A marca de guaraná que chegou a colocar mais de R$ 100 milhões no futebol carioca nos últimos cinco anos se vira para fazer acordos e parcelar suas dívidas. A Unimed, que já havia deixado o Fluminense no início de 2015, saiu das camisas de Avaí e Figueirense. Até o Flamengo, time de maior torcida do país, ainda não tem garantias da Jeep permanecer em seu uniforme e de antemão projeta perda de R$ 3 milhões na camisa. Mas uma mão forte aparece para abraçar os clubes e amenizar os efeitos da crise. A Caixa Econômica Federal negocia expansão ainda maior no futebol brasileiro. Com novos contratos sendo costurados, o banco público deve atingir mais de 40% do total da verba publicitária nas camisas dos clubes da Série A - mais o Vasco, que caiu para a Série B. No total, de R$ 436,7 milhões das receitas estimadas com venda de espaço na camisa dos clubes, mais de R$ 180 milhões devem sair da Caixa.
O fim das negociações da Caixa com os clubes deve ser anunciado até o fim do mês. O investimento de R$ 100 milhões - em 12 times em 2015 - certamente vai aumentar em 2016, com possível acréscimo de mais sete clubes na Primeira Divisão. Santos, Fluminense, Botafogo Atlético-MG, América-MG, Cruzeiro e Santa Cruz têm negociações abertas com a Caixa. A assessoria de imprensa do banco público foi procurada para comentar o processo de renovações e expansão dos investimentos. A Caixa explica que nem toda negociação aberta significa a garantia de novo patrocínio esportivo do banco na camisa dos clubes. Os clubes, por sua vez, acenam com otimismo nas tratativas para colocar a marca do banco estatal nas camisas.
Corinthians calcular ganhar R$ 52,7 milhões
Com informações baseadas em balanços, orçamentos e contatos com dirigentes dos 20 clubes da Série A - mais o Vasco -, a reportagem fez um ranking das projeções de receitas com venda de espaço na camisa em 2016 - sem contar os valores de material esportivo. O Corinthians é o clube com maior projeção de faturamento com anunciantes. O time paulista projeta atingir R$ 52,7 milhões em patrocínios para 2016 - a maior fatia, claro, da Caixa, que paga R$ 30 milhões - e tem contrato até fevereiro. A Special Dog, no calção, vale mais R$ 3 milhões e a Klar, R$ 7 milhões. Fechando R$ 40 milhões garantidos na camisa do Timão. O clube ainda negocia com mais duas marcas e pretende fazer um rodízio de patrocinadores para arrecadar mais e driblar a crise.
O Palmeiras, um dos poucos clubes da Série A que não tem Caixa e nem negociação com o banco público, era o campeão de arrecadação no ano passado com publicidade na camisa, de acordo com reportagem da Folha de S. Paulo. O time paulista projeta manter o valor em 2016, com a faculdade Fam, a empresa de crédito Crefisa, a operadora de saúde Prevent Senior e a companhia de telefonia Tim.
Segunda maior receita do futebol brasileiro com a Caixa - atrás apenas do Corinthians, mas com espaço de exposição menor na camisa -, o Flamengo recebe R$ 25 milhões da Caixa e vai para mais uma renovação com a empresa. O fim do contrato com a Vitton 44 e a indefinição da ordem de investimento da Jeep não preocupa o vice-presidente de marketing do Flamengo.
- A sinalização da Jeep é positiva, estão satisfeitos com o retorno. Estamos aguardando definição deles em termos de caixa disponível. O mercado está difícil para todo mundo. Será um ano muito complicado em todos os setores, não só no futebol. Com a instabilidade econômica, todos estão no modo de espera. Então isso acaba tomando mais tempo para fechar as coisas. Mas é o que costumamos dizer: se está difícil para o Flamengo, é muito mais difícil para os outros clubes - diz José Sabino, afirmando que o clube leva vantagem pela exposição com seus milhões de torcedores, pela credibilidade da diretoria e pela segurança na parceria.
Metas ousadas e realidade bem dura
Desde a Ponte Preta, que não fez estimativas de patrocínios em 2016 - as receitas, segundo últimos balanços patrimoniais ficam na casa dos R$ 3 milhões -, até o Vasco, que é o terceiro clube hoje com maior arrecadação via Caixa Econômica Federal, os clubes trabalham com metas ousadas para um ano que sinaliza tempos difíceis. Sem patrocínio master há algum tempo, São Paulo e Santos colocam metas ousadas. O Tricolor Paulista espera receber R$ 40 milhões com a venda de espaço publicitário. O Peixe, R$ 29 milhões - quase metade pela negociação com a Caixa - veja o quadro acima. Hoje, no entanto, tem apenas R$ 4,5 milhões garantidos - R$ 4 milhões da Royal Air Maroc e mais R$ 500 mil da Voxx no calção. A Corr Plastik, que pagava R$ 5 milhões por ano pelos ombros da camisa, não renovou contrato com a equipe santista.
Novamente na Série B, o Vasco é outro que faz projeção ousada - distante do cenário de crise da economia brasileira. Se no ano passado a previsão era de R$ 46 milhões em patrocínios, para este ano a meta é mais factível, mas não menos complicada. O orçamento de 2016 prevê R$ 30 milhões em receitas com patrocinadores - a Caixa deve renovar por R$ 15 milhões.
- A avaliação do Vasco é de que os clubes têm que viabilizar outras receitas e fontes fora dos patrocinios tradicionais e das cotas de TV. Mas é claro que essas fontes ainda são muito importantes. O futebol, os clubes em especial, precisam estar nas agências com opções permanentes, alternativas. Hoje, basicamente, correm atrás de quem já está investindo no mercado. O Vasco vai trabalhar nestes próximos dois anos em ser proativo. É uma mudança profunda, que leva tempo, num momento econômico difícil, mas necessária - arrisca o vice-presidente de finanças do Vasco, Marco Antônio Monteiro.
No Rio, o Fluminense se esquiva em comentar as tratativas com a Caixa, mas este valor pode chegar até R$ 20 milhões, com espaço principal da camisa e também nas costas. Em General Severiano, o Botafogo espera, enfim, diminuir o rombo de quase R$ 5 milhões com a saída da Vitton no fim de 2014. O presidente do clube disse que projetava, embora reconhecesse que é uma meta bem complicada, R$ 10 a R$ 15 milhões sem contar com o patrocínio da Caixa, estimado em cerca de R$ 17 milhões. Hoje, o clube não tem anunciante master.
Influência política
Depois de algumas tentativas, a Caixa também deve chegar na camisa dos clubes mineiros em 2016. Nos bastidores, a influência do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, foi fundamental para que o banco público negociasse com Cruzeiro e Atlético-MG, que devem receber R$ 13,5 milhões cada um. O América-MG, de volta para a Série A, comemora o aporte de cerca de R$ 3 milhões como o "maior de sua história".
Na região Nordeste, o Vitória (BA) tenta renovar por R$ 6 milhões, depois de um acordo mais curto no ano passado que lhe rendeu R$ 1,5 milhão. Em Pernambuco, o Sport quer aumentar o patrocínio da Caixa para R$ 7,5 milhões - e conta com mais R$ 2,4 milhões da 99 Táxi na manga. Outro time tradicional que volta para a Primeira Divisão, o Santa Cruz negocia patrocínio de R$ 3 milhões - valor mínimo da CEF na Série A. Ano passado, o Tricolor Pernambucano recebeu cerca de R$ 900 mil com os grupos Jairo Rocha e Feijão Turquesa.