20/3/2020 09:50

ESPN Entrevista Milton Neves: 'Eu sou bom', 'Neymar é odiado', 'Tite já era' e 'Felipão é ingrato'

ESPN Entrevista Milton Neves: 'Eu sou bom', 'Neymar é odiado', 'Tite já era' e 'Felipão é ingrato'
Com o ESPN Entrevista, a ESPN oferece ao fã de esportes conteúdos aprofundados e fora do convencional sobre grandes personagens que orbitam o mundo esportivo.



LEIA TAMBÉM: Clubes disponibilizam suas estruturas para ajudar vítimas do coronavírus

Nesta edição, entrevistamos Milton Neves, 68 anos, um jornalista cuja trajetória se confunde com a do próprio jornalismo esportivo no Brasil.

Milton viveu a época em que locutores, como Osmar Santos, eram superestrelas. Viu o esporte e os jornalistas tomarem dos disc-jóqueis o protagonismo do dial. E soube se reiventar para chegar à TV e manter-se relevante no mundo da internet e das redes sociais.

Em entrevista concedida no seu escritório na Avenida Paulista, um dos principais pontos da capital de São Paulo, Milton Neves falou sem amarras e falsa modéstia, sempre com a riqueza de detalhes que lhe é peculiar, sobre sua carreira, colegas de profissão, Pelé, Faustão, Luxemburgo, Tite, Neymar e Jorge Jesus, entre muitos outros personagens.

Abaixo, trazemos um pouco desta conversa. Uma aula de história do "Moço de Muzambinho" - era assim que ele queria ser chamado pelo ídolo Fiori Gigliotti, quando ainda sonhava com o microfone de uma rádio paulista.


SANTISTA PARA NÃO IR PRO INFERNO

"Mirtinho", 8, que não gostava de futebol, escolheu torcer pelo Santos por causa de um jogador lendário do clube. Não, não foi Pelé. O responsável foi Pagão - e o motivo não foi a técnica do notável centroavante.

"Eu saí do grupo escolar, entrei em casa, e meus primos estavam ouvindo a final do Supercampeonato Paulista de 1959, jogada em 1960", relembra-se Milton, que foi para o pé de jabuticaba, no quintal, e lá ficou por uma meia hora, enquanto o Alvinegro era derrotado pelo Palmeiras, por 2 a 1.

"Eu voltei, e eles estavam com uma cara triste. Eu perguntei por quê e eles disseram que o Santos tinha perdido. E aí eu falei: de quem é o Pagão? Eles disseram, 'é do Santos'. Daí, eu falei que eu era do Santos", conta ele.

"Mas isso era porque o padre Rafael dizia na missa da juventude que não podia morre pagão. Então, com medo de ir pro inferno, eu virei santista e isso mudou minha vida", diverte-se.

"Eu virei santista, por medo de ir pro inferno. Tinha Zito, Pepe, Pelé Zito, Laercio, Getúlio... Mas o que eu marquei mesmo foi o Pagão Um nome que enche o rádio."


O RÁDIO EM PRESTAÇÕES

O primeiro rádio de Milton Neves foi comprado por sua Tia Antônia.

"Minha tia comprou o rádio em 12, 15, 20 prestações. E precisou de avalista. Algo que hoje seria uns R$ 60, 70. Essa tia foi uma santa na minha vida", conta ele sobre a tia que ele venera como mãe e que "mora no céu", como ele costuma dizer, desde 2015.

"Eu me apaixonei pelo rádio e pelo Santos. E botei na cabeça que ia trabalhar na Rádio Bandeirantes", conta.

Milton começou a querer trabalhar no rádio ainda com 13 anos. Certa vez, ele revelou seu desejo a Hélio Manhoni, o "parmerista", dono do Bar Pinguim, onde ele havia ido comprar um kibe e um pastel.

Manhoni estava ouvindo o programa "Poder da Mensagem", na Rádio Bandeirantes.

"E ele deu risada, falou que eu ia ser faxineiro da rádio - o que seria muito honesto, mas não era o que eu queria", diz ele.

Manhoni, além de não prever o sucesso que Milton alcançaria na profissão, também não previa, àquela altura, que, além de radialista, Milton viria a ser seu genro.

"Até hoje, toda vez que vou ao sanitário na Bandeirantes, eu me lembro do meu sogro. É impressionante", conta.

PRIMEIRO EMPREGO EM "CÉLULA COMUNISTA"

O primeiro dinheiro recebido por Milton Neves com o rádio veio em 1969. Era uma campanha eleitoral para André Franco Montoro.

"Eu gravei: vote em Franco Montoro". E a gravação ia para todas as cidades da região. Ganhei uns R$ 50, em dinheiro de hoje".

Tempos depois, a Rádio Continental, onde ele atuava também como discotecário, decidiu apoiar a eleição do deputado Sebastião Delgadio contra Joaquim Teixeira Neto. O lado que não recebeu apoio não gostou e decidiu retaliar.

"Eles foram a Pouso Alegre, onde havia um quartel e denunciaram a Continental como sendo uma célula comunista em plena Muzambinho, imagina?"

"Um dia, eu organizando os discos, chegam três caras de pasta e óculos escuros e perguntaram: 'Menino, onde que fica o cristal dessa rádio?'. Eu eu perguntei: 'O que é que cristal?'. E os caras bravos: 'Tá querendo me enganar?'. Eram caras do Minsitério, da Polícia Federal".

As autoridades explicaram que o cristal era o transmissor da rádio. "Aí eu fui lá no vitrô e apontei: 'Fica ali, ó, perto do cemitério'. E mostrei nossa anteninha lá", diz. Tiraram a rádio do ar.

"A última música que tocou foi "Mi viejo", com Pierro. Eu nunca vou me esquecer. Fiquei sem emprego. Eu ganhava tipo uns R$ 200, 150...”, recordou.

A rádio acabou, mas Milton continuou com o microfone nas mãos.

Para ganhar dinheiro, apresentava sessões literárias e o circo, que vira e mexe estava na cidade, em troca da entrada.

FRIO E FOME EM CURITIBA

O primeiro registro de Milton Neves como radialista foi na Rádio Colombo de Curitiba, em 1971.

"Meu irmão morava lá. Uma época, um monte de Muzambiense foi para lá", explica. Neves foi morar em uma pensão para oito pessoas, onde moravam 14.

"Foi o lugar onde eu mais passei fome e frio na vida", diz. "O predinho ainda está lá. Quando viajo à cidade, passo por lá, para matar a saudade", diz.

"Eu fui para fazer cursinho. Fiz dois vestibulares de Odontologia, em Belo Horizonte e Curitiba. Não passei".

"Depois, fiz três concurso do Banco do Brasil, e dois dois concursos para a Petrobrás. Mas Deus não me deixou passar".

"Se eu fosse um dentista, eu tava na cadeia há muito tempo. Com a minha inabilidade manual, eu já teria matado um monte de paciente", diz. "Ninguém no mundo é tão monoglota e inábil como eu", diverte-se.

Concursos à parte, Milton confessa que foi para a Capital do Paraná "para enganar".

"Porque eu me formei no colégio e não trabalhava", diz. "Não tinha o que fazer em Muzambinho", diz.

Milton foi reprovado na Rádio Clube Parananese. Um diretor recomendou que ele desistisse, porque não teria futuro, por sua "voz de caipira".

"Aí fui na Rádio Cultural. Um rapaz chamado Dirceu Graeser me disse 'Você é bom pra burro, mas eu não tenho verba. Não desista!'".

Milton conseguiu uma vaga na Rádio Colombo, que fechou em maio de 1971, e deixou o radialista sem emprego.


PELA PRIMEIRA VEZ, PELÉ

Apaixonado por Pelé, Milton viu o ídolo pela primeira vez em um jogo do Santos contra o Comercial, em Ribeirão Preto.

Após sua tia pegar dinheiro emprestado, o adolescente foi de kombi com mais 7 pessoas ao Estádio Palma Travassos.

“Parecia que tinha 2 milhões de pessoas no estádio, mas tinha só umas 12 mil (risos). Eu fiquei ao lado do banco do Santos e teve uma bola que veio pertinho de mim. O Pelé foi até lá todo suado e fora de si”.

O lance durou uma fração de segundos. Milton conta que Pelé pegou a bola e levantou o rosto em sua direção.

“Ele bateu o lateral e foi embora. Tinha um monte de gente em volta de mim, mas eu cismei que o Pelé me viu”.

“Na volta pra casa, todo mundo estava dormindo - menos eu e o motorista. Eu não parava de repetir: Pelé me viu, Pelé me viu, Pelé me viu... Foi a maior alegria da minha vida”.

Milton só veria o craque de perto em Curitiba, em 1971, quando o Santos jogaria contra o Coritiba. Milton iria embora da cidade no dia seguinte e esperou o dia todo pela delegação santista.

"Quando o time chegou, às 15h, 16h, o primeiro que desceu foi o Davi, que casou com a irmã do Pelé. Depois, Ramos Delgado, Orlando Lelé e aí, o Pelé", conta ele, sobre sua terça-feira.

"Eu não acreditei que eu tava vendo o Pelé", diz.

Na quarta-feira, quando o Santos perderia para o Coritiba por 1 a 0, Milton já foi com uma maleta para o estádio. Demoraria alguns anos para o jornalista falar com “Rei do Futebol”.

"Eu fui responsável pelo primeiro comercial de TV do Pelé", conta Milton.

"Era de uma construtora, a Trabulsi que até já faliu. Eu e o Pelé, correndo na praia, em São Vicente. Tem foto disso, eu ensinando o Pelé a correr. Ele corria errado antes disso", diverte-se.

LUXA X MILTON

Semanas antes, houvera um jantar, do qual participaram J. Hawilla, Ruy Brizola (sócio da Traffic), Luxemburgo e Candinho, então técnico e auxiliar da seleção, Marcos Lázaro, argentino, lendário executivo de TV, e Amir Farah, executivo do consórcio.

Na pauta: quem vai apresentar o "Supertécnico"?

O programa, que iria ao ar aos domingos, era um misto de programa de entrevistas e mesa redonda. E os convidados sempre seriam técnicos de futebol. Era a cereja do bolo do acordo entre a Traffic e a Band.

Sugeriram Fernando Vannucci, estrela na Globo. Mas ele não tinha perfil de entrevistador.

Aí falaram Wanderley Nogueira. E alguém disse que ele era bom, mas não faria bonito papel no vídeo, digamos. Outro citado foi o Flávio Prado, também descartado.

"Aí, o Amir, devo essa a ele, falou: vocês estão perdendo tempo com esse monte de nomes aí. Todos têm valor. Mas o melhor é o Milton Neves, da Jovem Pan".

Hawilla ponderou:

"Eu também nasci no rádio e sei: ele não vai dar certo, porque fala demais. Vai ser uma tragédia".

"Aí, o Luxemburgo falou: 'Não, esse não, de jeito nenhum. Esse é um futriqueiro, que não sei o quê, não sei o quê lá", diz Milton. "Ele quis me queimar".

A rixa entre eles era antiga, e vinha desde que Vanderlei trocara a numeração clássica do Santos.

"No Santos, lateral-direito é 4, historicamente. E o Luxemburgo trocou, colocou o número 2. Eu fiquei indignado e fiz um discurso na rádio. Ele me ligou, entrou no ar e nós quebramos o pau!", conta Milton.

Quando Luxa tentou vetar Milton, houve 30 segundos intermináveis de silêncio. Até que alguém fez menção de ouvir Marcos Lázaro.

"O Hawilla então se virou e disse: 'mestre, que que você acha?'. E ele 'Yo solo escuto a Milton Neves'. Cara, olha que coisa de Deus! Aí, o Hawilla virou para o Hélio Cilleman e mandou me chamar", conta.

"Foi desse jeito, cara, eu tô contando com detalhes como se eu estivesse nessa reunião. O Luxemburgo quis me detonar. E, no fim, eu o tirei da Copa de 2002".

NEYMAR: "O MAIS ODIADO DA HISTÓRIA"

Milton Neves afirma ter se decepcionado com Neymar, embora tenho sido um dos primeiros a afirmar que o então garoto seria um craque.

Com a sua usual hipérbole, Milton crava: "O Neymar, para mim, é o jogador mais odiado na história do futebol em todos os tempos".

"Ronaldo, Romário, Pelé, Ronaldinho eram temidos e respeitado. O Neymar é odiado até por bandeiranha, árbitro, etc. Ele está ficando canela de vidro como o Pagão. Os beques não gostam dele. Ele é um jogador extraordinário e olha com desdém para o juiz", diz.

"Ele olha para o beque como se tivesse falando: Eu sou milionário, você é pé rapado. A bola não arranca pedaço, mas arranca a alma do ofendido", filosofa Milton.

"Neymar pratica a fratura exposta da honra. Por mais burrada que fez, não aprende. Você viu a cara dele quando fica na reserva? O Pelé ficou na reserva uma vez com o Zagallo, contra a Bulgária, e ficou quieto"

"Ele acha que existe antes e depois dele. Mas o futebol é dividido antes e depois de Pelé", diz.














Corinthians, timão, alvinegro, Arena Cortinthians, CT Joaquim Grava, Parque ecológico do tietê , paulista, liberttadores, mundial, brasileiro, copa do brasil, Tiago Nunes, técnico,


VEJA TAMBÉM
- Provável escalação do Corinthians para duelo contra o Flamengo
- DECiSÃO TOMADA? Cássio analisa futuro e mantém possibilidades em aberto
- Ex de Jô ironiza situação de jogador preso por falta de pensão









3582 visitas - Fonte: ESPN

Mais notícias do Corinthians

Notícias de contratações do Timão
Notícias mais lidas

Se o Tite for demitido hj da seleção brasileira, Thiago Nunes não sera mais técnica do Corinthians essa é a minha conclusão

Sebastiao Godoi     

Vocês deste aplicativo vão catar cocoinho

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui ou Conecte com Facebook.

Últimas notícias

publicidade

Sudamericana

Ter - 19:00 - ueno Defensores del Chaco -
X
Nacional Asuncion
Corinthians

Brasileiro

Sáb - 21:00 - Neo Química Arena
0 X 0
Corinthians
Fortaleza EC
publicidade
publicidade
publicidade