21/2/2016 13:52
Com nove atletas no Timão, Garcia explica relação com clube, diz que Kalunga quase comprou naming rights e descarta negociar com Verdão
Agente tem nove jogadores no time principal do Corinthians (Edu Garcia/Diário SP)
Quem é Fernando Garcia, empresário que tem nove jogadores no Corinthians? Como ele negocia os atletas com o Timão? Quanto já investiu no Parque São Jorge e no futebol? Atrás dessas respostas, o Blog conversou por mais de duas horas com o ex-dono da Kalunga, patrocinadora histórica do Alvinegro, na última quinta-feira.
Sem fugir das perguntas, o agente, de 57 anos, admitiu que já pôs mais de R$ 22 milhões no futebol desde a criação da Elenko Sports. Os números são bem superiores se a contagem tiver início na década passada, quando ajudou o pai, Damião Garcia, a gerir o Noroeste. Garcia ainda garantiu que não negocia com o Palmeiras, assegurou que a Kalunga esteve muito perto de comprar os naming rights da arena, reconheceu que cogita ter um time em Portugal…
BLOG_ Quando começou a participar da vida corintiana?
FERNANDO GARCIA_ Toda a minha família sempre foi corintiana. Em 1984, resolvemos que a Kalunga patrocinaria o Corinthians. Depois, em 1988, meu irmão Paulo Garcia virou vice-presidente de futebol e eu o ajudava. Contratamos o Jair Pereira, técnico que ganhou o Campeonato Paulista de 1988, além do Denilson, zagueiro que era da seleção brasileira de base, o Paulinho Carioca…
Quando você entrou para a política do Corinthians?
Virei conselheiro vitalício na década de 90. Mas já havia feito muito pelo clube antes. Inclusive, pondo dinheiro para pagar o bicho dos jogadores na época em que o Paulo era vice.
Por que alguém extremamente rico como você decidiu deixar a Kalunga e entrar no mundo do futebol?
Vendi a minha parte na Kalunga para os meus irmãos, em 2003. Não queria mais. Alguns se contentam com R$ 100 milhões, outros querem R$ 1 bilhão. Eu já havia chegado ao meu limite. Aí, montei uma empresa imobiliária com meu irmão Júnior. Comprávamos, vendíamos, construíamos… E até hoje esse é meu ganha pão.
A Kalunga esteve perto de comprar os naming rights do estádio do Corinthians?
Estava tudo acertado. Chamaria-se Arena Kalunga. Eu sei porque era o intermediário. A Kalunga ia pagar quase R$ 400 milhões por 20 anos de contrato. Para ser sincero, até hoje não sei por que não deu certo.
Você foi muito criticado antes de deixar de ser conselheiro. Acha que existia um conflito de interesses por também ser empresário de futebol?
Saí para evitar encheção de saco. Não vejo conflito de interesses nenhum. Servi muito o Corinthians como conselheiro. Emprestei dinheiro numa época em que o clube não tinha nada. Hoje, é fácil. Coloquei mais de R$ 5 milhões, a pedido do Andrés, assim que ele assumiu, e só fui receber o dinheiro de volta dias antes de ele deixar a presidência (em dezembro de 2011). Com juros bem baratos.
Como começou a pôr grana?
O Andrés me procurou em dezembro de 2008. Estava apavorado, porque havia acertado a contratação do Ronaldo e precisava colocar as contas dos jogadores em ordem. A situação, para mim, era ruim, porque ele tentaria a reeleição contra o meu irmão, dois meses depois. Até então, eu não tinha relação comercial com o Corinthians.
Mas já era agente, né?
Sim. Eu tinha jogador no Noroeste, no Barueri, no Palmeiras… O Andrés explicou que pegaria mal se o Ronaldo chegasse com o clube devendo. Então, emprestei dinheiro com a perspectiva de receber seis meses depois. Fui receber quase três anos mais tarde.
Mas o Corinthians não passou a contratar os seus jogadores por causa das dívidas?
Não. Nada a ver. Meu primeiro jogador no Corinthians foi o Otacílio Neto. Eu havia comprado no Noroeste e estava levando para o Palmeiras. Aí, o Andrés me ligou e disse que o queria. Deixei a decisão para o Otacílio, que preferiu o Corinthians. O negócio era de R$ 1 milhão, mas o Corinthians só pagou R$ 300 mil. O restante foi acertado bem depois.
Em geral, os seus negócios com o Corinthians sempre lhe fazem sair perdendo?
O Bruno César foi o primeiro jogador que deu muito certo. O Corinthians não pagou nada e ficou com 20% do atleta. Um ano depois, ele foi vendido ao Benfica e rendeu um milhão de euros para o clube.
Hoje, você tem nove jogadores no Corinthians e é o agente mais presente no clube.
Será que não tem mais ninguém? O Carlos Leite chegou a ter nove dos 11 titulares. Eu acho normal quando se tem jogador bom. Não tem nada forçado. Foi o Corinthians que escolheu os jogadores.
Quais você só agencia e quais tem direitos sobre uma futura venda?
Agencio André, Lucca, Uendel e Maycon. Tenho 25% do Arana, 33% do Vilson, 25% do Walter, 40% do Matheus Pereira e 16,5% do Marlone.
Mas nove não é um número muito expressivo, não?
O André, por exemplo, tinha propostas de sete clubes, entre eles Grêmio, Inter, Sport, São Paulo e o próprio Atlético-MG. Mas o Corinthians foi o primeiro a procurar, em novembro. E comigo não tem leilão.
O São Paulo tentou o André?
Ligou para perguntar sobre a situação. Mas nós já havíamos fechado. O Inter chegou a oferecer R$ 6 milhões, mas tínhamos dado a palavra e fechado com o Corinthians por R$ 4 milhões, incluindo toda a operação. Diferentemente do que ocorreu com o Dudu, que estava no São Paulo, chegou a deixar o passaporte no Corinthians e fechou com o Palmeiras.
Em quais outros negócios perdeu dinheiro no Timão?
Teve um menino que era um craque no interior: Bruno Donizete, de 16 anos, do XV de Piracicaba. Paguei R$ 350 mil e o clube, outros R$ 350 mil. Quando o menino fez 19 anos, o Corinthians decidiu não renovar e ele saiu de graça. O Willian Arão, que deve valer milhões hoje, foi parecido.
Como assim?
Banquei a ida do Arão para o Corinthians. Paguei uns R$ 400 mil ao pai dele e o Corinthians, sem gastar nada, ficou com 50%. O menino até teve algumas oportunidades, mas não vingou e foi embora no fim do contrato. Não tenho nada dele.
Qual o seu índice de acerto nas apostas de jogadores?
Hoje, a chance de erro é bem menor, porque trabalho com o Guilherme e o Thiago, meus sócios na Elenko Sports. Deve ser de 50%. Ou até mais.
Já tomou calote de clubes?
Fui à Justiça contra o Palmeiras e o Botafogo. Na gestão do (Luiz Gonzaga) Belluzzo, o Palmeiras não pagou pelo Jean Carlos e pelo Joãozinho. Acabei recebendo, via Justiça, em 2014. Já com o Botafogo, emprestamos dinheiro com a promessa de que receberíamos quando o Doria fosse vendido. Mas não repassaram nada.
Se você recebe ofertas iguais de Corinthians e Palmeiras, leva o atleta para qual deles?
Não faço negócio com o Palmeiras. Respeito a competência do Alexandre Mattos (diretor-executivo), mas não gostei da forma como o Cruzeiro tratou o negócio do Marlone. E o clube também foi mal com os meus parceiros em relação ao Dedé. Esses agentes compraram o Dedé por 8 milhões de euros e o colocaram no Cruzeiro. Depois, apareceu uma proposta de 12 milhões de euros e o Cruzeiro não vendeu. Isso não é parceria. Se o clube não quer vender, então compra.
O que deu com o Marlone?
Ele estava valorizadíssimo depois de jogar no Vasco. Eu e os meus sócios pagamos 3 milhões de euros e o colocamos no Cruzeiro, com a promessa de que o clube pagaria um terço da operação e daria chances. Mas não ocorreu nem uma coisa nem outra. Até hoje não pagaram e o menino perdeu um ano. Hoje, em todos os contratos, exijo cláusula de saída.
Considerando tudo o que já gastou, você está no lucro ou no prejuízo com o futebol?
Estou recuperando só agora tudo o que investi no futebol. Com essas últimas vendas, arrecadei uns R$ 19 milhões, considerando desde a criação da Elenko. E investi uns R$ 22 milhões. Mas tenho bons ativos. Uma coisa é certa: o que me sustenta é a imobiliária.
Você já foi ao CT brigar com o Edu Gaspar porque queria que o Malcom jogasse mais?
Mentira. Eu nem havia estado no CT no dia em que falaram isso. Nunca pedi escalação de ninguém. Sem contar que você desmerece o atleta fazendo isso.
Quantos clientes tem?
Mais de cem, com toda a certeza. E olhe que decidi parar de trabalhar com a base. Prefiro jogador a partir dos 18 anos, porque base dá muita despesa.
Dos mais de cem, qual é seu maior talento atualmente?
Acho que o Malcom será um top 10 do mundo. Ele tem só 18 anos e já conquistou um monte de coisa, como um Campeonato Brasileiro como titular, Copa São Paulo de Juniores com 16 anos, transferência para um clube francês…
O Bordeaux pagou quanto pelo Malcom?
Cinco milhões de euros (R$ 22 milhões). Eu tinha 40% e vendi 20%, da mesma maneira que o Corinthians fez.
E como chegou a ter 40%?
Eu tinha 10% do primeiro contrato como profissional. Aí, comprei 30% com parte de uma dívida que o Corinthians tinha comigo, pelo Ralf. Paguei R$ 1,8 milhão por um garoto que nem era profissional, ainda. Todos me chamaram de maluco. O curioso é que, no dia em que comprei os 30%, emprestei R$ 3 milhões para salvar a ida do Pato para o São Paulo.
Como assim?
Eu havia ido ao Parque São Jorge e vi o Pato lá. Aí, me disseram que ele só aceitaria ser emprestado se recebesse tudo o que lhe deviam. Eram uns R$ 3 milhões. Acabei emprestando o dinheiro, em março de 2014, e estão me pagando a última parte, de R$ 1 milhão, agora. Por consequência, acabei ajudando na vinda do Jadson (que entrou na troca pelo Pato).
Quanto o Corinthians lhe deve hoje, ainda, então?
Quase nada. Já tive as minhas discordâncias com o Roberto de Andrade, mas ele tem feito um planejamento financeiro muito bom. Recebi quase tudo na última semana.
Você já pensou em ter um clube de futebol?
Estou pensando em comprar um no mercado europeu. Se um dia eu tiver, será lá. Preferencialmente, em Portugal, porque é mais barato. Quero saber quanto custa um clube na Segunda Divisão daquele país.
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