Se hoje o atacante Rafael Moura, do Figueirense, é um atacante de renome no futebol nacional, autor de seis gols no Campeonato Brasileiro até agora, há exatos 10 anos ele era apenas um garoto recém-chegado ao então campeão brasileiro Corinthians, contratado para ser reserva de nomes "galácticos" como Carlitos Tevez e Nilmar.
Foi neste período que o mineiro de Belo Horizonte estourou e ficou conhecido em todo o Brasil pelos gols e também pelo apelido que ganhou da torcida, devido ao cabelo loiro e comprido: He-Man. De um dia para o outro, o ex-atleta de Vitória e Paysandu se viu famoso.
"Quando o Corinthians me comprou, mudou minha vida, tanto financeiramente quando profissionalmente. Meu começo foi difícil, porque eu era uma contratação irrisória perto das que tinham no elenco. Eu era só um garoto que chegou no time campeão brasileiro. Tinha tudo para dar errado, mas eu sempre tive muita vontade de jogar e personalidade", lembra Rafael Moura, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Era para eu ser só mais um para compor o elenco, mas no fim fui um dos que mais jogou e artilheiro da equipe em 2006, com 19 gols, porque o Nilmar machucou e o Tevez foi embora no meio do ano. A chance acabou caindo no meu colo e eu correspondi", celebra o atleta, hoje com 33 anos.
Deste período no Parque São Jorge, Rafael guarda ótimas lembranças, mas também alguns momentos amargos, como o dia da eliminação para o River Plate na Libertadores de 2006, em pleno Pacaembu, com direito a tentativa de invasão em massa da torcida no campo para cobrar os jogadores.
Uma década depois, o centroavante revela que alguns jogadores, ele incluso, tiveram que ir embora escondidos e durante a madrugada para escapar da fúria dos fanáticos.
"Depois da eliminação, eu e o Nilmar, que éramos vizinhos, saímos umas 5h da manhã do estádio, dentro de um camburão da polícia, escondidos dentro do porta-mala. Foi muito difícil", recorda o He-Man.
"Depois disso, ficamos 15 dias isolados em Curitiba. Nunca vi o Corinthians sair de São Paulo assim, com todo o estafe. Todos os nossos treinos eram lá, virou nossa base, ficamos praticamente morando no Paraná. Jogávamos uma partida e depois voltávamos para Curitiba", relata o matador, que ressalta a pressão de vestir a camisa do "Timão", ainda mais em crises.
"Teve uma vez em Jarinu que a torcida invadiu à 1h da manhã querendo tirar satisfação. Definitivamente, tem que ser muito macho e muito corajoso para jogar no Corinthians".
Os bastidores do Corinthians
No Corinthians de 2006, que era gerido em parceria com a empresa MSI (Media Sports Investment), havia vários nomes de peso, como os atacantes Nilmar e Amoroso, os meias Roger e Carlos Alberto e o lateral Gustavo Nery, além dos argentinos Tevez, Mascherano e Sebá Domínguez - todos contratados a peso de ouro pelo fundo.
egundo Rafael Moura, porém, o que menos havia naquela equipe "galáctica" era "estrelismo".
"Nosso elenco tinha nada menos do que 16 jogadores nas pré-listas de seleções para a Copa do Mundo, para você ver o tamanho e o peso que tinha nosso elenco. Você hoje não vê isso no futebol brasileiro!", conta.
"Aprendi demais com a humildade de caras como Tevez e Mascherano. Eles se tornaram astros mundiais, mas já mostravam desde moleques como treinavam e se dedicavam. Eram exemplos", acrescenta.
Durante este período, o He-Man fez boa amizade com Carlitos Tevez, que gostava de seu cabelo e até foi atrás de dicas para conseguir deixar as madeixas iguais às de Rafael
"O corte do Tevez era feio pra caramba (risos). Eu tinha cabelo grandão e ele curtia, porque era estilo argentino. Ele queria ficar igual, mas não conseguia fazer. Aí foi na minha casa um dia para conversar com o cara que cortava meu cabelo e saber como fazia. Depois, começou a usar cabelo grande, fez até alisamento (risos). Na passagem dele na Europa ele usou o cabelo sempre assim", diz.
Moura, aliás, conta um segredo sobre Tevez: o camisa 10 só falava "enrolado" na hora de conversar com os jornalistas, já que, com os corintianos, conversava normalmente.
"Sabe o mais engraçado do Carlitos? Para vocês da imprensa, ela falava aquela língua dele toda enrolada, mas com a gente ele conversava normalmente (risos). Todo mundo entendia tudo o que ele falava. É sério (risos)! Ele era tímido e caladão, mas, quando falava com a gente, se fazia entender muito bem, sem qualquer problema", relembra.
Ele não queria apelido de He-Man
Conhecido como He-Man desde que passou pelo Corinthians, devido à semelhança física com o herói do desenho animado, Rafael Moura diz que nunca quis ser chamado pela alcunha. No entanto, hoje agradece pelo apelido dado pela torcida corintiana.
"Eu gostava do desenho, mas no início lutei muito para ser conhecido como Rafael Moura. Todo mundo quer ver seu nome no jornal e na TV. Você trabalha muito para ser reconhecido, mas virei He-Man. Eu pensava: 'Pô, eu sou o Rafael Moura, não o He-Man (risos)'", conta.
"Só depois que eu vi que uma coisa não apagava a outra. Ao contrário! O apelido me deu até mais visibilidade, além do fato que as crianças adoravam", completa o matador, que se lembra até hoje de seu primeiro gol pelo "Timão", contra a Portuguesa Santista, em um jogo do Campeonato Paulista, no Pacaembu, em 2006.
"Não esqueço nunca meu primeiro gol. Subi no alambrado para comemorar com a torcida, foi uma loucura. A torcida do Corinthians é diferente, não tem jeito. Lá, eu fiquei conhecido por todo canto. Só tenho que agradecer à torcida, que me deu o apelido de He-Man", celebra.
Além do apelido, Rafael também ficou conhecido por comemorar seus gols fazendo o gesto tradicional do herói no desenho: sacava a espada, assim como o Príncipe Adam fazia quando queria transformar-se em He-Man para combater o vilão Esqueleto.
"Era curioso que todo mundo me pedia para comemorar assim, mas a primeira vez demorou uns três meses. Eu queria fazer caprichada! Tinha toda uma coreografia. Tive que ver o desenho várias vezes para imitar o gesto igualzinho (risos). Eu fui aprimorando ao longo dos anos e hoje sai bem legal (risos)", diverte-se.
Reencontro com o Corinthians neste sábado
Neste sábado, Rafael Moura irá reencontrar o Corinthians às 16h (horário de Brasília), quando seu Figueirense entra em campo para enfrentar o "Timão", na casa do rival.
Para surpreender a equipe paulista, o atacante conta com as artimanhas do técnico Argel, que reassumiu o clube recentemente, no lugar de Vinícius Eutrópio.
"O Vinícius é um cara muito bacana, mas, quando não se tem o resultado, é preciso trocar. O presidente disse que vai trocar tudo o que for possível para alcançar o objetivo desse ano, que é classificar para a Sul-Americana. O Argel tem perfil diferente, motivador, já conheço do Internacional. Ele cobra intensidade em todos os treinos e será muito importante para entrarmos ligados em todos os jogos", salienta.
"Tomara que as instruções dele funcionem. Temos um jogo dificílimo contra o Corinthians fora de casa agora, e precisamos somar pontos de qualquer maneira. De qualquer forma, será muito legal esse reencontro com a torcida corintiana", observa.
Artilheiro do Figueira no Brasileiro, Moura diz que está curtindo Florianópolis.
"O Figueirense sempre briga para não cair, mas nesse ano o presidente disse que vai ser diferente. A meta é chegar à Sul-Americana. Todos sempre elogiaram o clube, o CT, o estádio, e sempre foi uma equipe que criou dificuldades contra os outros times que joguei. Morar em Floripa é sensacional, minha família topou na hora. Estou gostando muito", celebra,
O He-Man ficará até o final do ano no Orlando Scarpelli, retornando depois ao Atlético-MG, clube que o revelou, ainda em 2003, e que possui seus direitos desde o início do ano, quando ele deixou o Inter.
"Vim emprestado para o Figueira para me recuperar bem da minha cirurgia no pé. Deu tudo tão certo que, antes de contratar o Fred, o 'Galo' tentou minha volta de qualquer jeito, mas havia uma cláusula da contratação do Clayton e eu não pude retornar. Eles contam comigo para o ano que vem, e a minha vontade é jogar lá", revela.
"Só adio um pouco a volta, tudo bem. Por enquanto, tem sido muito boa minha estadia aqui no Figueirense, e quero retribuir o carinho com muitos gols", finaliza.
Neste sábado, é bom a torcida do Corinthians ficar ligada, já que, pelo jeito, o He-Man passou a semana afiando bem a espada para exibi-la no estádio de Itaquera.
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