27/2/2015 15:00

Há dez anos, Tite interrompia história no Timão após fúria de Kia no vestiário

Derrota para o São Paulo por 1 a 0, após pênalti perdido por Coelho, causou clima ruim no vestiário por conta do comportamento do chefão da MSI. Técnico não gostou

Há dez anos, Tite interrompia história no Timão após fúria de Kia no vestiário
Danilo disputa bola com Marcelo Mattos no clássico que selou a demissão de Tite em 2005 (Foto: Diário de São Paulo)

Um lance capital em um clássico, uma escolha, uma reação explosiva no vestiário e uma história interrompida. Há dez anos, Tite encerrava sua primeira passagem pelo Corinthians, clube que, entre 2010 e 2013, voltaria a comandar para dar a volta por cima e conquistar cinco títulos, entre eles a Libertadores e o Mundial. Ele retornou neste ano, para escrever o terceiro capítulo.

Era 27 de fevereiro de 2005 quando, aos 43 minutos do segundo tempo, Coelho teve a chance de empatar um jogo que, no Morumbi, o São Paulo vencia por 1 a 0. Debaixo de chuva, Lugano derrubou Bobô na área, e o empate ali se desenhava – Danilo, hoje no Corinthians, havia aberto o placar para o Tricolor. Mas Coelho bateu mal o pênalti. Rogério Ceni, que vivia talvez o melhor ano de sua carreira, caiu no canto esquerdo e agarrou a bola.

– Quem mandava era o Tite. Olhei para um lado e para o outro e ninguém pegou a bola, porque era eu quem treinava. Ganhando ou perdendo, a responsabilidade era minha. "Você que vai bater e acabou”, Tite dizia, independente de terem alguns medalhões. Mas aquilo não foi muito aceito pela diretoria – lembra Coelho, hoje auxiliar técnico do Flamengo de Guarulhos na Série A-3, mas que na época tinha 21 anos e havia recém-chegado ao profissional.

Cabisbaixos, os jogadores foram para o vestiário chateados com mais uma derrota no Paulistão. Foi quando Kia Joorabchian, homem forte da MSI (Media Sports Investments), parceira do clube, entrou no local para mostrar a sua insatisfação. Ele queria que Carlitos Tevez, joia argentina adquirida por 20 milhões de dólares, tivesse batido a penalidade.

– O Kia ficou incomodado, ele queria que Tevez, por ser a estrela do time, tivesse cobrado, mas as coisas são treinadas e trabalhadas – diz Cleber Xavier, auxiliar de Tite ontem e hoje.

– Coelho bateu e errou, como já aconteceu com muitos craques do futebol mundial e como poderia ter ocorrido com Tevez também. A cobrança tem de existir mesmo, mas ela tem o lugar certo. Vestiário é para treinador e jogador, para as pessoas envolvidas no jogo. Ela poderia ser feita depois, no clube. Tite não gostou e cobrou dele que aquilo não era para ser feito ali. Lembro que Tevez e Fábio Costa, que eram líderes do time, saíram em defesa do Tite. Ele falava em inglês e nós não entendíamos, mas o corpo dele também falava – emenda Cleber.

Com menos cabelos brancos, 43 anos vividos e com uma Copa do Brasil pelo Grêmio (em 2001) como seu maior título no currículo até então, Tite não se intimidou. Convicto de que tinha tomado a decisão correta e se irritado com a reação que julgou desproporcional do iraniano, o gaúcho reagiu, tornando o clima pesado.

– Para Tite, vestiário é uma coisa sagrada – conta Coelho.
Uma reunião no dia seguinte, no Parque São Jorge, selou a demissão de Tite, que nunca havia sido o nome preferido de Kia, um fã de Vanderlei Luxemburgo. A boa campanha no Brasileirão de 2004, porém, quando tirou o Timão da lama (18ª posição) e o levou ao quinto lugar, quase classificando para a Libertadores, jogou a seu favor para a renovação. Mas para o técnico os dias pareciam mesmo contados no clube alvinegro.
– Na época estávamos começando e precisávamos de sustentação. Não tivemos sustentação da diretoria em nenhum momento. Não houve uma verdade. Quem mexe com futebol tem de saber que as coisas não acontecem em um estalar de dedos – afirma Cleber Xavier, sobre o início irregular da equipe no Estadual daquele ano.



Kia Joorabchian e Tevez, agora juntos na Europa (Foto: Agência AFP)

Ao todo, na primeira passagem, foram 51 jogos, 24 vitórias, 15 empates e 12 derrotas. Administrador do MSI na época, Paulo Angioni admite que a forma de trabalhar daquela gestão não combinava com a do técnico. Kia Joorabchian não foi localizado pela reportagem.

– Acredito que os fatores que levaram à ruptura foram divergências de conceito, não foi apenas uma questão pontual. A forma de se conduzir futebol não o agradava – declara Angioni, hoje no Vasco, mas que diz manter uma ótima relação com o treinador.

– Tite é uma das grandes referências como treinador, tem um conjunto de coisas muito interessante: é moderno, tem prazer em aprender. Tem uma franqueza pouco comum no mundo do futebol, de honestidade e de olhar no olho. E uma vibração interna muito grande, o que faz com que ele seja ele sempre um estimulador contagiante – testemunha o dirigente.

Comentarista do SporTV, Roger Flores lamenta ter trabalhado com Tite por apenas dois dias. Contratado em fevereiro de 2005, estreou exatamente naquele jogo contra o São Paulo. E, segundo lembra, aquele foi o último episódio de embate entre um treinador e Kia no vestiário.

– A galera gostava dele, mas meu contato foi muito pequeno. Posso dizer que, depois deste episódio, não lembro de mais nada parecido dentro do nosso vestiário. As cobranças seguiram existindo, mas de uma maneira mais organizada – lembra o ex-meia.

Do Timão, Tite foi para o Atlético-MG. O ano terminaria com o Corinthians sendo campeão do Campeonato Brasileiro. Durante a campanha, o clube teve Daniel Passarella, Márcio Bittencourt e Antônio Lopes como comandantes.


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