24/4/2016 07:43
Análise: Audax joga de igual para igual com Corinthians e avança nos pênaltis
Timão, que tinha 12 vitórias em 12 jogos na Arena, é surpreendido pela equipe de Osasco, que não deixou de atacar quando muitos optariam por se segurar na defesa
Num jogo decisivo, com estádio lotado pela torcida adversária, qualquer time pequeno do mundo que saísse em vantagem no placar logo trataria de se fechar na defesa. É a graça do mata-mata: o azarão que acha um gol e se segura para eliminar o grandão. Mas esse Audax de Fernando Diniz parece gostar de contrariar a lógica do futebol. Como? Jogando futebol. Simples assim.
Por duas vezes o time de Osasco ficou à frente no placar do poderoso Corinthians, numa arena com mais de 41 mil pessoas. Não recuou em nenhum momento, não mudou seu estilo de jogo. Sofreu o empate e continuou tentando ir pra cima (nem sempre conseguiu). Teve chance para marcar o terceiro, perdeu e não se abalou. Pelo contrário. Manteve os nervos no lugar e ganhou a classificação nos pênaltis: 4 a 1, após os 2 a 2 no tempo normal. Vai disputar a final do Paulistão contra o vencedor de Santos e Palmeiras, que se enfrentam neste domingo, às 16h, na Vila Belmiro. Um feito histórico para um clube fundado há apenas 12 anos.
COMO FICA O CORINTHIANS?
É impossível não lembrar o que aconteceu no ano passado com o Corinthians. A equipe vencia e convencia, sobrando em campo. Fez a melhor campanha do Paulistão e passeava na Libertadores. Mas foi eliminado nas semifinais do torneio estadual pelo Palmeiras – também nos pênaltis e após um empate em 2 a 2 – às vésperas das oitavas de final da competição continental, quando acabou sendo eliminado pelo modesto Guaraní, do Paraguai. Agora, terá o Nacional de Montevidéu pela frente, com o primeiro jogo já nesta quarta-feira, no Uruguai. Tite já sabe que terá de conversar muito com seus jogadores para que eles não se deixem abater.
O fato é que, este ano, o Corinthians teve dificuldades contra times que o enfrentaram de igual para igual – derrotas para Santos na Vila Belmiro, Palmeiras no Pacaembu e agora o empate com o Audax em Itaquera (sem contar o revés diante do Cerro Porteño no Paraguai, quando teve dois jogadores expulsos e, mesmo assim, quase empatou o jogo no fim).
Nos outros 12 jogos como mandante no ano, o Corinthians teve desempenho impecável: 12 vitórias, com apenas dois gols sofridos (2 a 1 contra Ponte Preta e Capivariano). Todos esses 12 adversários, porém, foram "jogar por uma bola" em Itaquera, fechados na defesa. Até as vitórias apertadas (como aquela sobre o Ituano, com gol no fim) foram "apenas" um exercício de paciência. Estava claro quem era o pequeno e quem era o grande.
Mas, quando enfrentou um time organizado, o Corinthians encontrou dificuldade. Já perdeu para Santos e Palmeiras e suas principais chances diante do Audax foram obtidas em erros da própria equipe de Osasco. Fica a certeza, portanto, de que é impossível atribuir ao Timão o favoritismo na Libertadores – por melhor que seja o trabalho de Tite.
Falta ao grupo corintiano a qualidade técnica para decidir um jogo num lance individual. O esquema tático continua sendo muito eficiente, mas o time já não tem um Renato Augusto ou um Jadson. Quando o jogo aperta, quem é que vai decidir? Romero? Rodriguinho? Guilherme? Alan Mineiro?
COMO FOI O JOGO?
Desde o pontapé inicial (do Audax), o Corinthians deixou claro que marcaria por pressão, para tentar anular o toque de bola do time de Osasco. Com apenas cinco segundos de jogo a bola já havia sido recuada para o goleiro Sidão. Aos 7 minutos, ele fez sua primeira grande lambança: ao tentar aplicar um drible sobre André, perdeu a bola. O atacante rolou para Alan Mineiro, que demorou para concluir e permitiu o corte do zagueiro Yuri.
Foram 15 minutos de uma pressão alucinante. O Audax não conseguia passar do meio-campo. Mas sobreviveu ao abafa. Aos poucos, começou a encaixar seu toque de bola. E, aos 25, Bruno Paulo acertou um chute improvável - de muito longe e na gaveta de Cássio. Silêncio em Itaquera. Mas não por muito tempo. O Corinthians continuou empilhando chances de gol, e desperdiçando uma atrás da outra. Futebol tem dessas coisas: o Audax deu um único chute a gol no primeiro tempo e foi para o intervalo vencendo por 1 a 0.
– O time deles toca bem a bola, mas a gente tem de saber que uma hora eles vão errar, eles abusam bastante – disse o zagueiro Felipe, na saída para o intervalo.
Felipe tinha razão, e o empate veio aos 7, em mais um erro na saída do Audax. Bruno Henrique roubou a bola e cruzou para André empatar (veja abaixo). A essa altura, o Timão era todo ataque, principalmente após as entradas de Romero e Rodriguinho nos lugares de Alan Mineiro e Guilherme.
Depois do empate, o ritmo caiu um pouco. O Corinthians tinha o domínio do jogo, e o Audax encontrava dificuldade para tocar ou sair no contra-ataque. Mas, de novo, o time de Osasco conseguiu encaixar um chute de fora da área, agora com Tchê Tchê - outro golaço!
Com 2 a 1 no placar e faltando menos de 20 minutos, o Audax conseguiu a façanha de dar espaço para o contra-ataque do Corinthians – sim, jogar sempre pra frente, muitas vezes, não é a coisa mais inteligente a se fazer. Romero teve uma avenida para avançar pela direita e cruzou para mais um gol de André, já aos 33 do segundo tempo.
"Ah, agora o Audax sente o golpe e o Corinthians vira". Qual nada! Quatro minutos depois, o time de Osasco teve uma chance de ouro: Camacho recebeu de Ytalo na área, driblou Cássio e tocou para o gol. Felipe salvou em cima da linha. Importante notar: havia SETE jogadores do Audax no ataque. Ninguém queria segurar o empate.
O lance mais emblemático da "audácia do Audax", porém, foi o drible inexplicável de Bruno Paulo, 26 anos, em Elias, um jogador de seleção brasileira. Na ponta esquerda, o jogador do Osasco aplicou um surpreendente chapéu no veterano, que ficou de boca aberta, e ainda acertou um cruzamento cheio de estilo.
Parecia videogame, com os dois times querendo atacar a todo custo. Tite tirou o zagueiro Yago e colocou o atacante Luciano. Fernando Diniz não mandou ninguém recuar. Era Rocky Balboa contra Apollo Doutrinador – os dois se batendo até caírem juntos, exaustos, num empate memorável. Mas ainda tinha a disputa por pênaltis para desempatar. E o Audax foi melhor. Velicka, Tchê Tchê, Ytalo e Camacho fizeram para o time de Osasco. Só André marcou pelo Corinthians. Fagner mandou na trave, e Sidão pegou o chute de Rodriguinho. Vitória do azarão.
O QUE É ESSE AUDAX?
São 11 jogadores tentando tocar a bola e fazer com que os 11 adversários corram atrás dela. Irresponsáveis em alguns momentos? Sim. Loucos? Com certeza. Isso daria certo num time grande, com pressão de torcida, diretoria e imprensa? Pouco provável, já que, na primeira derrota com uma pixotada do goleiro, a gritaria seria enorme.
Mas é de se tirar o chapéu para Fernando Diniz. Levar o Audax à final do Paulistão sem atuar como time pequeno (como fez o Ituano de Doriva, em 2014) é um feito e tanto para quem já foi motivo de piada num passado recente. O futebol agradece.
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