4/2/2018 10:39

Como pai e filho: juntos, Mauri e Cássio atingem nova marca no Corinthians

Goleiro e preparador chegam a 326 jogos juntos. Com sete títulos, lembram da crise de 2016

Como pai e filho: juntos, Mauri e Cássio atingem nova marca no Corinthians
O jogo diante do Novorizontino, domingo, às 19h30 (de Brasília), colocará Cássio um degrau acima na história do Corinthians.



Com 326 jogos, o camisa 12 se igualará a Cabeção como o terceiro goleiro com mais jogos pelo clube. Gilmar, com 395, e Ronaldo, com 602, ainda aparecem acima no ranking da posição.

A marca, embora seja individual, coroa um trabalho coletivo. Preparador de goleiros do Corinthians há dez anos, Mauri Lima acompanha Cássio desde 2012.

No período, viveram muitos momentos bons, mas também um de crise. Aconteceu em 2016, quando o goleiro foi sacado do time titular por Tite e desabafou publicamente contra a decisão de Mauri.

Como numa relação de pai e filho, a bronca foi absorvida tempos depois e a confiança, assim, foi retomada:

– No final de 2016 tivemos uma conversa que achei que foi importante demais. Falei para ele: “Nós perdemos um ano”. Foi um ano perdido – relata Mauri, sobre o ponto de mudança.<;B>

Para Cássio, o episódio foi importante para o seu amadurecimento.

– Às vezes a gente não se dá conta de que vem errando. (...) Comecei a olhar para trás, vi o que tinha construído e não era possível que eu ia jogar tudo fora.

Após uma conversa muito franca de 20 minutos com os dois, o GloboEsporte.com mostra como aconteceu a retomada da parceria que, para o Corinthians, já rendeu sete títulos.

Mauri Lima e Cássio em treinamento no Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)

Confira a entrevista:

Globo.Esporte.com: Como é trabalhar com um goleiro que vem quebrando marcas no Corinthians?

Mauri: É de fundamental importância ter um profissional há tanto tempo no clube e que vai permanecer por tantos mais (renovou até o fim de 2021). Não é só quebrar marcas, é ficar marcado pelos títulos e pelo desempenho desde que chegou. Espero que ele chegue à marca de goleiro com o maior número de jogos pelo clube. Ele vai chegar. O maior goleiro da história do clube já é ele. Torcemos para que Deus dê saúde para que ele possa quebrar essa marca.

Você sempre fala de Ronaldo com muito respeito. É realmente uma meta superar essa marca dele (602 jogos)? E o que faz de um goleiro ser histórico?

Cássio: A história do Ronaldo é muito bonita e serve como referência. Não é por dizer que quero bater a marca dele que quero tirar os méritos. É uma ambição, somos movidos a desafios. No final das contas, vamos nos tornar ídolos ou ficar marcados só no fim da carreira. Não me apego muito. Sei quantos títulos nós ganhamos, mas a gente sempre almeja mais. Não posso me acomodar porque já fui campeão da Libertadores e do Mundial. Tenho que sempre evoluir. Falamos de Ronaldo no Corinthians, mas pode pegar também a história do Marcos no Palmeiras e do Rogério Ceni no São Paulo. São grandes goleiros com grandes títulos e histórias bonitas. Espero ter a minha.

Você falou em não se acomodar. O quanto Mauri te ajuda nesse desafio diário?

Cássio: Muito. Mauri desde que cheguei trabalha da mesma maneira, é minha sétima temporada. A gente conversa muito e uma das metas é fazer um ano melhor, o que exige muito trabalho e dedicação. Muitas vezes a gente está cansado de viagem, mas vai para o campo. Mauri me puxa, a gente se cobra, somos francos um com o outro. Depois que fui para o banco (em 2016) e voltei, ele foi de suma importância para meu crescimento como atleta e pessoa, para realçar minhas ambições. É importante ter um grande treinador de goleiros para crescer. Um treinador que te prepara bem faz a diferença na hora de pegar aquela bola no final do jogo ou que decide um título.

Cássio voltou ao alto nível em 2017 após uma temporada difícil (Foto: Daniel Augusto Jr / Agência Corinthians)

E qual o desafio de manter um goleiro em alto nível por tanto tempo?

Mauri: É não olhar para trás. Cada dia é um desafio novo, cada fim de campeonato é um desafio. Você tem que ter sua missão profissional. Cássio foi lembrado na seleção brasileira, é o ápice de qualquer profissional, e foi por mérito, por se empenhar da melhor forma em 2017, na hora que precisou ele estava ali. Hoje, para chegar na seleção não é só futebol, temos um treinador (Tite) que traz para si o lado do ser humano. Não desrespeitando os demais goleiros lembrados, mas esperamos que Cássio tenha essa oportunidade (de jogar a Copa). Para ter isso, é trabalho. Ele é uma referência para os outros goleiros. Teve um crescimento extracampo com os cuidados que hoje tem. Nesses dois anos, a forma física como chegou para a pré-temporada foi fundamental.

De 2012 para cá, qual foi a maior evolução do Cássio?

Mauri: Pelo o que a gente conversa, e ele pode até confirmar, Cássio estava há muito tempo sem jogar na Holanda, estava só treinando, né Cassião?

Cássio: Passeando... (risos)

Mauri: No início foi uma dificuldade. Chegou acima do peso e foi crescendo em relação aos demais quando chegou ao peso normal. A gente foi administrando. Era complicada a situação, tinha outros goleiros. Lembro que às vezes a gente conversava na sala e ele dizia: “Poxa, o homem (Tite) não dá moral, nem olha para mim”. Eu pedia calma. E comecei a brigar por isso, pelo merecimento dele. Quando não era convocado para um jogo, a gente trabalhava de manhã, ele ficava chateado, puto. Falei: “Tite, vamos começar a levar para o banco, por favor, vamos colocar para jogar uma no Paulistão”. Ele jogou contra o XV de Piracicaba. Eu dizia: “Calma, Gigante, vai chegar a hora”. Foi numa insistência. Às vezes o Tite levava para o banco e depois ficava uns dois ou três jogos sem levar, e eu pedia de novo.

De tanto insistir, Tite começou a acreditar. Uma hora, atletas e parte da comissão também perceberam: “Cássio está voando”. Por isso, não titubeamos depois do problema que tivemos no jogo contra a Ponte Preta (no Paulistão, quando Julio Cesar falhou) de colocá-lo contra o Emelec (na Libertadores). Tite me chamou, disse que estava preocupado, perguntou o que fazer e eu falei: “Coloca o Cássio”. No outro dia, ele decidiu por isso. Quando fomos para Equador, sabíamos que seria muita bola na área e ele se destacou. Aquele jogo foi o ponto fundamental para ele.

Valeu a pena ter paciência, né Cássio?

Cássio: Valeu! É difícil para um jogador ter paciência. No meu caso, era um pouco pelo tempo que fiquei na Holanda, para mim foi muito frustrante. Saí do Grêmio com um projeto e me dediquei, mas não joguei tanto. O treinador que me pediu (no PSV Eindhoven) saiu e não tive chance. Quando cheguei no Corinthians, comecei a treinar, mas não ia para os jogos. Eu tinha 24 anos. Você fica: “Será que fiz a escolha certa? Será que vou ser jogador mesmo?”. Mas nunca deixei de trabalhar. Julio Cesar merece só elogios. Depois, quando assumi, ele e Danilo Fernandes foram sensacionais comigo. Mas era assim, goleiro é só um que joga. Quando apareceu a chance, eu estava preparado.

O ano de 2016 foi difícil para você, que saiu do time e deu aquela entrevista que gerou um embaraço com Mauri. Como foi o processo de retomada de confiança de vocês?

Cássio: Fui muito infeliz e me desculpei com o Mauri depois da entrevista. É o serviço de vocês da imprensa pegar o cara de cabeça quente (risos), irritado...Mas eu entendo. Fui na empolgação, estava frustrado, era recente o que aconteceu. A gente conversou bastante, teve um dia que sentamos numa sala, conversamos e projetamos pontos que eu tinha que evoluir. Acho que dali foram só coisas positivas para mim. Mesmo quando tivemos o problema, Mauri sempre foi muito profissional e me treinou da mesma maneira. Foi um momento difícil, mas que eu tinha que passar e aprender com aquilo. A partir das escolhas que fiz, hoje colho os frutos. Às vezes a gente não se dá conta de que vem errando. Foi o que Mauri me falou naquele momento. A gente pensa: “Ele está de sacanagem comigo”. Mas uma hora vi que ele estava certo, que eu tinha que escutar, que eu tinha que melhorar e foi o que aconteceu.

Comecei a olhar para trás, vi o que tinha construído e não era possível que eu ia jogar tudo fora. Acho que foi o momento que o Walter vinha muito bem e, não desrespeitando o trabalho dele, que é um profissional de excelência, mas eu dei chance de ele pegar minha posição, eu dei a oportunidade, eu não me preparei bem. Levo tudo isso como um aprendizado, graças a Deus que aconteceu, percebi que eu estava mal e que tinha que rever o que eu estava fazendo com minha carreira e com minha vida pessoal. Consegui dar a volta por cima. A gente vê muitos jogadores que passam pela mesma coisa e depois não conseguem dar a volta. E de uma carreira legal, ela só afunda. Foi uma conversa franca, "vamos retomar" e a gente se ajudou. Consegui com ajuda do Mauri e da minha família. Ficou para trás, acho que a gente voltou mais forte do que era.

Queria te ouvir também sobre isso. Foi uma coisa de pai e filho, em que o filho só entende a bronca depois?

Mauri: Tite tinha conversado comigo em 2016: “Temos de fazer alguma coisa, senão a gente vai perder o profissional e a carreira”. Conversamos, mas às vezes o atleta não escuta porque é como ele falou, ele pensa: “Está de sacanagem comigo”. Mas não é. A gente sabe o que ele pode dar, o que pode render e naquele momento não estava sendo assim. Eu também errei, podia ter falado alguma coisa diferente, agido de outra forma. No final de 2016 tivemos uma conversa que achei que foi importante demais. Falei para ele: “Nós perdemos um ano”. Foi um ano perdido.

No início de 2017, quando sentamos no campinho dos goleiros, olhamos o passado e falamos: “O presente tem de ser assim. Vamos voltar porque você pode chegar onde sempre sonhou”. Buscar títulos e chegar à Seleção. Ele acreditou nele e chegamos onde queríamos. Aquele início de 2017 foi importante. E ele passou a falar: “Não me deixa cair. Se tiver de cobrar, me cobra”. É uma sintonia. Aquilo foi importante para mim como experiência, para ver que cada um tem seu temperamento, ajudou no meu crescimento profissional, para saber tratar às vezes de uma forma diferente. E não ficou uma mágoa. Se você guarda mágoa no coração, você não rende.


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