14/7/2023 11:31

Polícia investiga crimes em negociação que prometia vaga na base do Corinthians

Inquérito foi aberto após diretor denunciar falsificação de assinatura em carta para jogador de 16 anos; preso por liderar esquema de apostas é suspeito e admite pagamento de R$ 60 mil

Polícia investiga crimes em negociação que prometia vaga na base do Corinthians
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A Polícia Civil de São Paulo investiga denúncia de falsidade ideológica e outros possíveis delitos, como estelionato, em uma negociação que prometia vaga no time sub-17 do Corinthians.

Os crimes teriam acontecido no fim de 2021, e o inquérito foi instaurado em agosto do ano passado, após pedido de Osvaldo Neto, diretor de futebol de base do Corinthians. Ele afirma que teve a assinatura fraudada, alegação corroborada por laudo pericial do Instituto de Criminalística.

Ao longo dos últimos meses, pessoas investigadas e testemunhas prestaram depoimentos à Polícia. A apuração ainda está em andamento.

O caso envolve um lateral-direito e meia que na época tinha 16 anos e, por isso, será identificado apenas como Lucas. Na ocasião, ele atuava por um time de Santa Catarina. Em depoimento à Polícia, dois intermediários disseram que pagaram por uma vaga para o atleta na equipe sub-17 do Corinthians. Há divergências nos valores: um relato é de R$ 55 mil; o outro, de R$ 60 mil.

Lucas chegou a ir ao Parque São Jorge e posar para fotos com a camisa do clube no estádio da Fazendinha e também na parte de fora da sede administrativa do Timão. Porém, o garoto foi barrado dos treinos com o elenco de sua categoria.

Lucas do lado de fora do Parque São Jorge, sede administrativa do Corinthians — Foto: ge

Lucas do lado de fora do Parque São Jorge, sede administrativa do Corinthians — Foto: ge

Lucas na Fazendinha, estádio do Corinthians — Foto: ge

Lucas na Fazendinha, estádio do Corinthians — Foto: ge

A família do atleta tinha em mãos uma carta, em papel timbrado do Corinthians, que solicitava a apresentação de Lucas para realizar exames médicos. O documento tem assinatura do diretor Osvaldo Neto, que nega ter dado a autorização.

– A diretoria do Corinthians não pede dinheiro para nenhum negócio, usaram o meu nome e do clube! Sou vítima. O papel não tem nada a ver com o oficial do Corinthians, e a assinatura não é a minha – declarou Osvaldo Neto.

Carta para Lucas se apresentar para exames no Corinthians — Foto: ge

Carta para Lucas se apresentar para exames no Corinthians — Foto: ge

Por meio de seu departamento de comunicação, o Corinthians informou que "lamenta que casos como esse ainda aconteçam e prejudiquem emocionalmente e financeiramente famílias que procurem o objetivo de ajudar seus filhos a alcançarem o sonho de jogar futebol profissionalmente e reforça a todos que se informem das práticas corretas de nossas peneiras oficiais. Dessa forma, o Corinthians também é vítima de criminosos que se passam por falsos empresários."

A investigação

  • O inquérito policial foi instaurado em 4 de agosto de 2022 e segue em curso.
  • A Polícia Técnico-Científica analisou a carta recebida pelo jovem jogador e comparou a assinatura de Osvaldo Neto com material gráfico fornecido pelo próprio diretor. Laudo da perícia atestou que eles não se identificam, corroborando a versão do dirigente.
  • A Polícia trabalha com diferentes hipóteses e frentes de investigação. O inquérito apura inicialmente falsidade ideológica, mas nada impede que outros crimes sejam investigados no meio do caminho.
  • Se em troca de dinheiro uma pessoa ofereceu algo que não poderia entregar (neste caso, uma vaga na base do Corinthians), configura-se estelionato.
  • Se alguém usou cargo ou poder no clube para receber suborno, isso configuraria corrupção privada, crime que passou a ser tipificado pela Lei Geral do Esporte, sancionada no mês passado.
  • Segundo Bruno Lopez de Moura, um dos investigados, ele foi informado que o dinheiro seria "distribuído no Corinthians" e "em espécie, para não deixar rastros".
  • Já de acordo com o empresário Rodrigo Sodré, que admitiu ter participado da negociação como representante de Lucas e prestou depoimento à Polícia em condição de testemunha, foi dito a ele que "na operação todos faziam parte, inclusive a cúpula do Corinthians".
  • Tanto Bruno Lopez quanto Rodrigo Sodré ouviram tais afirmações do empresário José Ricardo Dias, que ainda não foi localizado pela Polícia. Você vai conhecer melhor a todos eles mais abaixo.

Questionado se havia aberto alguma investigação interna para apurar o caso, o Corinthians respondeu:

– Desde o conhecimento da denúncia e da abertura de inquérito o diretor de futebol de base, Osvaldo Gomes Corrêa Neto, prontamente prestou esclarecimentos no sentido de provar a falsificação de sua assinatura no documento e, até hoje, se mantém à disposição para qualquer esclarecimento sobre o caso, tendo já provado não ter qualquer participação no ocorrido. Tanto o diretor da base com o próprio Corinthians são vítimas também desse golpe de falsidade ideológica.

– Ao mesmo tempo, o Corinthians reforça os frequentes comunicados nas redes sociais do clube, da base e no site oficial alertando a população sobre a forma correta de participar das nossas peneiras, da não cobrança de valores e pedindo atenção para possíveis golpes de falsos empresários e vagas nas categorias de base do clube.

Osvaldo Neto é diretor do departamento de futebol de base do Corinthians — Foto: Divulgação

Osvaldo Neto é diretor do departamento de futebol de base do Corinthians — Foto: Divulgação

Os personagens

Osvaldo Neto diz ter sido avisado sobre a carta e todo este imbróglio por André Campoy. Trata-se de um ex-diretor da base do Corinthians entre 1993 e 2003, que também já foi conselheiro do clube e é um velho aliado do ex-presidente Andrés Sanchez.

Figura influente nos bastidores do Timão, Campoy virou empresário de atletas na década de 2000 e agenciou diversos jovens formados no clube. Após começar a trabalhar como agente de jogadores, ele se desligou formalmente do Conselho alvinegro para evitar conflito de interesses, mas sempre esteve próximo do Corinthians. Mais recentemente, em 2017, ele esteve envolvido na negociação fracassada com o atacante Drogba, além de ter intermediado acordos de patrocínios nebulosos.

André Campoy com taça do título paulista do Corinthians em 2018 — Foto: Reprodução/Facebook

André Campoy com taça do título paulista do Corinthians em 2018 — Foto: Reprodução/Facebook

André Campoy não é o único personagem "famoso" dessa história. Bruno Lopez foi apontado pelo Ministério Público como líder do esquema de apostas e manipulação de jogos do Campeonato Brasileiro de 2022 e, por isso, está preso.

Em depoimento à Polícia, ele admitiu ter participado da negociação para comprar a vaga no sub-17 para Lucas e confessou ter recebido R$ 60 mil. Porém, Bruno alegou ter ficado só com R$5 mil e que repassou a maior parte para que fosse "distribuída no Corinthians".

Bruno Lopez de Moura foi apontado como líder de esquema de manipulação de resultados na Série B — Foto: Reprodução / Instagram

Bruno Lopez de Moura foi apontado como líder de esquema de manipulação de resultados na Série B — Foto: Reprodução / Instagram

Bruno diz ter feito esse repasse por meio de um parceiro de negócios: José Ricardo Dias. Empresário de jogadores, ele teria dito que possuía "carta branca para colocar jogadores no Corinthians" e que seu contato no clube era André Campoy.

Como citado anteriormente, há mais um elemento nessa trama: Rodrigo Sodré, também empresário de futebol. Ele diz que na época representava o atleta Lucas, embora a família do jogador negue qualquer vínculo formal.

Sodré afirma que conhecia Bruno Lopez há mais de dez anos e que foi procurado por ele com a proposta de levar um atleta à base do Corinthians mediante a pagamento financeiro.

O caminho do dinheiro

Os depoimentos de Rodrigo Sodré e Bruno Lopez apontam valores diferentes. Sodré diz ter pago R$ 55 mil. Bruno afirmou que recebeu R$ 60 mil, dos quais R$ 25 mil em espécie e R$ 35 mil na conta da esposa dele, Camila Silva.

Bruno diz que ficou com R$ 5 mil e entregou o restante a José Ricardo Dias, que seria o responsável por distribuir o suposto suborno no Corinthians.

A Polícia ainda não conseguiu ouvir José Ricardo, considerado peça-chave nesse quebra-cabeça. Ele foi intimado a depor em três oportunidades, a última delas em maio, tanto em seu endereço residencial quanto no comercial. Porém, até o momento não se apresentou. O ge tentou contato com ele em dois telefones diferentes, mas não obteve sucesso.

José Ricardo com outro jogador assinando contrato na base do Corinthians — Foto: ge

José Ricardo com outro jogador assinando contrato na base do Corinthians — Foto: ge

Explicações

André Campoy também não atendeu as convocações para prestar depoimento. Ao ge, ele disse que as intimações foram entregues, por engano, a um vizinho dele também chamado André e que irá à delegacia na próxima semana:

– O José Ricardo foi funcionário meu entre 2000 e 2002. Mandei ele embora porque estava pegando dinheiro de jogador escondido do escritório. Nesse negócio, ele usou meu nome e do Neto. O Sodré também não tem culpa, ele foi enganado.

Campoy explicou sua atuação no mercado de futebol:

– Eu não sou empresário, mas indico jogadores para empresários. Se lá na frente o jogador for vendido, eles me dão um dinheiro. Pelo conhecimento que tenho no Corinthians, o pessoal me procura para fazer peneiras, mas eu não cobro nada. Se cobrasse, estava rico.

– Indiquei três jogadores do Corinthians para empresários: o Gui Negão e o Matheus Araújo para o Marino Rosa, da Brasil Sports, e o Beto para o Nilson Moura, da Art Sports. Se eles virarem algo e me derem alguma coisa, beleza. Mas não tenho nada assinado ou contrato.

Questionado se já ouviu falar em pagamento de suborno para colocar jovens no clube, Campoy afirmou:

– Eu desconheço qualquer esquema para colocar jogadores no Corinthians. E, se tiver, não é por R$ 60 mil que você vai colocar jogador lá.

Rodrigo Sodré não quis conceder entrevista, mas enviou a seguinte declaração ao ge:

– O atleta em questão era titular em seu clube, com destaque, e vinha conversando com outras agremiações. Além disso, o Corinthians tinha carência na posição dele, o que justificava a contratação. É praxe no mercado um agente que é próximo do clube pedir determinado valor para a intermediação da transferência. Dizer se esse valor vai para o clube ou não é indiferente para a gente. O que nos deu segurança para fazer o investimento foi que o Bruno e o sócio dele, José Ricardo, me mostraram que estavam apresentando outros atletas no Corinthians, além de me enviarem uma carta de intenção do clube . Temos que acabar com esses falsos empresários no futebol e principalmente o clube filtrar mais quem tem acesso. Se o Corinthians alega que a carta é falsa, aí é um problema de polícia. Infelizmente, prejudicaram a carreira do atleta.

O ge não conseguiu falar com a defesa de Bruno Lopez. Já a família de Lucas, por meio de advogada, informou que não irá se manifestar.

O inquérito segue em andamento, conduzido pelo delegado João Batista Filogonio, do 52ª DP, no Parque São Jorge, Zona Leste de São Paulo.

Esse caso aumenta a lista de problemas que atingiram a base do Corinthians nas últimas décadas.







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