Rafael Valente/ESPN.com.br
Bastou Pintado dar os primeiros passos para deixar o vestiário da Arena Inamar em direção a sala de entrevista para que uma multidão começasse a gritar seu nome. Sem graça, ele acenou com uma das mãos e agradeceu. Mais de cem pessoas se aglomeravam em volta dele, festejando não um título ou a vaga em uma competição nacional. Algo até impensável para uma equipe que ainda tem risco de rebaixamento. Eles festejavam um feito maior: a vitória do Água Santa sobre o Corinthians.
LEIA TAMBÉM: As seis melhores comissões de frente do futebol brasileiro em 2020
O treinador atendia aos jornalistas para falar do histórico triunfo por 2 a 1 no último sábado, enquanto do lado de fora seus jogadores experimentavam a mesma atenção dos torcedores. Ao fazerem o trajeto do vestiário ao ônibus, não tinham como não parar para falar com os fãs.
Luan Dias e Robinho, os autores dos gols, foram os mais procurados. Muitos torcedores queriam a participação deles em selfies para marcar o sábado frio e chuvoso, em pleno feriado prolongado de carnaval. Até mesmo os corintianos foram tietados, embora somente Gil e Gabriel pararam para atender os fãs com calma.
"Olha, eu consegui, eu consegui", gritava um garotinho, feliz, correndo em direção ao pai para avisar que tinha uma foto.
Transformação
A presença do Corinthians mexeu com a cidade. Foi a primeira vez que o clube mais popular do Estado jogou em Diadema e a primeira que encarou o Água Santa. Algo até surpreendente devido os quase 110 anos de fundação da agremiação, sediado justamente na cidade vizinha.
Foi também a primeira vez que uma grande equipe do futebol nacional jogou em Diadema.
A expecativa de receber o Corinthians fez até alguns imaginarem recorde de público no estádio. Até poderia ser batido poque a diretoria conseguiu a aprovação da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros para abrir o setor Sul, o que aumentou a capacidade do local para 10 mil lugares.
E mais da metade do estádio foi reservado para a torcida corintiana. Os fãs do Água Santa tiveram 3 mil assentos à disposição, justamente na área nova.
No entanto, a presença de público decepcionou. Apenas 3.058 pessoas pagaram para ver o duelo inédito. O que afastou o público não foi o feriado prolongado ou a tarde fria e chuvosa. Afinal, em volta dele, as ruas estavam cheias, movimentadas, com muita festa.
O problema foi o preço do ingresso: R$ 120 (R$ 60, meia-entrada).
Foi o menor público como mandante do Água Santa neste campeonato. Exceção feita à estreia contra o Novorizontino (3.301 pagantes), com ingresso a R$ 50 (R$ 25, meia-entrada), a diretoria cobrou um valor mais acessível nas outras rodadas --R$ 20 (R$ 10, meia-entrada)-- e teve mais de 5.000 pagantes.
Sem recorde, a marca continua na Arena Inamar continua sendo de 2016, quando o Água Santa perdeu para o São Bernardo por 1 a 0 e foi rebaixado para a Série A-2 do Campeonato Paulista. Naquele dia, 7.283 pessoas estiveram no estádio.
Infraestrutura
O sofrimento ficou por conta da infraestrutura. O contigente de jornalistas foi muito maior do que qualquer outra partida da história da equipe.
Não teve jeito, os jornalistas tiveram de se ajeitar/apertar nas cabines de imprensa para acompanhar o duelo. O problema maior foi para os cinegrafistas, que tiveram de trabalhar na arquibancada do setor Oeste. Além de ficarem próximos aos torcedores, não contavam cobertura.
Em relação aos times, o Corinthians fez uso de um vestiário totalmente reformado. Pessoas do estafe do clube admitiram para a reportagem que ficaram surpresas com o espaço disponível e elogiaram a casa do Água Santa: "A nossa infraestrutura foi superior a muitos estádios de clubes tradicionais do interior".
Durante uma caminhada pelo estádio também foi possível observar que há obras em curso. A diretoria quer construir um campo na área atrás da arquibancada Oeste para servir para treinos das equipes do Água Santa. Não há previsão de conclusão.
Marco para Diadema
O Água Santa não será mandante contra o Palmeiras, o último dos grandes clubes que enfrentará até o final da primeira fase do Campeonato Paulista. Já jogou com o São Paulo, mas no Morumbi. Ainda assim a ideia é que o duelo do último sábado seja um marco para a cidade.
O efetivo da polícia foi superior a qualquer outro jogo do time local. Havia dezenas de viaturas, cavaliaria da PM e até apoio aéreo.
O estádio fica dentro de um bairro carente e perto de uma das maiores comunidade em Diadema. Também oferece pouca estrutura para a imprensa e para a torcida.
São apenas dois portões de acesso para o público, os jornalistas precisam andar entre os torcedores para acessar as áreas onde trabalham, como cabines e salas de coletiva e zona mista. E não há refletores. Por isso não pode haver jogos noturnos.
Depois do jogo, até pela tradição do Água Santa como clube criado na várzea, muitas pessoas cultivam o hábito de ir até o vestiário, falar com os jogadores. Após o jogo com o Corinthians, o número de
interessados em fazer isso foi cinco vezes maior.
Desde 2017, a cidade de 400 mil habitantes virou uma das sedes da Copa São Paulo de futebol júnior. Já recebeu jogos do Vasco (2018) e Atlético-MG (2019). Neste ano, o Flamengo deveria ter atuado na Arena Inamar, mas o clube rubro-negro desistiu da competição.
A equipe rubro-negra jogou em Diadema em outra oportunidade. Foi em 2018, com o time sub-17, diante do Santos pela Copa do Brasil da categoria.
A experiência com os vascaínos e atleticanos foi diferente do último sábado porque eram partidas de base.
Muitos colaboradores do Água Santa admitiram após o confronto com o Corinthians que "tudo correu bem" e "ficou um grande aprendizado".
Corinthians, timão, alvinegro, Arena Cortinthians, CT Joaquim Grava, Parque ecológico do tietê , paulista, liberttadores, mundial, brasileiro, copa do brasil, Tiago Nunes, técnico,