O Palmeiras fez mais para vencer do que o Corinthians. Taticamente, tecnicamente e no quesito que tem, e sempre terá, peso enorme, principalmente em clássicos: a disposição. O Timão atuou como se fosse qualquer jogo, blasé, e certamente surpreendido pela postura agressiva do Verdão, refletida em várias ações: as linhas adiantadas na saída de bola rival, o bloqueio ao avanço dos laterais Fagner e Uendel, os inúmeros botes de Vitor Hugo, que se antecipou a meio mundo para cortar pela raiz a criação corintiana, o olhar de Prass a Lucca no pênalti perdido...
É raro ver o Corinthians encurralado, sem saber o que fazer em campo. O Palmeiras conseguiu isso em todo o primeiro tempo. O atual campeão brasileiro apelou para um jogo feio, de loteria, tentando fazer a bola ultrapassar as linhas do atual campeão da Copa do Brasil com lançamentos longos. Não deu certo.
E que ironia... A maior crítica ao Palmeiras nos últimos meses diz respeito ao excesso de chutões, sem saída de bola pelo chão. Foi justamente o que o time obrigou o Corinthians a fazer.
Zé Roberto, pela esquerda, e Robinho, do lado direito, bem abertos, bloquearam os avanços de Fagner e Uendel, respectivamente, com eficiência. Arouca se adiantou à essa linha de marcação e deixou Gabriel como único volante. Os dois atacantes, Gabriel Jesus e Alecsandro, preencheram os espaços onde Bruno Henrique, Elias e Guilherme deveriam recuar para receber dos zagueiros. Tudo bem planejado e executado. Mérito de Cuca, que regeu os movimentos.
Zé Roberto em Fagner, Robinho em Uendel: o Palmeiras anulou o Corinthians pela marcação de seus laterais
Alecsandro merece um parágrafo à parte. Ele é centroavante, mas não atuou como tal. O posicionamento interessante o levou para os lados e a área de criação para que a bola rodasse mais no campo de ataque. Foi o elo de ligação entre os setores e, importante, deixou os dois zagueiros do Corinthians, Yago e Felipe, sem função. Eles não saíam da área para acompanhar Alecsandro, e o Palmeiras acabou tendo um jogador a mais onde os lances eram criados.
Talvez por isso ninguém tenha notado sua entrada na área, no segundo tempo, em cruzamento de Gabriel Jesus e lance que terminou numa grande defesa de Cássio.
Não faltou aplicação ao Corinthians, mas faltou algo diferente, especial. André tentou se movimentar, Giovanni Augusto e Lucca acompanharam os laterais alviverdes, mas não houve nenhum brilho individual. Esses dois inverteram o posicionamento no início do segundo tempo, mas logo o paraguaio Romero entrou e Giovanni foi deslocado para o meio. Sempre no 4-1-4-1, as variáveis individuais não funcionaram.
"Ah, mas o Corinthians poderia ter vencido...". Sim, poderia. A superioridade do Palmeiras só se concretizou graças aos dois goleiros. Num intervalo de 72 segundos, Fernando Prass pegou mais um pênalti e Cássio falhou na saída de bola, permitindo que a cabeçada de Dudu, em posição duvidosa, numa linha muito tênue entre a legalidade e o impedimento, terminasse no gol vazio.
O Corinthians, pela solidez demonstrada desde o ano passado, continua sendo o time a ser vencido na hora da decisão. Mas o Palmeiras, pela primeira vez ano, deixou a impressão de que pode almejar o título paulista, não só pela tradição de sua camisa, mas pelo futebol praticado.