2/3/2016 07:50

Da noitada ao pitaco da avó, Giovanni Augusto evolui e quer gol na Arena

Novo camisa 17 do Corinthians foi autor do primeiro gol do estádio de Itaquera em 2014 e agora deseja fazer a favor. Ao L!, lembra histórias e conta como quase parou no Palmeiras

Da noitada ao pitaco da avó, Giovanni Augusto evolui e quer gol na Arena
Giovanni Augusto, em sessão de fotos para o LANCE!As fotos são de Alan Morici

Paolo Guerrero era o nome favorito da torcida para marcar o primeiro gol da Arena Corinthians, lá em maio de 2014. Porém, coube ao meia Giovanni Augusto, do Figueirense, a responsabilidade de entrar para a história naquela ocasião. Ali, o herói às avessas mudou o rumo de sua trajetória repleta de reviravoltas. A maior de todas essas viradas o levará justamente à Itaquera, nesta quarta-feira, às 21h45, pela estreia do Timão em casa na Copa Libertadores. Aos 26 anos, ele pode se tornar o primeiro jogador a marcar gols por times diferentes na Arena, e admite estar ansioso por esta conquista inédita.

– Foi o gol mais especial da minha vida, o gol que me projetou para o futebol, todo mundo passou a me conhecer por meio desse gol. Lembro de todos os detalhes e até hoje dou uma olhadinha no Youtube. Esse gol mudou completamente a minha história. Agora preciso trabalhar, me condicionar fisicamente, porque na hora certa a bola vai entrar e vai ser uma alegria contagiante – diz o meia que tirou a posição de Romero em apenas seis jogos e nesta noite é uma das esperanças de Tite contra o Santa Fe.

Formado pelo Atlético-MG, Giovanni foi emprestado a cinco clubes diferentes entre 2010 e 2014, quando finalmente se firmou com a camisa do Figueirense. A razão para não ter dado muito certo em lugar nenhum ele tem na ponta da língua: sua prioridade eram as baladas.

Nesta entrevista sincera ao LANCE!, o atual camisa 17 do Corinthians relembra algumas das reviravoltas de sua vida, como por exemplo o momento em que ele processou o Atlético-MG para jogar... no Palmeiras!

Além disso, ele explica algumas das 14 tatuagens que carrega no corpo e uma promessa inusitada feita para a avó, comenta de sua busca por espaço, da admiração por Levir Culpi e das razões pelas quais fala abertamente sobre o passado turbulento. Em campo e fora, Giovanni Augusto é daqueles raros. E quando o assunto é Arena Corinthians... digamos que ele já provou que sabe muito disso.


Giovanni Augusto tem 6 jogos no clube (Foto: Alan Morici/Lancepress!)

BATE-BOLA com GIOVANNI AUGUSTO
MEIA DO CORINTHIANS, ao LANCE!

Você já está na história do Corinthians. Já entendeu o que precisa fazer para entrar por um lado mais positivo agora?

Primeiro é agradecer ao clube e a todos que se esforçaram para me trazer para cá, com certeza é um sonho realizado. Agora estou a favor, né? Mas sempre que estive contra observei o que precisa fazer para conquistar o carinho da torcida, todo mundo sabe que o Corinthians é caracterizado como o time da raça, e eu sei da responsabilidade que é vestir essa camisa. Vou procurar fazer o meu melhor para tentar ganhar títulos e assim as coisas acontecem, assim que se entra para a história do clube.

Tem ideia de quantas vezes já assistiu aquele seu gol na Arena pelo Figueirense?
Vi bastante vezes, cara. Não tenha dúvida. Foi o gol mais especial da minha vida, o gol que me projetou para o futebol, todo mundo passou a me conhecer por meio desse gol. Lembro de todos os detalhes e até hoje dou uma olhadinha no Youtube. Esse gol mudou completamente a minha história, o reconhecimento que eu tive foi absurdo.

Você pode ser o primeiro a fazer gols na Arena por dois clubes diferentes. Está ansioso para marcar?
Na verdade você fica pensando, e eu não sou diferente, mas cada coisa tem o seu tempo. Preciso trabalhar, me condicionar fisicamente, porque na hora certa a bola vai entrar e vai ser uma alegria contagiante.

Já conseguiu sentir a reação da torcida do Corinthians com você?
Nesse último jogo contra o Oeste, contra o São Paulo também, eu tive o reconhecimento dos torcedores no final, fiquei muito feliz de ter esse carinho.

Como tem sido sua busca por espaço neste momento?
Fiquei muito feliz de vir jogar no Corinthians, é o sonho de qualquer jogador do mundo. Quando apareceu o convite não pensei duas vezes e trabalhei para que pudesse se concretizar o mais rápido possível. Quando cheguei aqui fui muito bem recebido, todos me trataram muito bem, parecia que eu já estava desde o ano passado. Me sinto feliz, me sinto em casa, e agora só depende de mim no dia a dia fazer o melhor, fazer o que o Tite pede. Exclusivamente, só depende de mim, e eu estou me entregando ao máximo para conquistar meu espaço.

De que maneira avalia o trabalho com o Tite? Ele é realmente acima da média, como dizem alguns jogadores?
Eu já era fã dele antes de conhecer e agora sou mais ainda, pela forma de trabalhar, pela humildade, pela forma com que conversa com os jogadores e deixa à vontade nos treinamentos. Ele se dedica muito ao clube, procura buscar conhecimento, estuda muito, e isso acaba facilitando para a gente. Tudo o que o Corinthians conquistou ele tem uma participação grande, e fico feliz de trabalhar com ele porque vou crescer muito.

Já que falamos de Tite, o Levir Culpi também teve importância para você em 2015...
Com certeza. Sou muito grato a ele. Ano passado teve situação no Atlético-MG envolvendo Justiça, e eu fiquei três ou quatro meses treinando separado, esperando oportunidade de jogar. Eu lembro que mesmo assim ele sempre conversou comigo, deu conselhos, foi um dos principais motivos para eu ficar no Atlético. Na gíria do futebol, ele segurou minha onda, e vou estar sempre na torcida.


Giovanni entre companheiros (Foto: Mauro Horita/AGIF/Lancepress!)

Queria que você falasse mais desses problemas judiciais. Soube de uma história e queria que você confirmasse: é verdade que quase parou num rival?
É verdade. Eu tive negociação com o Palmeiras, mas não se concretizou, e com isso eu acabei acertando com o Atlético. Mas foi um ano bom, espetacular, por pouco não conseguimos ser campeões, só não fomos porque o Corinthians não deu brecha. Fico feliz de hoje estar vestindo essa camisa, mas por pouco não joguei no Palmeiras. Mas creio que Deus sabe tudo aquilo que faz, não era para acontecer. E hoje eu me sinto o homem mais feliz do mundo de vestir essa camisa.

Entre 2011 e 2014 você foi emprestado seis vezes. Chegou a desanimar do futebol em algum momento?
Desanimar não, porque passei por tudo isso por minha culpa. Naquelas ocasiões o futebol não era prioridade da minha vida. A noite era a prioridade. Eu gostava de ir para a balada, gostava de sair com várias mulheres, gostava de beber, fazer tudo o que um jogador não faz. Então a gente colhe o que planta. Naqueles anos em que fui emprestado só queria saber da noite e isso me prejudicou. Quando minha esposa apareceu na minha vida, em 2012, eu já dei uma segurada na noite, mas mesmo assim já tinha fala de baladeiro. Em 2012, mesmo indo bem no Criciúma, conseguimos o acesso, e fiquei na expectativa de ir bem no Atlético, mas não deu e fui repassado para o Náutico.

E os problemas continuaram?
No Náutico a gente foi eliminado na semifinal do Campeonato Pernambucano e a diretoria achou que devesse afastar alguns jogadores, inclusive eu. Estive três meses afastado esperando alguma coisa. Queriam que eu abrisse mão de salário pra ser liberado, porque não liberavam de graça. Aí um dia, voltando de um treino, estava passando um jogo na TV e eu vi vários companheiros meus jogando. Ali minha esposa estava grávida já, e eu parei para conversar com minha esposa, querendo saber o que eu estava fazendo da minha carreira. Um dia eu já estive jogando, feliz. Podia ser eu. Conversamos bastante e ela disse que só dependia de mim. Ali eu decidi que não ia mais prejudicar minha vida e minha família. Tenho muita gente que depende de mim em Belém e naquele momento estava jogando a minha carreira no lixo. A partir daquele dia a gente se firmou, fez um compromisso de um ajudar o outro e dali para frente as coisas começaram a acontecer na minha vida. Tudo isso que aconteceu tinha que acontecer para eu ver as duas realidades da vida e acordar. Fico feliz por ter acordado a tempo, e agradeço à minha esposa Isabel e meu filho Vitório.

Por que você decidiu falar abertamente sobre coisas que nem todos os jogadores falam, como bebida, mulheres...?
Acho que eu posso ser exemplo. Hoje em dia o futebol está muito difícil, então quando tenho oportunidade eu gosto de falar. Saí lá de Benevides, cidade a uma hora de Belém, e as crianças que estão começando agora precisam ouvir esse recado, pra continuar com foco e não se perder no caminho. Futebol requer que você tire do seu espaço algumas coisas do mundo, e eu espero que essas pessoas que estão lendo não errem como eu errei.

Você acha que conseguiu se afastar das más influências?
Hoje eu priorizo 100% minha família. Trato todo mundo com respeito e carinho, mas hoje eu tenho só pessoas boas na minha vida, que chegaram para somar.

Qual foi o momento exato em que sentiu que estava no caminho errado?
Foi uma coisa totalmente minha. Nesse período em que eu estava afastado no Náutico meu empresário começou a procurar clubes interessados no meu futebol, mas todos os clubes da Série A e da Série B diziam que eu era bom jogador, mas só queria saber de farra. Eu já estava de boa, mas tinha que provar isso para as pessoas. Meu empresário tentou todos os times, ninguém quis me dar emprego. Ali eu fiquei mais chateado quando ele ligou e percebi que precisava mudar. Por isso sou tão grato ao ABC-RN, que me abriu as portas e confiou em mim. Foram apenas três meses, mas conseguimos dar uma reviravolta no campeonato e eu voltei a despontar.

Você está me contando uma história de muitos altos e baixos. Essa coisa de reviravolta está sempre te acompanhando, né?
É verdade. Praticamente toda a minha vida foi assim, eu conseguindo dar a volta por cima. Mas eu tenho 2014 em diante como meu renascimento no futebol. Conseguimos ser campeões catarinenses, fizemos boa Série A e eu fiz um gol histórico pelo Figueirense. Ano passado o professor Levir me trouxe de volta e o Atlético me deu chance. O que eu tenho a dizer é que quando a gente tem pessoas boas do nosso lado as coisas tendem a dar certo.


Giovanni Augusto em entrevista ao L! (Foto: Alan Morici/Lancepress!)

Agora reparei uma coisa... Você gosta bastante de tatuagens...
É uma moda do jogador, né? A minha primeira fiz em Belém, tinha 16 anos, e desde aí ouvia que era só fazer a primeira para querer fazer mais, e foi verdade. Mas parei. Nesse final de ano fui para casa e minha avó, Dona Deusa, conversou comigo dizendo que eu estava a cada ano mais irreconhecível. Eu falei que ia parar, pedi a Deus para tirar essa vontade do meu coração e até hoje não tive mais. Tanto que até tenho uma para terminar, mas não tive vontade.

Tem quantas?
São 14. A mais especial é a foto do meu filho. Tenho o nome dele dentro de um diamante, tenho uma maori, que é só um desenho, mas todas têm significado. Tem meu filho, tem escrito "blessed", que é abençoado em inglês, tenho uma frase na barriga, "uns acreditam em sorte, eu acredito em Deus" com uma cruz, tenho um relógio com data e hora que eu nasci, uma palavra em inglês, "life". Mas depois da conversa com minha avó eu resolvi aceitar o desafio de parar.

Não quis tatuar o gol marcado na Arena Corinthians?
(Risos) Não, não quis. Mas o gol já está na história, né. Independentemente de estar na pele é algo que ninguém vai apagar. Quando quiser lembrar é só entrar no Youtube que vai estar lá.

Jogar em times de massa, como o Atlético-MG e o Corinthians, é algo que te motiva?
Joguei num clube que praticamente não tinha torcida, que era o Grêmio Barueri. A gente entrava no campo, olhava para os lados e não tinha apoio, era bastante complicado. Hoje o jogador se motiva bastante de ver a torcida, e aqui não param de incentivar nenhum momento, em todos os jogos não vaiam, deixam para cobrar depois e isso muito importante para nós jogadores. A torcida não desacredita jamais e nem o time, tanto que conseguimos gols no finalzinho dos jogos.

Nesta quarta o estádio vai estar lotado... O que espera da estreia em casa na Libertadores?
Vai ser um dos jogos mais difíceis que vamos ter durante o ano, até porque o Santa Fé é experiente, bola não queima no pé. Jogando em casa vamos ter dificuldades, mas com apoio da torcida, com sequência de jogos que estamos tendo no caldeirão temos tudo para fazer um grande jogo. É entrar focado desde o início para fazer um grande jogo e sair com a vitória.


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