que parte dos R$ 25 milhões que ele teria recebido como caixa 2 foram pagos em conta na Suíça...

Dizem tantas coisas, se dizem de mim, dizem dos outros, vamos esperar o tempo pra dizer. Vamos esperar. Se foi pago lá fora, caixa 2 lá fora é muito mais grave ainda. 

Como está a vida política em Brasília?
O país está passando por um momento difícil. Acho que tem de passar a limpo, tem de melhorar as coisas, mas tem que achar um meio termo em tudo. Aqui no Brasil o que vale hoje é o primeiro "tchã". Depois corre atrás pra se defender.