3/11/2015 08:13

Ex-meia do Corinthians para antes dos 30 e vira chef dos boleiros na Itália

Chamado de Reizinho do Parque, meia Ferreti virou "filho" de Müller no Timão, mas precisou parar por causa das lesões. Saída encontrada foi abrir restaurante em Milão

Ex-meia do Corinthians para antes dos 30 e vira chef dos boleiros na Itália
Ao entrar pela casa de vinhos do empresário Júnior, no interior de São Paulo, o cliente se depara com uma coleção de camisas de jogadores de futebol. Tem Kaká, Robinho, mas o principal destaque é para uma camisa 34 do Corinthians, com o nome de Ferreti nas costas. Será que os torcedores do Timão se lembram desse jogador?

– O cliente vê minhas fotos na parede, aquelas camisas, aí quer saber se jogo futebol. Hoje ninguém me reconhece. Mas tenho muita história para contar. Devo tudo que tenho na minha vida ao futebol – responde Luiz Roberto da Silva Júnior, o ex-meia Ferreti, que entrou no Corinthians em 1996 e de lá só saiu nove anos depois.

Com a camisa do Timão, Ferreti fez 16 jogos como profissional e marcou um gol. A carreira foi curta devido às contusões. Aos 23 anos, tinha passado por três cirurgias. Mesmo assim, vestiu a camisa do Brasil pelas seleções sub-17 e sub-20. A dor o impediu de seguir com o sonho de jogar bola, pendurando as chuteiras aos 28.

Mas o futebol não saiu da vida de Ferreti. Ele abriu um "restaurante para boleiros" na Itália, após defender o Monza, na Série B. Ganhou fama de chef entre estrelas do futebol, como o goleiro Júlio César, o lateral-direito Maicon, o meia Kaká e o atacante Robinho, que à época atuavam no futebol italiano.



Ferreti voltou ao Brasil para abrir uma enoteca em sua cidade natal, São José dos Campos. Ele não esquece que o primeiro vinho sofisticado que conheceu foi apresentado por Müller, ex-atacante que o tratava como um filho no Corinthians. No Timão, presenciou brigas entre Ricardinho e Marcelinho Carioca, além de polêmicas como a invasão de mulheres à concentração. Ferreti também ganhou um apelido: Reizinho do Parque.


Ferreti recebe boleiros famosos em restaurante na Itália


CHEF DOS BOLEIROS?

A decisão de abandonar o futebol veio após consulta ao médico Joaquim Grava, do Corinthians. Sentindo muitas dores, precisaria passar por uma quarta cirurgia. Foi aí que Ferreti, que disputava a Série B na Itália com o Monza, fez a escolha "mais difícil da vida".


– Dizem que jogador de futebol morre duas vezes. E a primeira é quando se aposenta. Foi assim. Mas tive a sorte de receber um convite para abrir um restaurante japonês em Milão. A proposta era criar uma casa dos jogadores brasileiros na Itália. Virou a reunião dos boleiros – contou o ex-meia.

Olha só esse timaço de jogadores do Brasil que passaram por Milan e Inter de Milão: Júlio César; Maicon, Thiago Silva, Lúcio e Serginho; Thiago Motta, Mancini, Kaká e Robinho; Alexandre Pato e Ricardo Oliveira. Pois todos eles foram clientes de Ferreti.

– Era restaurante japonês, mas os caras pediam arroz com feijão e nós dávamos um jeito. "Ferreti, faz uma pizza aí pra mim, por favor". Eu dava um jeito. O que eles queriam era o ambiente voltado para o jogador de futebol. Acabei me tornando um chef dos boleiros. Batia a fome, eles já corriam atrás de mim – relembrou.


O goleiro Júlio César se tornou um amigo muito próximo. Comemorou o aniversário da esposa Susana Werner no restaurante de Ferreti. Na Copa do Mundo de 2014, quando o Brasil venceu o Chile nos pênaltis, o goleiro da Seleção fez questão de agradecer as orações da mãe do amigo joseense.

– Minha mãe é muito religiosa e deu muita força pra ele. Aquela vitória nos pênaltis foi muito especial para o Júlio e ele me telefonou feliz da vida, querendo falar com ela para dizer obrigado – contou.



Ferreti e o goleiro Júlio César posam para foto em Milão



INÍCIO NO CORINTHIANS

Junior deixou o Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, aos 14 anos. O destino foi o Parque São Jorge. Nas categorias de base do Corinthians, ganhou de apelido o sobrenome do pai: Ferreti. A subida ao profissional veio com Oswaldo de Oliveira, quando completou 17.



Como recordação, Ferreti guarda as reportagens que destacavam seu nome à época



– Parecia um sonho. De repente estava ali treinando com ídolos. Lembro quando o Luxemburgo assumiu o time e me convocou para o clássico contra o São Paulo. Foi minha estreia. Aí são entrevistas para jornais, televisão, fama, estoura uma bomba na sua vida – recorda Ferreti.

No dia nove de maio de 2001, Vanderlei Luxemburgo escalou o jovem Ferreti como titular, pela primeira vez, para confronto da Copa do Brasil contra o Flamengo-PI. Quando o árbitro marcou pênalti em cima de Müller, a expectativa era a de que o próprio atacante fosse para cobrança. Mas Müller olhava para Ferreti como um filho. E deixou a bola nas mãos da então joia

– O time tinha Alexandre Gallo, Marcos Senna, eu nunca imaginei que cobraria aquele pênalti. Mas o Müller sempre foi muito generoso comigo. Ele falou: "vai lá e não erra". Graças a Deus consegui marcar – comenta o joseense

AMIZADE COM MÜLLER



O ex-jogador Müller, que foi tetra com o Brasil em 94 e bicampeão do Mundo com o São Paulo nos anos 90, fazia questão de dividir quarto com Ferreti nas concentrações, quando passou pelo Corinthians. Júnior não esquece que foi através de Müller que passou a saber mais sobre vinhos.
– O Müller estava no fim da carreira e já bem saturado do futebol. Mas eu aprendia muito com ele.

Vários conselhos mesmo. Ele estava se preparando para ser pastor naquela época. Se trancava no quarto e ficava vendo DVD o dia inteiro com as pregações do pastor. Uma vez me mostrou uma garrafa de vinho que tinha escondido na mala. Tinha muito bom gosto.


O Corinthians de 2001 estava com uma lista de medalhões no elenco: Scheidt, Rogério, Marcos Senna, Marcelinho Carioca, Ricardinho, Luizão. Mas, segundo Ferreti, somente Müller tinha certas liberdades com o técnico Vanderlei Luxemburgo.

– Müller e Luxemburgo era uma relação de pai e filho naquela época. Nem parecia treinador e jogador. Eles conversavam muito. Teve um aniversário do Müller uma vez, em uma das nossas viagens, que ele ganhou um bolo e deu o primeiro pedaço pro Luxemburgo. O pessoal começou a brincar e ele tacou o bolo na cara do treinador. Foi aquele susto geral – recordou.
MULHER NA CONCENTRAÇÃO/ RICARDINHO X MARCELINHO

Ainda hoje são cercados de mistérios os bastidores da final da Copa do Brasil de 2001, quando o Grêmio bateu o Corinthians por 3 a 1, no Morumbi. Na véspera da final, três mulheres teriam invadido a concentração do hotel onde o Timão estava hospedado. Ali explodia um dos atritos entre Ricardinho e Marcelinho Carioca - que logo depois acertaria transferência para o Santos.



Ferreti viveu momentos conturbados no Corinthians de Luxemburgo


– Ricardinho e Marcelinho se odiavam antes de acontecer tudo aquilo. Quando tinha rachão, saía até faísca. E eu, moleque, ficava num fogo cruzado. Mas naquela final, lembro que estava com o Gallo (Alexandre) concentrado no quarto. Era 1h30 da manhã e toca a campainha. "Vai lá juvenil, abre a porta", o Gallo falou. Quando abri, era o Luxemburgo. "Cadê? Cadê? Tá escondida aqui?".

Ele foi, abriu a porta do banheiro. Queria encontrar uma mulher que tinha invadido a concentração. Passou 10 minutos, tocou o telefone: "reunião na cozinha". Todos os jogadores ficaram lá para resolvermos a história. Mas ninguém assumia. O Luxemburgo ameaçou todo mundo. E ali acho que perdemos aquela final. O grupo ficou muito abalado.

Depois, quando a bomba vazou na imprensa, a culpa caiu no Marcelinho. Aí você via Ricardinho e Luxemburgo conversando, com reuniões... na viagem seguinte que fizemos ao Nordeste, o Marcelinho estava saindo para o Santos. Naquela época era uma polêmica atrás da outra que enfrentávamos.

LIÇÕES DE FUTEBOL E EMPREENDEDORISMO

Aos 33 anos de idade, Ferreti agora só quer saber de futebol para "resenhar". Recebe ex-jogadores na enoteca, em São José, mas não reclama ao relembrar das contusões da carreira.

O ex-jogador diz que, se não fosse pelo futebol, não teria mergulhado no mundo do empreendedorismo. Quando morou na Itália, chegou a realizar cursos sobre vinhos e ganhou um diploma por sua fluência no italiano.


Ferreti ex-jogador do Corinthians em casa de vinhos em São José



– Deus foi sempre muito bom comigo. Futebol me deu tudo o que eu tenho hoje. Sem ele, não teria a oportunidade de empreender. Não conheceria tanta gente bacana. Tive uma fama rápida, vesti a camisa do Brasil sub-17 e sub-20, ouvi Hino Nacional em campo, disputei o Sul-Americano. Vesti a camisa do Corinthians, tão pesada.

Apesar das contusões, não tenho nenhuma frustração, mágoa ou tristeza. O que tinha que acontecer, aconteceu.


Decoração da enoteca de Ferreti em São José dos Campos

Hoje empresário, deixa dicas aos boleiros de plantão. A fama é passageira. E o dinheiro, como todos sabem, um dia pode acabar.

– Quando está entrando dinheiro, o cara consegue um patamar top na vida. Com o fim da carreira se aproximando, o dinheiro vai diminuindo. E ele quer manter o padrão. É óbvio que ele não vai conseguir manter. Quando não está jogando mais, não entra mais nada. Ele não desce do salto.

"Ah, eu sou o Ferreti que jogou no Corinthians". Mas ninguém nem lembra! Muitos da nova geração nem conhecem o Müller, que parece que perdeu tudo, estava morando de favor, mas agora voltou, né? Enfim, é triste. Jogador precisa estudar, colocar o é no chão e buscar alternativas para a aposentadoria. Foi o que fiz – observou Ferreti.

MAIS FOTOS DE FERRETI COM BOLEIROS


Ferreti e Robinho posam para foto em restaurante na Itália



Ferreti e Lúcio, que, à época, defendia a Inter de Milão



Ferreti e Kaká, quando o meia jogava no Milan da Itália



Júlio Cesar, Thiago Silva e Alexandre Pato curtem restaurante de Ferreti



Ferreti posa para foto em enoteca de São José dos Campos




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