Chimarrão, timidez, Tite... Marquinhos Gabriel está em casa no Corinthians
Bebida típica do Sul, personalidade observadora e auxílio do técnico ajudam em adaptação do meia em um mês: "Foi tão rápido que me surpreendeu", admite
Marquinhos Gabriel tem bom início no Timão em 2016 (Foto: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians)
Acostumado a dribles, boas jogadas e belos gols desde que estreou pelo Corinthians, há um mês, Marquinhos Gabriel já está em casa. A fala mansa e o olhar tímido, porém, contrastam com o jogador que entra em campo e não tem medo de divididas. Ele é titular incontestável da equipe na partida deste sábado contra o Coritiba, às 20h30 (de Brasília), em Itaquera.
Aos 25 anos, mas com maturidade de quem rodou o Brasil e o mundo, Marquinhos nunca se adaptou com tanta rapidez a um clube como fez no Corinthians. A timidez que o atrapalhou no passado virou trunfo: na base da observação, sem falar muito, ele assimilou os pedidos de Tite e se tornou um dos jogadores mais perigosos da equipe assim que pisou no gramado.
– Eu sou muito observador. Nos treinos, eu não converso muito, mas gosto de observar todos os detalhes para aperfeiçoar meu trabalho. Gosto mais de ouvir, mesmo. Minha adaptação aqui está sendo muito rápida, tem me surpreendido nessa parte. Nas outras equipes demorei um pouco mais para me entrosar. Estou muito satisfeito – comemorou o meia.
Este é um lado que o corintiano ainda não conhece a respeito do novo candidato a ídolo. Gaúcho de Selbach, cidade no interior do Rio Grande do Sul, Marquinhos Gabriel não tem nada de marra. Gosta de ficar em casa, tomar um chimarrão, jogar videogame e curtir a presença da noiva, Diana – a quem chama de esposa por causa dos cinco anos de união.
Para diversão dos amigos, gosta também de deixar os cabelos cuidadosamente arrumados. E nem tente uma foto quando a cabeleira não está do jeito que ele quer...
– Apesar de meus amigos me incomodarem com isso, gosto de arrumar o cabelo, sim, demoro para caramba, às vezes até mais do que minha esposa. Eu passo um laquê, agora aprendi, dou uma mexida para ele ficar enrolado. Meus amigos que não me incomodem por isso (risos) – brincou.
Nesta entrevista ao GloboEsporte.com, você pode entender melhor os motivos da rápida adaptação do meia. Um deles é Tite, que o conhece de longa data. Foi o técnico quem lhe promoveu à equipe profissional do Internacional, em 2009. A estreia com gol e o papo do comandante eram o prenúncio de uma carreira de sucesso.
Com a bola por perto, Marquinhos Gabriel deixa a timidez de lado (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Confira abaixo a íntegra do papo:
Você vai completar um mês de Corinthians, mas o entrosamento dá a entender que esse time joga junto há mais tempo. Como conseguiu essa adaptação tão rápida?
Eu sou muito observador, tenho observado muito o que o professor pede, o que os jogadores gostam. Nos treinos eu não converso muito, mas gosto de observar todos os detalhes para aperfeiçoar meu trabalho. O entrosamento vem dentro de campo e também nas brincadeiras, apesar de eu ser um cara mais tranquilo e na minha. Gosto mais de ouvir, mesmo. Minha adaptação aqui está sendo muito rápida, tem me surpreendido nessa parte. Nas outras equipes demorei um pouco mais para me entrosar. Estou muito satisfeito.
Você se considera um cara mais reservado, mais tímido?
Eu sou, sim. Minha esposa e meus amigos até brincam comigo, que às vezes sou quieto até demais. Tenho melhorado muito nisso, estou me soltando. Tem o lado bom e o ruim. Tem situações do dia a dia em que é melhor ficar calado, mas em outras é melhor ter intimidade para falar. Gosto desse meu jeito, conquisto as pessoas assim, pelo meu caráter. Não costumo falar muitas coisas, mas acho que meu caráter tem ajudado muito.
Como está o entrosamento com Guilherme e Giovanni Augusto no meio-campo?
Tem sido muito bom. Estamos nos completando a cada movimento, quando um vem buscar a bola, o outro dá um pouquinho de profundidade. É o que o Tite nos pede. A cada jogo isso vai melhorar, a evolução é diária. A cada partida vai acontecer. Esperamos ser uma equipe muito forte dentro desse campeonato.
Qual o papel do Tite no seu início no Corinthians?
Dentro de campo, ele nos passa tudo o que possa auxiliar. Cada detalhe dos jogos ele nos passa, para que a gente possa buscar a excelência. Nos treinamentos, ele cobra muito para acertar o que estamos fazendo. O nível de concentração é muito alto.
Você o conhece desde a base do Internacional. Lembra como foi o primeiro contato?
A Copa São Paulo de 2009 acabou, ganhamos alguns dias de folga, e aí subimos depois de uma semana. Fizemos treinamentos normais, e aí o Tite conversava conosco, para buscar sempre o melhor. Nunca disse que eu iria jogar, dizia apenas para eu estar preparado. Quando ele me lançou, foi inesperado para mim. Pude aproveitar bem a oportunidade.
Você se lembra dessa estreia? Como foi a conversa com o Tite naquele momento?
Foi um jogo contra o Goiás, ele me colocou para jogar. Não lembro se deu tempo de ele armar a equipe antes ou não, mas lembro que na preleção fiquei muito nervoso, seria meu primeiro jogo como titular nos profissionais. Depois do aquecimento, entrei em campo e passou, as pernas ficaram leves, fiz um gol bonito, um dos mais bonitos da minha carreira. Depois, consegui fazer alguns jogos bons. Aquele jogo foi inesquecível para mim.
Depois do Inter, você passou por clubes como Bahia, Palmeiras, Santos...
Você sente que, aos 25 anos, já rodou demais? No Corinthians, é hora de se firmar? O que projeta para o futuro?
Tenho que saber o que quero. Quero chegar à Europa um dia, mas meu foco é todo aqui hoje. Quero fazer meu trabalho bem feito, buscar a excelência a cada dia. Tive uma crescente muito rápida no início da carreira, mas as lesões e a inexperiência fizeram com que eu caísse de produção em campo. Alguns problemas me deixaram um pouco infeliz, mas são coisas que acontecem e fazem parte do amadurecimento. Hoje me sinto muito bem, tenho minhas ambições de carreira, mas a cabeça é no Corinthians.
No fim do ano passado, depois de uma boa temporada pelo Santos, você teve de voltar à Arábia Saudita. Ficou chateado naquele momento? Você queria voltar?
Foi um momento bastante difícil. Eu tinha quase a certeza de que ficaria no Brasil, ou alguma equipe de fora. Minha expectativa era muito grande. Deus quis assim, minha passagem pela Arábia fez parte do amadurecimento. Não esperava voltar depois de quatro meses também. Se eu tivesse ficado no Brasil, com uma sequência, estaria muito melhor. Mas é um tempo que passou, estou onde queria estar. Tenho de aproveitar cada minuto e desfrutar.
Marquinhos Gabriel se apresenta ao Al-Nassr no fim de 2015: momento difícil (Foto: Divulgação/Al-Nassr)
Como foram esses últimos quatro meses na Arábia? Jogou? Só treinou?
Foram meses complicados. Eu não via a hora de voltar para o Brasil. Fiz poucos jogos lá, cheguei e tive de fazer pré-temporada, não estava no nível físico dos demais jogadores. Viajei para tentar minha liberação, mas o presidente não quis que eu saísse em dezembro porque a janela deles estava fechando e não daria para contratar alguém para o meu lugar. Tentei de tudo, mas eles não me liberaram. Fiquei treinando, fazendo minha parte, fui tentando me aperfeiçoar na parte física porque lá o pessoal não gosta muito de treinar. A parte física era o que me preocupava. Precisava estar em um bom nível para voltar. Aqui tive tempo para recuperar a forma, não era nem de peso, mais de força e ritmo de jogo. Lá só joguei oito partidas, no máximo. É muito pouco. Foi complicado, mas agora estou muito feliz.
Como foi o reencontro com o Santos, nesta quarta-feira?
Foi bom. O pessoal gosta de mim, eu gosto deles. Essa parte da amizade que conquistamos no futebol não dá para deixar passar. Conversei com todo mundo, essa amizade tem de manter para sempre.
Sua estreia teve casa cheia, gol, mas mesmo assim não foi do jeito que a torcida queria. Como foi estrear tão bem, mas em uma eliminação de Libertadores?
Foi estranho, tem um sentimento de impotência. É uma competição que eu gostaria de ter jogado mais, mas acabamos eliminados. Faz parte do amadurecimento como pessoa e jogador. Foi uma coisa difícil de assimilar, uma eliminação em competição desse tamanho, que traz proporções enormes. Precisava assimilar rapidamente para pensar no Campeonato Brasileiro, e conseguimos. Temos nossas ambições.
Em um mês, você já sentiu o tamanho da pressão de jogar no Corinthians?
Vim para o Corinthians preparado para todas as situações. Aqui a cobrança é muito grande. Uma eliminação no Campeonato Paulista, depois na Libertadores... Foi complicado. Todo mundo gosta de ganhar, mas tem algumas partes no futebol que não conseguimos controlar. Nosso amadurecimento já veio, assimilamos rapidamente, tanto que estamos fazendo belos jogos nessa sequência pelo Campeonato Brasileiro.
Como você tem visto sua função no esquema tático do Corinthians. Já se acostumou a voltar para marcar também?
No ano passado, eu fazia a mesma coisa no Santos, a parte defensiva é importantíssima, fechar os espaços, roubar bolas e explorar os contra-ataques. É uma função à qual me adaptei muito bem, espero crescer mais ainda.
Fora de campo, como está a adaptação a São Paulo?
Eu morava em um bairro diferente (na época de Palmeiras), agora estou pertinho do CT, é tranquilo para vir treinar. Tenho aproveitado bem os momentos em que estou em casa, com minha esposa. Faço minhas coisinhas, simples, mas que têm muito valor. Passo pouco tempo em casa, então tento aproveitar ao máximo com ela e meus amigos.
Quais são essas coisas simples?
Gosto de chimarrão. Antigamente não gostava muito, mas acabei acostumando. Gosto de jogar meu futebol no videogame, comer minha pipoca, e estar com minha companheira. Cada minuto aproveitado com ela é ótimo.
Já se escolheu no videogame?
Ah, gosto de jogar o Fifa... Infelizmente não tem o Corinthians lá, só no PES (Pro Evolution Soccer, game com o qual o clube tem acordo de licenciamento). Vou ver se encontro o jogo em algum lugar para ver se estou bonito (risos).
Você cultiva bem esse lado vaidoso? O cabelo é a principal preocupação?
Meus amigos vão pegar no meu pé, mas preciso falar... (risos) Eu gosto do meu cabelo! Apesar de meus amigos me incomodarem com isso, gosto de arrumar, demoro para caramba, às vezes até mais do que minha esposa. Eu passo um laquê, agora aprendi, dou uma mexida para ele ficar enrolado.
Antes de jogo também tem esse ritual?
Antes do jogo tenho de ter meu tempo, esses jogos às 11h estão me complicando um pouco. Ter de acordar às 7h30 para arrumar o cabelo é complicado, mas consigo me virar.
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