Campeão pela sexta vez como gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar esteve na Inglaterra dias antes do hexacampeonato do Timão, selado na última quinta-feira, após empate por 1 a 1 com o Vasco, no Rio.

Aproveitando-se da parada no Brasileirão para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, o ex-volante viajou o lado do amigo Fernando Yamada, ex-goleiro do Timão, para um período de observações e aprendizado.

Além de acompanhar um fórum esportivo, visitou os centro de treinamentos de Chelsea, Tottenham e Arsenal, clube que defendeu entre 2001 e 2005. Com o técnico Arséne Wenger, com quem trabalhou no clube de Londres, conversou sobre diversos assuntos, inclusive sobre Alexandre Pato, que espera voltar para a Europa na próxima janela.

– Não posso chegar lá vendendo jogador, pois fui por outro intuito, para ver departamentos, fazer reuniões com caras, desde o jardineiro até o CEO dos clubes, e trazer coisas legais para cá. Se alguém me perguntasse sobre ele (Pato), eu falaria. Conversei, perguntaram. Não só dele, mas de vários outros atletas nossos. Eles conhecem nossos jogadores. Almocei com o Arsène, ele perguntou dele, de outros, do Tite, e eu também perguntei de alguns. Nada específico. Disseram que eu estava indo para lá para isso (vendê-lo), mas fui por outras coisas – disse.

Técnico mais vitorioso da história do Timão, Tite já manifestou o interesse de trabalhar no futebol italiano ou espanhol no futuro. Segundo Edu, muitas pessoas envolvidas no futebol europeu conhecem o treinador, que foi campeão mundial em 2012.



Vejo o Tite muito completo, tanto que nos lugares por onde passo no exterior, sempre me perguntam dele. É um cara que coordena o dia a dia de maneira excepcional, e a parte de campo nem preciso falar – diz o gerente, que nem quer perdê-lo para a Europa:

– Não quero nem pensar nisso (risos). Mas vejo Tite muito preparado para qualquer situação que aparecer para ele, disso não tenho dúvida – elogiou.

Em Londres, Edu acompanhou palestras de profissionais de diversos esportes, além de futebol – Michel Reschke, diretor técnico do Bayern de Munique, foi um dos participantes.

Confira a entrevista com o gerente de futebol do Corinthians:
GloboEsporte.com: Renato Augusto disse que no período em que jogadores saíram (Guerrero, Sheik, Petros e Fábio Santos), uma reunião em que o presidente garantiu que ninguém mais sairia foi decisiva para afastar a crise. O diálogo foi vital para o hexa?

Edu: Os atletas só querem que você fale a verdade. Ela pode machucar um pouquinho, mas querem que seja assim. Esse foi um exemplo: "Fiquem tranquilos que a partir de agora não sai mais ninguém". Foi a mesma coisa dos atrasos (nos direitos de imagem). Roberto (de Andrade) veio e explicou: "Está acontecendo isso, vamos acertar tudo, estou esperando entrar dinheiro". Disse a verdade. O que não se pode é deixar dúvida na cabeça deles, criar instabilidade.

Se o clube tivesse investido em Guerrero em meio a atrasos nos direitos de imagem de alguns jogadores criaria uma instabilidade?

Imagine só que situação ruim. Contratamos o Guerrero com os valores públicos que se tornaram e alguns jogadores com direitos de imagem atrasados. O que iriam pensar? Tem para um e não tem para outro? Ou tem para todo mundo ou não tem para ninguém! Foi a mesma coisa no começo do ano. Não poderíamos comprar atletas de 3 milhões de dólares. Primeiro,

tínhamos de arrumar as coisas aqui, ter uma preferência, para depois pensar em outras coisas. Isso foi muito correto da parte do clube. O presidente e o Andrés (Sanches, superintendente de futebol) passaram credibilidade.

No meio do ano, vocês tentaram contratar Teo Gutierrez e Jonathas para a equipe...
Não fomos fazer proposta. Queríamos entender a situação deles. Teo estava com algum problema no River Plate, querendo sair. Então entramos em contato para ver se ia ficar, mas quando falaram que era preciso um investimento de 3 ou 4 milhões de dólares, dissemos: "Ok, obrigado". Foi a mesma coisa com o Jonathas. Ele fez uma boa campanha no Elche (da Espanha) e estava livre no mercado. Fomos entender, mas acabou não dando certo porque a operação ia ser cara.


Alessandro e Edu Gaspar conversam antes do empate por 1 a 1 com o Vasco

Teme pela saída de muitos atletas após a conquista do Brasileirão?
Falar, falam de todo mundo, mas eu só trato a partir do momento em que chega algo oficial. Enquanto não chega, temos apenas que ficar atentos, ter dois ou três nomes para repor rápido, mas sem o papel timbrado e assinado eu não posso pensar em muita coisa.

Ralf foi escolhido por Tite para ser o capitão no hexa. Ele vai ficar para 2016?
Estou otimista. Ele fez coro público de que gostaria de ficar, nós também, então faz parte de uma negociação. É normal demorar mais ou menos, mas estou bastante otimista quanto a isso.

Que tipo de ideias você trouxe desse período que ficou na Europa?
Quero ampliar nosso Cifut (Centro de Inteligência no Futebol) no ano que vem. Começou pequeninho e hoje é referência, mas tem espaço para aumentar. Conversei bastante sobre a integração da base e profissional e tem coisas sensacionais. Por exemplo: quando o profissional tem uma folga, o treinador principal chama o time inteiro sub-20 para o campo do profissional.

O treinador do sub-20 dá o treino com supervisão do principal. Imagina um treino (do sub-20) aqui com o Tite e seus auxiliares? Se o Tite quiser, pode fazer correções. Todo mundo se sente importante e se doa mais, e tem a questão do costume. O jogador se acostuma cedo a ver o Tite, a ser corrigido por ele. É fantástico.

A integração com a base foi um dos principais pontos desta temporada?
Sim, melhoramos muito. Quando cheguei, eram dois departamentos distintos. Hoje temos o Alessandro (ex-lateral-direito) nesse papel, subimos jogadores com mais critério. Mas queremos melhorar ainda mais.

Os meninos da base que se destacaram nesta temporada terão mais chances em 2016?
Vamos ver como terminaremos a montagem do time. Tivemos atletas que, embora não tenham jogado, estão muito bem cotados no profissional. Tite já falou nomes que quer na pré-temporada.