Fininho precisou se aposentar aos 29 anos de idade. Após sofrer com lesões, entrou em depressão. E, mesmo fora do futebol, o ex-lateral do Corinthians sofreu problemas cardíacos. Em entrevista em Atibaia, no interior de São Paulo, onde inicia a carreira como cartola, Vinícius Aparecido Pereira de Santana Campos pede desculpas à torcida do Timão pelo gesto obsceno que marcou sua carreira, quando tinha apenas 18 anos.
No bate-papo, o ex-jogador também revela curiosidades da época em que atuava no Corinthians. No intervalo de um jogo, sob comando de Oswaldo de Oliveira, o colombiano Freddy Rincón exigiu a substituição de Fininho. E naquele episódio o lateral-esquerdo agradeceu pela saída. Afinal, ou ele saía de campo ou apanhava de Rincón.
O fim da carreira aos 29: lesões e infartos
Ele não estava preparado para parar. Jogando bem no Metalist, da Ucrânia, o lateral-esquerdo Fininho afirma que ali vivia seu melhor momento na carreira. Revelado em 2003 no Corinthians, o jogador tentava dar ao time ucraniano o primeiro e inédito título nacional. Mas mal sabia que uma lesão no joelho, em 2013, o tiraria dos gramados precocemente.
– Eu já estava há quatro anos na Ucrânia. Para mim foi o melhor período da minha carreira, estava mais experiente e já estava bem adaptado. Estava no meu auge. Mas tive a infelicidade de machucar o joelho. Passei por uma cirurgia delicada e decidi voltar ao Brasil para seguir o tratamento. Mas quando eu voltei não era mais a mesma coisa, não foi em alto rendimento, estava sem contrato... aí entra a questão financeira, o psicológico mexeu. Deixei de fazer algo que fiz a vida inteira. Aquilo tinha sido tirado de mim. Às vezes ficava perguntando por que tudo estava acontecendo comigo. Fiquei muito mal – conta o ex-jogador.
Mas, para piorar, seis meses depois, em depressão pela aposentadoria, Fininho sofreu com problemas cardíacos. Para ele, um dos principais motivos para isso ter acontecido foi a decepção com o futebol.
– A primeira (parada cardíaca) foi após jogar bola com os amigos e senti uma dor forte no peito. Pensei que era no coração, mas queria não acreditar. Fui para a UTI e foi uma loucura. Fiquei cinco dias internado. Fiz exames e não deram em nada. O lado emocional, pelo fato de ter parado de jogar, influenciou muito. Sofri por muito tempo. Seis meses depois senti os mesmos sintomas e acabou ficando mais sério. Estava com 75% da veia entupida e até hoje não consigo acreditar. Foi tudo muito rápido. Em um ano e meio aconteceu tudo isso. Valorizo cada dia da minha vida agora e já estou muito melhor, graças a Deus – relembrou.
Cartola Fininho
Com o fim da carreira como jogador anunciada, Fininho não queria ficar longe do futebol. Decidiu então entrar para a vida de cartola. O Atibaia, clube da terceira divisão do Campeonato Paulista, o fez um convite. O clube, que tem 10 anos de história, procurava alguém para gerir o futebol. Agora, com 33 anos, virou gerente do Falcão.
– Cheguei a tentar faculdade de fisioterapia, mas vi que não era aquilo. Mas aí veio uma proposta do Alexandre, presidente do Atibaia, e ele queria alguém para trabalhar na administração do futebol e mostrou o projeto. As portas estão se abrindo. E tem muita gente que me liga pedindo oportunidade. Tento dar o caminho a seguir para os mais novos, pois já fiz muita besteira e sei como é – comentou.
Pedido de desculpas à torcida do Corinthians
A passagem pelo Corinthians foi a mais especial na carreira do jogador. Foi lá que ganhou, ainda na época do infantil, o apelido de Fininho. Esteve no time campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2004, que tinha no elenco outras revelações como Bobô, Jô e Rosinei.
Em jogo no Pacaembu, pela Copa do Brasil de 2005, contra o Sampaio Corrêa, o lateral-esquerdo ficou marcado por uma atitude polêmica. No segundo tempo da partida, Tite o substituiu para colocar Coelho. Fininho, à época com 18 anos, foi vaiado por parte da torcida e respondeu com um gesto obsceno para a arquibancada.
– O meu problema não foi com toda a torcida do Corinthians e sim com "meia-dúzia" que estava ali. Não foi muito bacana para minha imagem, ficou ruim. Pedi desculpas na época e volto a pedir, porque errei. Mas são dois pesos e duas medidas. Eu gostaria de ser lembrado pelas coisas boas, por títulos. Mas hoje, 10 anos depois, isso não me incomoda. Tinha 18 anos, assumo que errei. Hoje sempre passo para os mais jovens que é preciso agir de outra maneira. Mas eu consegui me reerguer, fui vendido por US$ 2,5 milhões e para mim isso foi uma vitória. Foi uma situação que serve de exemplo até hoje – declarou.
– Foi muito especial na minha vida jogar no Corinthians. Foi lá que tive toda a estrutura, ganhei Copa São Paulo, não tenho nem o que falar. Agradeço muito ao Andrés Sanchez, que foi quem mais me apoiou e sempre tive a felicidade de corresponder. Só tenho coisas boas para falar de lá – acrescentou.
Lembranças do Corinthians: a dura de Rincón
Após a trajetória pelo Corinthians, foi emprestado para Vitória, Juventude e Figueirense. Em 2006, foi vendido para o Lokomotiv Moscou, da Rússia. Em seguida, transferiu-se para o Metalista, da Ucrânia. No Brasil, seu último clube foi o Madureira, em 2014.
Nas resenhas do dia a dia, sobre os tempos de jogador, o assunto preferido de Fininho, claro, é o Corinthians. Ali ele recebeu carinho de Adriane Galisteu, à época namorada de Roger Flores, meia do Timão.
– Gostei muito de jogar com o Roger, ele me adotou ali. Parecia que eu era filho dele. Uma vez ele me levou pra casa. A Galisteu estava lá. Ela pedia para mexer no meu cabelo, que na época estava bem comprido. E aí ficava todo bagunçado. Tenho muitas lembranças daquela época – contou.
A resenha sobre futebol é sempre muito bacana. Você se lembra de grandes jogadores com quem já jogou, grandes clubes, enfim, eu me orgulho da minha carreira
Fininho, ex-jogador
Outra lembrança que arranca boas risadas de Fininho é um duelo contra Freddy Rincón, no vestiário. O colombiano pegava no pé do jovem lateral-esquerdo. E, após receber uma resposta atravessada de Fininho, Rincón exigiu a substituição do jogador para o técnico Oswaldo de Oliveira, que "obedeceu".
– Sempre tive personalidade forte, falava o que tinha que falar. Era um jogo no Maracanã contra o Fluminense, e o Rincón ficava falando o tempo todo em campo. Daí chegou no vestiário e critiquei: "Corre você, pô! Parece fiscal de trânsito". Eu vi que ele me olhou mal e pensei que fosse apanhar ali mesmo. Eu franzino, já corri para o banheiro para me esconder. Quando voltei, vi que não tinha mais ninguém lá. O time já tinha voltado pro campo e o Oswaldo tinha me tirado. O roupeiro depois me contou que o Rincón me sacou do time. Ali comemorei a substituição (risos) – relembrou.