25/5/2016 07:53

Filipe Luís, o auge, o trauma de 2014 e a 2ª chance: "Não conseguia dormir"

Lateral, que vive melhor fase da carreira, diz ter sofrido muito com vice, exalta trabalho de Simeone e o futebol tático do Atlético, e cogita retorno ao Figueirense no futuro

Filipe Luís, o auge, o trauma de 2014 e a 2ª chance:
Filipe Luís é um dos pilares do Atlético de Madrid e é também titular com Dunga na Seleção (Foto: Ivan Raupp)

Ora insônia, ora pesadelo. Dois anos atrás, foram assim os dias de Filipe Luís logo após o Atlético de Madrid ficar com o vice-campeonato da Liga dos Campeões em uma final que vencia até o "minuto 93", quando Sergio Ramos empatou e levou a decisão para a prorrogação - o Real Madrid dominou nos 30 minutos extras e fechou o placar em 4 a 1. Era o décimo título de Champions dos merengues, enquanto os colchoneros continuavam "virgens". Depois de uma temporada no Chelsea, o lateral-esquerdo voltou ao "clube que ama" e, junto de Simeone e de alguns companheiros que estavam naquele jogo, terá uma segunda chance. O destino quis que fosse novamente contra o maior rival. Será neste sábado, no San Siro, em Milão.

- Passei vários dias pensando nessa final (de 2014), sem conseguir dormir. Sonhei várias vezes que o jogo foi anulado, que teria outro, que a prorrogação não valeu, tive vários sonhos desse (risos). Porque realmente você vê o troféu tão perto, brilhando na sua frente, e de repente tiram esse seu sonho. Mas isso é o bonito do futebol. Você acha que está com a mão na taça, e ela está longe, falta muito. Um minuto é um mundo - disse Filipe Luís, que por outro lado descartou caráter de revanche contra o Real Madrid.

O lateral-esquerdo de 30 anos, titular também da seleção brasileira e convocado para a Copa América, recebeu o GloboEsporte.com no centro de treinamento do Atlético para esta entrevista exclusiva. A grande temporada que vem fazendo faz Filipe acreditar que vive a melhor fase da carreira. Mas jamais esquecendo do espírito coletivo. Por isso, ele defende com unhas e dentes o estilo de "futebol mais tático" do time - chamado de feio por muitos após eliminarem Barcelona e Bayern de Munique na Champions -, além de enaltecer o "técnico muito completo" que é Diego Simeone e o "solidário" Griezmann. Sobre o futuro, cogita voltar ao futebol brasileiro, sobretudo ao Figueirense, que o formou, mas desde que ainda esteja atuando em alto nível. E sem fechar as portas para outros clubes, como o Corinthians, onde ele admite que gostaria de jogar.

A seguir, veja a entrevista completa com Filipe Luís:

GLOBOESPORTE.COM: Um estudo feito por uma universidade da Suíça te colocou como o melhor lateral do mundo. Como recebeu essa notícia?
FILIPE LUÍS:
Fiquei feliz. É um reconhecimento. Muito esforço, muito trabalho e muita dedicação. Ao mesmo tempo, sei que dependo completamente do time. Sozinho, não sou ninguém. Basicamente esse prêmio vem quando você joga pensando no coletivo. Tento roubar as bolas, defender bem e sempre ajudar meus companheiros nas coberturas. Tudo isso faz com que às vezes a gente tenha esse reconhecimento. Mas não é meu objetivo. Meu objetivo é tentar fazer com que o time seja campeão.

Você faz uma grande temporada. Aos 30 anos, vive a melhor fase da carreira?
Sem dúvida. Não só no profissional, no clube, estamos na final da Liga dos Campeões... Tenho também a oportunidade de estar sendo convocado para a Seleção. Dentro do campo me sinto seguro, me sinto bem, conheço bem os adversários, a melhor maneira de marcá-los, a hora certa de atacar. Tudo isso faz com que seja mais fácil. O Ronaldo (Fenômeno) até falou comigo muitos anos atrás, acho que nem vai se lembrar, que ele se sentia em melhor fase aos 30, 32, porque conhecia os atalhos do campo. Eu não acreditava nisso. Hoje, com 30 anos, não só conheço os atalhos, mas fisicamente me sinto no melhor momento.Dá para dizer que Filipe Luís anulou Messi nas quartas de final da Champions?

Não, acho que o Atlético conseguiu anular. Mesmo assim, ele é um jogador que depende muito mais do estado de ânimo e forma em que ele próprio se encontra no momento do que dos adversários conseguirem anulá-lo. Obviamente nosso time fez um grande trabalho, tentamos não deixar ele receber bola de frente, sempre pegá-lo de costas, e fazer muitas faltas porque o Barcelona não tinha boa bola parada. E conseguimos eliminar o sem dúvida nenhuma melhor time do mundo. É muito bom, mas sei também que é complicado. Temos o pé no chão, sabemos que eles eram melhores do que nós. Mas, com esse esforço coletivo, a gente conseguiu fazer um jogo épico.

Pelo futebol que você vem jogando há algum tempo, acha que deveria ser mais valorizado no Brasil?
Não. Quando as pessoas falam no Brasil... É normal, é o trabalho dos jornalistas analisar, criticar se tiver que criticar e falar bem se tiver que falar bem. Entendo isso com a maior normalidade do mundo, porque vim do Figueirense e sei como é o futebol brasileiro, como é diferente jogar no Brasil e jogar na Europa. Tanto que é difícil jogar em um clube e depois na Seleção. Aqui no clube conheço os mínimos detalhes dos meus companheiros, onde eles vão se colocar no campo, quando tenho que defender, a hora que tenho de atacar. Na Seleção são todos companheiros diferentes, não tem muito tempo para treinar. Essa adaptação que dura dois, três dias não dá tempo. Muitas vezes a gente é criticado, às vezes com razão, às vezes não. Mas, se eu não estivesse na Seleção, não estaria sendo criticado. Por isso aceito essas críticas com alegria. A única coisa que quero é tentar jogar o melhor possível para tentar transformar em elogios no futuro.


Filipe Luís em ação na semifinal da Champions contra o Bayern de Munique (Foto: Getty Images)

Você é um jogador que sabe sair para o jogo, mas se caracteriza mais pela marcação, no estilo Simeone. Esse é o estilo Filipe Luís?
Não. O povo brasileiro acha que eu sou um lateral totalmente defensivo. O Simeone me trouxe de volta porque queria realmente um lateral que atacasse. Que soubesse defender bem, mas que fosse um ponta na hora de atacar, que ficasse aberto na lateral para conduzir bem a bola, sair no contra-ataque e driblar no um contra um. Tem jogos em que não passo do meio-campo, é verdade. Contra o Barcelona, quase não ataquei, porque a função é mais defensiva. Mas tem jogos em que quase não passo para defender. O volante fica no meu lugar, e eu fico mais aberto. Tudo depende do jogo. Dependendo do adversário, ele fala se vou atacar mais por dentro, mais por fora... A função do lateral aqui na Espanha, e principalmente com o Simeone, é defender perfeitamente e tentar atacar o melhor possível.

É consenso hoje que a defesa do Atlético de Madrid é a melhor do mundo. Como recebem essas críticas de que o jogo de vocês é feio?
Obviamente é muito mais bonito você olhar times que jogam com a bola e que tenham iniciativa do jogo, como Barcelona e Bayern. Eu gosto de ver esses dois jogarem, todo mundo gosta. Mas, pensando pelo outro lado, quando vai jogar contra o Barcelona, já tem que gastar dois jogadores com o Neymar e dois com o Messi. A partir daí, com a bola você já não vai ter iniciativa, porque vai ser o adversário. Você vai ter que jogar no contra-ataque. É feio jogar no contra-ataque? Não, é uma maneira de ganhar o jogo. Quem entende e gosta de futebol também gosta de ver o Atlético de Madrid jogar, de ver o time jogando com intensidade, todo mundo correndo e sendo solidário. Tem muitas maneiras de ver o futebol. Tem gente que gosta de ver times criando chances de gol com facilidade, e tem gente que gosta de ver defesa, um futebol mais tático que nem o nosso. Mas o objetivo é o mesmo: ganhar o jogo.

O que o título da Champions representaria para vocês?
Seria o maior sonho da nossa carreira. Conquistar um título da Champions é difícil. Muitos jogadores do mundo que são ídolos nunca ganharam. O Ibrahimovic, por exemplo. Ganhar a Champions é um sonho, e ganhar com o Atlético é mais ainda. Querendo ou não, se você joga 10 anos em times como Barcelona, Real Madrid, Manchester United, vai estar ali perto, vai chegar em semifinais, vai sempre ter essa chance. Mas o Atlético é um time que vem de anos de muito sofrimento. Agora mudou, nós estamos conseguindo disputar com esses gigantes do futebol europeu. Isso é o que me deixa com mais orgulho de estar representando esse clube.

Em 2014 vocês eram campeões da Champions até os 48 minutos do segundo tempo. Como foi a perda daquele título para o Real Madrid?
Complicado. Passei vários dias pensando nessa final, sem conseguir dormir. Sonhei várias vezes que o jogo foi anulado, que teria outro, que a prorrogação não valeu, tive vários sonhos desse (risos). Porque realmente você vê o troféu tão perto, brilhando na sua frente, e de repente tiram esse seu sonho. Mas isso é o bonito do futebol. Você acha que está com a mão na taça, e ela está longe, falta muito. Um minuto é um mundo. Tem gente que aproveita um minuto e faz história. Que isso sirva de lição para nós nessa final. Temos que tentar cuidar do jogo até o último segundo, principalmente sabendo que o Real Madrid é o clube com mais Ligas dos Campeões no mundo, são 10 títulos.


Lateral-esquerdo comemora gol que marcou pela seleção brasileira (Foto: André Mourão / MoWA Press)

Pelo fato de a final ser novamente contra o Real Madrid, dá para encarar como revanche?
Não considero revanche, porque a maioria dos jogadores que estavam naquela final não está hoje. Considero uma nova oportunidade que a vida está dando pra gente, uma nova chance de poder ganhar esse troféu. É contra o Real Madrid, mas poderia ser contra outro. Podemos escrever o nome na história do futebol, e essa é a filosofia com que entramos em campo nesta final.

Quais são os grandes trunfos do Simeone? O que você vê de diferente no trabalho dele?
Ele é um técnico que vive muito o dia a dia. Trabalha pensando sempre no próximo jogo, nunca duas, três semanas na frente. Estuda muito bem os adversários, os mínimos detalhes dos pontos fracos dos rivais. Então, você entra no campo sabendo perfeitamente o que vai fazer. Eu sei quando tenho que atacar, quando tenho que defender, em que momento tenho que partir para cima, de que tipo de jogador posso ir para cima - porque tem jogadores que defendem melhor, outros não. Ele tenta usar esses pontos fracos do adversário, por isso acho que ele é um técnico muito completo hoje em dia e me sinto muito orgulhoso em poder trabalhar com ele.

Você trabalhou com o José Mourinho no Chelsea. Dá para comparar o estilo dos dois?
São completamente diferentes. Este já é meu quarto, quinto ano com o Simeone, e a gente tem muita afinidade, se conhece há muito tempo, já é uma relação de amizade de verdade. Ele jogou futebol e sabe como é. Com o Mourinho eu trabalhei só um ano. Passei dificuldades na minha adaptação ao Chelsea. A única comparação é que, talvez acima de tudo, eles têm essa ambição absurda por ganhar. Se não ganham, não estão felizes, não falam, não cumprimentam, não dão bom dia, fecham a cara. Você vê realmente essa ambição que eles têm por ganhar todos os jogos. O Simeone quer ganhar todos os jogos da pré-temporada, que não valem nada, mas ele quer ganhar todos. Ele transmite essa paixão pra gente.

Por que você não conseguiu engrenar no Chelsea?
Não penso assim. Quando começou a temporada, já comecei no banco. Não estava me encontrando muito bem. É diferente, o jogo é mais ida e volta, você não se sente tão protegido na defesa. Tem muita bola aérea, que não é um dos meus pontos fortes. E tudo isso fazia com que eu mesmo duvidasse do meu potencial. Depois, quando comecei a jogar, comecei a me encontrar melhor, fiz grandes jogos. Joguei 30 jogos no total e ajudei o time a conquistar dois títulos. Também me sinto parte desse Chelsea campeão. Mas não me sentia como me sinto hoje. Aqui no Atlético eu posso levar a iniciativa do time na hora de atacar, posso sair jogando, tenho toda a confiança do mundo com o técnico. Essa confiança que sinto aqui foi o principal motivo também que me fez querer voltar. A partir do momento em que quis voltar, deixei de ter minha cabeça no Chelsea. Passei a pensar que queria voltar e consegui voltar para o clube que amo.

O que você tem a dizer sobre o Zidane? O que lembra dele dos tempos em que era jogador?
É um fenômeno, craque. Quando eu estava no time B do Real Madrid, tive a oportunidade de treinar com ele e vê-lo mais de perto. Era um grande jogador, um dos melhores de todos os tempos. Mas, como técnico, isso não vale para nada. Claro que é importante você escutar um cara que ganhou tantas coisas, mas a parte tática é muito mais importante do que qualquer título individual que ele teve antes como jogador. Acho que ele fez uma mudança importante no Real Madrid desde que chegou como técnico, o time melhorou muito. Ele já provou também que é bom na parte tática e tem muito mérito em levar o Real Madrid à final depois do começo de temporada irregular do time.

O Griezmann, seu companheiro no Atlético, vive grande momento e é também o principal nome da França na Eurocopa que está por vir. Você tem falado com ele sobre essa fase? Qual é a sua expectativa em cima dele?
Ele é a principal referência da França e também do Atlético de Madrid hoje. O principal motivo para esse sucesso é que ele é solidário. Chega na frente do gol, sempre olha para ver se tem algum companheiro, pensa no time, se sacrifica, entra na área para defender. Isso faz com que ele seja hoje a referência da França. Ele, claro, quer ganhar essa Euro, essa Champions, e está se sentindo com confiança, pelo que a gente fala. Eu digo que eles (França) não vão ganhar, que está mais para a Espanha, mas ele está confiante.


Filipe na final da Champions em 2014 contra Bale, do Real: dia para esquecer (Foto: Agência AFP)

Você pretende voltar ao futebol brasileiro um dia?
Me fiz essa pergunta muitas vezes (risos). Já houve muitas vezes em que quis voltar, outras não. É difícil. Meu contrato com o Atlético de Madrid vai acabar quando eu tiver quase 35 anos. E eu não quero ir para o Brasil só por ir. Voltar por exemplo para o Figueirense, que é o clube onde comecei, e manchar toda a imagem por estar mal fisicamente, por não estar no mesmo nível, não é meu objetivo. Se eu voltar para o Brasil, tem que ser com grande nível físico, técnico, tem que estar em um grande momento para poder não só participar de um clube, como o Corinthians, que eu gostaria (de jogar), um clube grande desse nível como São Paulo ou Flamengo, mas também fazer uma história. Jogar por jogar não faz parte do meu objetivo.

E o seu desejo seria o Figueirense? É seu time de coração?
Sim. Se fosse para poder retribuir, eu gostaria de retribuir para o Figueirense. Foi o clube que pegou em casa com 14 anos, me deu comida, escola, me deu essa oportunidade. Nunca passei dificuldade no Figueirense, me deram todo o apoio possível nas categorias de base. Claro que um dia eu gostaria de retornar. Mas nunca fecho as portas para ninguém, porque a gente não sabe o que vai acontecer no futuro.


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