GAZETA PRESS
Edílson apareceu no teatro do Parque São Jorge, clube onde treinou de 1997 a 2000, com um sorriso no rosto e uma faixa na mão para celebrar os 16 anos do primeiro Mundial vencido pelo Corinthians. A provocação ao Palmeiras estava quase tão ensaiada quanto as famosas embaixadinhas que o Capetinha fez na final do Campeonato Paulista de 1999.
"Vou mandar um recado primeiro. Não existe nada melhor do que essa faixa. Porque eles ficam chorando. Então, vou mandar um 'chora, Porco' para eles porque merecem", avisou Edílson, abrindo a sua faixa com os dizeres provocativos ao rival. Seguiram-se gargalhadas do veterano atacante do Taboão da Serra e aplausos das dezenas de torcedores do Corinthians presentes no auditório na noite de quinta-feira.
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Edílson Capetinha, em evento de comemoração do Corinthians pelo Mundial de 2000
Edílson, no entanto, não havia retornado ao Parque São Jorge para falar do Palmeiras ou de suas embaixadinhas. "Estou aqui por causa do Mundial de 2000, pelo Corinthians", pautou, já contendo o riso. Com passagens por mais de dez clubes na carreira (entre eles, o grande rival), o jogador alisou o distintivo corintiano sobre a sua camisa polo preta para fazer média com o público. "Virei torcedor do Corinthians. Eu me sinto em casa aqui. Depois que vesti essa camisa, eu me esqueci de todos as outras. Até reclamam que só posto coisas de Corinthians nas redes sociais. Aqui é Corinthians. É diferente."
Passada essa apresentação, o ídolo deu um beijo no troféu do Mundial de 2000, que estava exposto no palco, e sentou-se para assistir diante de um telão aos melhores momentos daquela conquista. O jogo mais aguardado por ele não era a decisão contra o Vasco, que fazia aniversário, mas o empate por 2 a 2 com o espanhol Real Madrid no Morumbi. "Tirando as embaixadinhas, foi o momento mais marcante da minha trajetória", elegeu, acomodando-se melhor na cadeira, sem desgrudar os olhos do vídeo.
Não era para menos. Edílson criou polêmicas (mais algumas) antes da partida ao prometer colocar entre a bola entre as pernas do defensor naturalizado francês Christian Karembeu. E cumpriu, ainda mandando a bola para rede na sequência. No mesmo lance, o Capetinha se empolgou ao perceber o lateral-esquerdo Roberto Carlos fugindo de sua marcação - na véspera, ele havia dividido o elevador da concentração de Corinthians e Real Madrid com o compatriota e amassado uma cédula de dinheiro para avisar que o colocaria no bolso.
"Podem passar o meu gol de novo para o pessoal ver o Roberto Carlos fugindo? Olha lá! Ele corre para trás!", divertiu-se Edílson, cuidadoso ao explicar a sua relação com Roberto Carlos, que defenderia o próprio Corinthians em 2010, e não citar o nome do Palmeiras. "A gente morou junto quando joguei em um outro time", resumiu, chamando Karembeu de "coitado" em seguida.
Os gols de Edílson sobre o Real Madrid foram comemorados pelos torcedores que estavam no Parque São Jorge como se estivessem ocorrendo naquele momento. Mas ele não foi o único a chamar a atenção por causa daquele jogo. O Capetinha vibrou junto com a plateia quando o goleiro Dida defendeu o pênalti cobrado pelo atacante francês Anelka. Um corintiano uniformizado, contudo, emburrou-se: "O filho da p... do Pato nem para fazer isso, bater colocado. O cara foi dar uma cavadinha contra o Dida!".
Edílson gosta dos torcedores mais pacientes. "Todo o mundo me pergunta qual é a melhor torcida do Brasil porque também joguei no Flamengo. Respondo sem pensar: a do Corinthians é mil vezes melhor. Dá até para discutir quantidade, mas nunca vi a torcida corintiana vaiar o seu jogador enquanto o jogo está rolando. Isso é muito importante para quem está em campo. Já tive jogo em que estava perdendo por três, quatro, e a torcida estava lá, cantando 'todo-poderoso Timão'. Essa é a diferença", discursou.
Ao escutar as palavras de Edílson, um senhor aproveitou para doutrinar o filho de menos de dez anos: "Você ouviu o que ele falou? Entendeu?". O que o menino provavelmente não compreendia é que o próprio Edílson já experimentou a revolta da torcida corintiana. Após a eliminação para o Palmeiras na Copa Libertadores da América de 2000, o Capetinha forçou a sua saída do clube ao enfrentar um grupo que protestava no Parque São Jorge. E foi parar justamente no Flamengo.
Com o amor restabelecido entre Edílson e corintianos, o ídolo reviu ainda a disputa de pênaltis com o Vasco na decisão de exatos 16 anos atrás, entusiasmado. "O Marcelinho perdeu o dele porque aqui é Corinthians. Temos que sofrer. Nada é fácil para a gente", incorporou, antes de iniciar um bate-papo com o público do auditório e falar que jogava com amor à 'segunda pele' (repetindo o termo criado por Marcelinho) logo na primeira resposta. Na segunda, com a faixa 'Chora, Porco' escondida, lembrou que é difícil ser polêmico atualmente. "Ali, nas embaixadinhas, rolou um cacete, um pau. Hoje em dia, talvez não role nada se alguém fizer, mas vão querer processar o cara."