A vida do zagueiro e lateral Betão teve uma reviravolta nos últimos seis meses. Desde que saiu da Ponte Preta, no final de 2013, passou mais de um ano desempregado e pode, agora, terminar a atual temporada com dois títulos na bagagem. Após vencer o nacional pelo Dynamo de Kiev, o ex-corintiano jogará nesta quinta-feira a final da Copa da Ucrânia contra o Shakhtar Donetsk, no Estádio Olímpico de Kiev, às 15h.


O jogador com passagens por Santos e Evian-FRA não trabalha mais com agentes há dois anos por opção. "Agora sou meu próprio empresário", contou o jogador em entrevista ao ESPN.com.br.

As propostas que chegaram neste 'período sábatico' não o agradaram. Ele aproveitou para ficar mais tempo com a família, comentou jogos por canais de televisão e até fez cursos de culinária. Aos 31 anos, porém, sentia falta dos gramados. Foi quando resolveu fazer um telefonema para o Leste Europeu no final do ano passado.

"Expliquei numa sexta-feira ao pessoal do clube que estava um tempo paradão, falei sobre a possibilidade de voltar. Conversaram com o presidente (Ihor Surkis) e o técnico (Serhiy Rebrov) que me aceitaram. Na quarta, estava pegando o avião para cá", disse.

Betão voltou para uma Ucrânia muito diferente da que deixou em 2013. A guerra contra a Rússia mudou muito o futebol local, antes uma potência emergente na Europa. Times mudaram de cidade, jogadores saíram do país, estádios foram destruídos e o dinheiro, antes abundante, acabou.

"Muitos clubes menores foram afetados na parte econômica, é bem possível que vários deles fechem as portas e não disputem o próximo Campeonato," lamentou. Até mesmo a capital do país sofreu. "A violência aqui aumentou, tem mais roubos e assaltos", observou.

Com esse cenário, o brasileiro viu o Dynamo se aproveitar da bagunça nos rivais e formar uma equipe com uma defesa que tomava poucos gols. "Como peguei o bonde andando, não poderia sentar na janelinha (risos). Fiquei mais na reserva, mas fiz alguns bons jogos e dei até assistência pra gol. Na Copa da Ucrânia, joguei todas as partidas", comemorou o atleta.

Além da perda da titularidade, outras coisas mudaram. O time quebrou uma série de cinco títulos nacionais seguidos do rival Shakhtar Donetsk. "Eu fui o talismã (risos)", divertiu-se.




No time ucraniano, Betão é um dos ídolos da torcida. "Aqui as pessoas me respeitam, mesmo com a diferença cultural e até racial. Eles brincam que já sou ucraniano, pelo meu jeito extrovertido. Consigo cantar a primeira estrofe do hino do país, eles ficam bem felizes com isso", disse.

Uma evolução e tanto para quem tinha problemas com o idioma no começo da primeira estadia na Europa, quando sofria até mesmo para pedir comida.

"Quando cheguei não tinha brasileiros e tive que aprender tudo na marra. Com seis meses, achava que sabia falar russo. Fui com a minha esposa a um restaurante, pedi uma pizza de dois sabores ao garçom. Daí chegaram duas gigantes, eu achava que tinha pedido uma 'meio a meio' (risos). O povo todo nos olhando assustado, devem ter pensado como íamos comer tudo aquilo (risos)", divertiu-se o jogador.

Mesmo tão à vontade na Ucrânia, o conto de fadas de Betão pode ter um final nesta quinta-feira, quando encerra seu contrato. "Quero ficar, estou muito bem e aqui me sinto em casa", disse.

Se voltará ao desemprego ou ficará para disputar a próxima Uefa Champions League, Betão ainda não sabe. De qualquer forma, o título da Copa da Ucrânia seria a "cereja do bolo" para finalizar uma temporada tão especial.