Após três edições seguidas representado pelo gaúcho Carlos Eugênio Simon, o Brasil terá um novo árbitro na Copa do Mundo-2014: Sandro Meira Ricci, da Federação Pernambucana de Futebol, que estreará na partida entre França e Hounduras, em Porto Alegre. Eleito o melhor do Campeonato Brasileiro-2010, apenas a terceira edição da Série A que apitava, e membro do quadro da Fifa desde 2011, o mineiro de 39 anos coleciona honrarias e polêmicas na carreira.

Premiações e polêmicas

A primeira controvérsia foi justamente em 2010. Disputando o topo da tabela do Brasileiro com o Fluminense, Corinthians e Cruzeiro empatavam em 0 a 0 no Pacaembu até os 43 minutos do segundo tempo, quando Ricci apontou pênalti polêmico de Gil em Ronaldo. O próprio camisa 9 cobrou e selou a vitória paulista. Revoltado, o volante cruzeirense Fabrício chegou a pedir para ser substituído pelo técnico Cuca após o lance. O presidente Zezé Perrella chamou de Ricci "safado" e teve de pagar R$ 60 mil após um processo por danos morais. No fim das contas, quem levantou a taça foi o Flu.

No ano seguinte, os holofotes aumentaram, e as polêmicas também. Já membro do quadro da Fifa, Ricci, então árbitro pelo Distrito Federal, mostrou dois cartões amarelos ainda no primeiro tempo ao volante Kássio, do Formosa, em partida contra o Brasiliense. O problema foi que o juiz "esqueceu" de expulsar o jogador de campo. A partida terminou empatada em 1 a 1.

Alguns meses depois, o árbitro brasileiro na Copa se desentendeu... com o craque brasileiro na Copa, Neymar. Machucado na época, o jogador usou sua conta no Twitter para insultar Ricci por supostos erros durante partida do Santos contra o Vitória, com frases como "juiz, ladrão, vai sair de camburão". Ricci processou Neymar, que teve de pagar R$ 15 mil a instituições de caridade. Apesar dos erros, o árbitro foi eleito o segundo melhor do Campeonato Brasileiro, atrás do gaúcho Leandro Vuaden.

Em 2012, Ricci transferiu-se para a Federação Pernambucana de Futebol, que promovia mudanças no seu quadro de árbitros após uma sucessão de erros. O ano foi marcado por críticas, sobretudos, por parte de clubes. Então presidente do Náutico, Paulo Wanderley chamou Ricci de "frouxo" por supostos erros em clássico contra o Sport, e pediu que o juiz não apitasse mais as partidas do seu clube.

Ainda em maio, o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), Rubens Lopes, publicou nota no site oficial da entidade criticando Ricci após um empate em 2 a 2 entre Vasco e Corinthians. No texto, Lopes lembrava que o árbitro apitara sete jogos de equipes cariocas no Campeonato Brasileiro do ano anterior, situação que classificou como "muito estranha".



Moral' com a Fifa e críticas em PE

2013 foi um ano de ascensão na carreira de Ricci. Após reprovações de Leandro Vuaden e Wilson Luiz Seneme em testes físicos, o árbitro mineiro ganhou "moral" com a Fifa, e apitou o Mundial sub-20 e a final Mundial de Clubes, entre Bayern de Munique e Raja Casablanca. As polêmicas também se tornaram menos frequentes. A maior delas foi em partida do São Paulo contra o Bahia, quando Ricci expulsou dois jogadores e anulou um gol legal do Tricolor.

Este ano começou com a escolha de Ricci como representante brasileiro na Copa, em janeiro. Na sequência, no entanto, o árbitro viveu nova situação controversa, quando expulsou dois jogadores do Santa Cruz em clássico contra o Sport, em março. Em resposta, o Tricolor pernambucano ironizou o árbitro em seu site oficial, publicando que o rival vencera a partida "com três a mais".

Ricci estará nos jogos da Copa ao lado dos assistentes brasileiros Emerson Augusto de Carvalho e Marcelo Van Gasse. Embora não sejam os juízes mais jovens - o posto pertence ao colombiano Wilmar Roldán, de 33 anos -, Ricci e Van Gasse estão entre os integrantes mais recentes do quadro da Fifa a apitar o Mundial deste ano, ao lado do sérvio Dalibor Djurdjevic, do alemão Stefan Lupp, do norte-americano Eric Boria, do chileno Carlos Astroza e do argentino Juan Pablo Belatti. Todos tornaram-se internacionais em 2011.

A Copa do Mundo será apitada por 90 árbitros de 43 países diferentes. O trio japonês formado por Yuichi Nishimura, Toshiyuki Nagi e Toru Sagara estará presente na primeira partida, entre Brasil x Croácia, nesta quinta-feira. A Fifa deve divulgar ainda hoje os trios de México x Camarões e Chile x Austrália, que acontecem na sexta.

Relembre outros árbitros brasileiros que apitaram Copas do Mundo

1930 (Uruguai) - Gilberto de Almeida Rego
1950 (Brasil) - Alberto da Gama Malcher, Mário Gardelli e Mário Vianna
1954 (Suíça) - Mário Vianna
1962 (Chile) - João Etzel
1966 (Inglaterra) - Armando Marques
1970 (México) - Airton Vieira de Moraes
1974 (Alemanha) - Armando Marques
1978 (Argentina) - Arnaldo Cezar Coelho
1982 (Espanha) - Arnaldo Cezar Coelho*
1986 (México) - Romualdo Arppi Filho*
1990 (Itália) - José Roberto Wright
1994 (Estados Unidos) - Renato Marsiglia
1998 (França) - Márcio Rezende de Freitas
2002 (Coreia do Sul / Japão) - Carlos Eugênio Simon
2006 (Alemanha) - Carlos Eugênio Simon
2010 (África do Sul) - Carlos Eugênio Simon