17/10/2018 11:56

Em caso de título, Carille se sentirá Campeão da Copa do Brasil

Com três títulos em um ano e meio de carreira no Timão, técnico, hoje na Arábia, diz que ainda é novato e revela plano de quebrar tabu com brasileiros na Europa

Em caso de título, Carille se sentirá Campeão da Copa do Brasil
Fábio Carille é técnico de equipes principais há menos de dois anos, mas já acumula um título brasileiro e dois paulistas pelo Corinthians, currículo de fazer inveja a muitos veteranos. Essa ascensão relâmpago o levou a um contrato multimilionário na Arábia Saudita, de onde vai acompanhar a final da Copa do Brasil desta quarta-feira, entre seu ex-time e o Cruzeiro.

Ainda totalmente identificado com o Timão, onde passou nove anos e meio como auxiliar e treinador vitorioso, Carille comanda agora o Al-Wehda, clube de Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos, mas que treina em Jedá, cidade litorânea, turística e mais aberta em relação aos costumes do país.

O técnico quase não sai de casa. Terá de madrugar ou varar a madrugada para assistir à final em Itaquera, já que está seis horas adiante pelo fuso horário. Mas não tenha dúvida de que ele fará esse sacrifício. Até porque a campanha do Corinthians na Copa do Brasil começou com ele, diante do Vitória.

Carille sente-se parte do trabalho. Quer sentir-se parte da conquista. E acha que a contratação de Jair Ventura para tentar conduzir a equipe ao título foi uma tacada certeira do Timão.

Em sua sala no complexo King Abdullah Sports City, ao lado do estádio onde o Brasil venceu a Argentina por 1 a 0 na última terça-feira, Carille recebeu a equipe do GloboEsporte.com e falou sobre a meteórica carreira, os planos para o futuro e mais essa remontagem corintiana.

GloboEsporte.com: Como tem visto o Corinthians, finalista da Copa do Brasil e com dificuldades no Brasileirão?
Fábio Carille: O Corinthians passou por uma transformação. Em nove anos e meio, isso aconteceu três ou quatro vezes. Fomos campeões do mundo em 2012, e em 2013 saíram Paulinho, esse, aquele. Em 2014 o Mano (Menezes) chegou e saíram muitos jogadores. Então, o segundo semestre de 13 e 14 foram uma remontagem. Em 2015 saíram Fábio Santos e alguns outros, mas o Tite remontou e havia muita qualidade, com Jadson, Elias, Vagner Love. Fomos campeões e tínhamos a expectativa de ser favoritos na Libertadores em 2016, mas em janeiro perdemos Gil, Ralf, Renato Augusto, Jadson, Vagner Love e Malcom, que tinha seis meses de titular.

No meio do ano, o Tite foi para a Seleção e o Cristóvão (Borges) assumiu com a mesma ideia de trabalho, mas perdemos Felipe, Elias e Bruno Henrique. Foram nove jogadores em seis meses. Para mim, 2017 seria o ano de formação para quem sabe em 2018 disputar, mas as coisas aconteceram muito rápido. Contratamos Pablo, Arana assumiu a responsabilidade de jogou demais, veio o Maycon.

"Em 2018, perdemos Jô, o melhor do Brasileirão, Pablo e Arana, e fomos campeões paulistas sem achar um time. Tira centroavante, põe meia, põe volante, e fomos campeões sem entender o porquê"
No meio do ano perdemos Balbuena, melhor zagueiro atuando no futebol brasileiro; Maycon, um jogador de características raras; Rodriguinho, que define; Sidcley, que havia se encaixado bem. Se eu continuasse, talvez fosse só um pouquinho melhor, mas qualquer novo técnico teria as dificuldades que o (Osmar) Loss teve, ainda mais num lugar que depende de resultados a todo momento.


E como vê a chegada do Jair Ventura, que está nessa balança de Copa do Brasil e Brasileiro?
Alguns jogadores começaram a entender o que é Corinthians, como Danilo Avelar e Douglas, e o Corinthians foi muito feliz na contratação do Jair. Ele tem uma linha de trabalho muito parecida, e falo pelo Botafogo, que jogava fechado e sabia contra-atacar. Chegar à Libertadores com o Botafogo naquelas condições, como ele fez, é para se considerar um título. Ele chegou com uma filosofia parecida. A Copa do Brasil dá condição de você amarrar um jogo fora, como fizeram contra o Flamengo, ter a força de jogar em casa, e avançar. Eu prefiro o campeonato de pontos corridos que te dá a chance de errar uma ou duas vezes. Na Copa do Brasil não pode errar, mas ela te dá a chance de chegar a uma etapa importante.

Você participou da primeira fase da Copa do Brasil. Vai se sentir campeão se o Corinthians conseguir conquistar o título?
Faz parte, para chegar você tem que passar por etapas. Quando eu ainda era técnico passamos pelo Vitória, depois o Osmar pela Chapecoense, e agora o Jair pelo Flamengo e chegando à decisão. Claro que fica aquele gostinho. Foram nove anos e meio dentro do clube, tenho amigos, funcionários que considero demais, boa parte dos jogadores trabalhou comigo. Então eu me considero sim.

Algumas entrevistas nos dão a impressão de que você saiu contrariado do Corinthians, insatisfeito com algumas coisas. Você sentiu necessidade de sair?
Fiquei nove anos e meio no Corinthians, há um desgaste natural. Eu estava muito estressado, até com a imprensa, não sendo o que eu sou. Então, quando apareceu, pelo Paulo Pitombeira (agente do técnico), a proposta, nós estudamos bastante. Houve vários detalhes que somaram para eu tomar essa decisão, como o sequestro da minha mãe. Aqui, estamos numa cidade de mais de quatro milhões de habitantes que há 11 anos não tem um homicídio. Tenho certeza que deixei as portas abertas para, talvez, um dia voltar a trabalhar lá. Mas foi melhor para mim e para o clube ter saído naquele momento, por várias situações.


Sua carreira é inusitada. Tem só um ano e meio como técnico principal, mas três títulos de grande proporção. Você é um novato ou já é um top do futebol brasileiro?
Ainda não tenho dimensão de tudo que aconteceu comigo. Eu tinha certeza que o trabalho não seria ruim, mas não imaginava títulos no primeiro ano, numa remontagem do Corinthians. Tive profissionais muito capacitados ao meu lado e uma linha de trabalho que teve sucesso. Mas sou um novato, pode ter certeza. Um ano e meio é muito pouco. Eu imaginava chegar a uma equipe grande trilhando um caminho como Tite, Luxemburgo, Felipão. Nessa profissão, você tem que buscar conhecimento todo dia. Quando parar, vai estacionar. Todo dia há uma inovação de trabalho e ideias para quebrar estratégias e não permitir que quebrem a sua.

É difícil planejar a longo prazo na sua carreira, mas qual próximo passo você pretende dar?
Não gosto de pensar muito na frente. Tenho contrato até junho de 2020, está tudo muito recente, mas sei que meu nome tem sido bem aceito no país. Eu gostaria de ir daqui para outro centro, talvez China, que está legal para jogar. Nos Emirados Árabes e Catar temos informações de que não é um futebol de intensidade. Aqui é, me surpreendeu como são brigados os treinos e jogos. Mas tenho dificuldade de responder porque gosto de pensar no amanhã, para que seja melhor do que hoje.


E esse bloqueio que há para técnicos brasileiros na Europa? Você não pensa em quebrar e abrir esse caminho?

"Bastante. Quero ser um dos primeiros, ou o primeiro, a fazer um grande trabalho em clubes europeus."
O Felipão fez um grande trabalho na seleção de Portugal. Há um problema com nossas licenças, a CBF está melhorando isso. Temos a informação de que se você for técnico de clubes de primeira divisão por cinco anos, em qualquer lugar do mundo, poderá trabalhar lá. É um sonho. Tive sondagens de Sevilla e Bordeaux, mas logo cortamos porque sabemos que nossas licenças agora não permitiriam.

Em três meses de trabalho no Al-Wehda, você mais ensinou ou mais aprendeu?
Mais aprendi. Fui muito surpreendido pela qualidade dos jogadores sauditas. É o que mostrou a seleção contra o Brasil: eles têm qualidade de passe, posse de bola, falta terminar melhor as jogadas. Estou aprendendo bastante. É um povo alegre que nos acolhe, um pouco carente e se abre com um pouquinho de atenção que recebe de nós.

A recepção no clube, as condições dadas, são o que você esperava?
Muito boas, com presidente e diretor muito próximos. É a equipe mais antiga da Arábia Saudita, mas há 20 anos começou a disputar a segunda divisão com frequência. Agora está montando uma estrutura para voltar a ser forte e competir com os grandes. É uma semente que está sendo plantada. Isso aqui tudo é novo, com três campos de treinamento. O clube é de Meca, mas pelo primeiro ano moramos e treinamos em Jedá. Se continuarmos com essa mentalidade, vamos brigar por títulos nos próximos anos.


Carille em treino no Corinthians

Como é dirigir um time de Meca, a cidade sagrada dos muçulmanos, tão estudada em livros de História, tão famosa, mas que parece tão distante?
Antes de aceitar a proposta eu conversei com muitos profissionais que trabalharam aqui, e falaram que viver em Meca era muito difícil. Por isso trouxeram toda a estrutura do clube para Jedá. Só vamos a Meca na véspera do jogo para treinar, para os jogadores terem um pouco de afinidade com a cidade, a torcida. Nosso primeiro jogo teve 15 mil torcedores.


E os costumes? São cuidados com roupas, não pode beber, há restrições às mulheres...
Não estou tendo dificuldade, sou muito caseiro, não sou de beber. Aqui conseguimos aproveitar melhor a família, já que treinamos à noite por causa do calor. As mulheres têm um cuidado maior por causa da vestimenta, mas o único que passou por algum constrangimento fui eu. Fui com mais três membros da comissão ao shopping de bermuda até os joelhos e não pudemos entrar. Só pode se você está com a família. Aqui a mulher não é obrigada a usar o véu, só a abaya. Já vieram sabendo sobre isso, estão vivendo muito bem. Meu filho de oito anos vai começar a estudar numa escola britânica essa semana.

Poder trazer sua família foi uma condição para aceitar a proposta?
Sim. Cada um tem uma história, tenho membros da comissão com filhos na faculdade, fica mais difícil. Minha filha fazia Nutrição em São Paulo e resolveu trancar. Achei que ela não viria, mas foi a primeira a falar que sim e está estudando, super feliz.

A vida em Jedá, além de maior tranquilidade, te permite outros privilégios que você não tinha no Brasil?
Estou me cuidando mais e aprendendo inglês. Tenho mais tempo, já que só treinamos à noite. Chego ao clube por volta de 15h e fico até 20h, 21h. O restante do tempo passo em casa, estudando, analisando jogos do Brasil e de outros países.

Aprender inglês faz parte de um projeto de carreira que visa a Europa?
Faz parte. Já passou do tempo de aprender, mas com a correria do Corinthians eu não conseguia. Faz parte de um projeto porque se essa porta se abrir, quero chegar bem preparado.

Você citou o estresse com a imprensa no Brasil. Aqui você dá menos entrevistas?
Em três meses foram cinco coletivas, depois dos jogos. E umas três entrevistas longas para redes de televisões. A coletiva consome bastante e fazíamos quatro por semana no Brasil. Quando eu voltar serão no máximo duas, senão estremece a relação. Não há necessidade de falar quatro dias por semana. Acaba sendo repetitivo, não tem assunto e acabam criando. Eu vou falar menos para que haja menos desgaste.


Intimida sentar-se numa cadeira com aquele monte de jornalistas à sua frente?
Quando o Corinthians me oficializou como técnico, essa foi minha grande preocupação. Em toda profissão há maldosos. Intimida demais e você tem que ir muito preparado, eu sentava depois dos treinos e começava a me concentrar. Mas com o tempo você aprende quem é quem, e isso me ajudou bastante.

Ser técnico do Corinthians tinha alguns ônus, como essa pressão que você citou, mas, por outro lado, você se tornou ídolo de milhões de pessoas. Aqui é tudo diferente, isso não te faz falta? Sua vaidade não precisa desse carinho?
Ainda não senti isso, mas já não consigo andar na cidade. No shopping, as pessoas encostam para tirar fotos, querem ficar próximos, abraçar. E aqui elas têm o costume de te beijar a cabeça. Não sei se é para dar luz, se é por que você é inteligente (risos). Enfim, estamos nesse processo de conhecimento.

No Corinthians você herdou um processo bem construído, do qual você fez parte da construção. Aqui está começando quase do zero. Qual o tamanho do desafio?
Fazer todos entenderem uma linha de trabalho. Não só a forma de jogar, mas rotina, por exemplo, de médicos e fisioterapeutas nos relatarem tudo que acontece no departamento. Antes, cada um fazia a sua. Agora centralizamos tudo. Não temos uma academia, estamos conversando para criar nesse espaço. Precisamos melhorar muito o conjunto porque chegaram 20 jogadores, cada um de um lugar. Mas o bom é que em cinco jogos temos três empates e duas vitórias. É um campeonato muito nivelado, todos os clubes contrataram bons estrangeiros, está bem legal de jogar.

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Campeonatos Brasileiros, Libertadores e Mundiais te representam muito mais. Fabio Carille... vc é muito maior que uma Copa do Brasil. E o Corinthians tbm deveria ser.

Rodrigo Cezar     

Tá querendo aparecer em cima do Coringão esse maluco... sua fase já foi.. seja feliz onde estiver, mas não venha com conversa móle...

joão paulo     

FAZEMOS DESBLOQUEIO DOS CANAIS PREMIERE TELECINE HBO COMBATE E CANAIS ADULTOS PARA ASSINANTES DE TV POR ASSINATURA DE QUALQUER LUGAR DO BRASIL E TAMBÉM REDUZIMOS O VALOR DA FATURA SÓ PAGA DEPOIS QUE O SERVIÇO FOR FEITO WHATSAP 11967223267

Henrique Soares     

Nao pois não esteve presente nos ultimos jogos

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